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28/05/2021 às 11h32min - Atualizada em 28/05/2021 às 11h06min

​A literatura brasileira está cheia de Carolina

Ultrapassando as barreiras do preconceito, o livro Carolinas revela a força da mulher preta na literatura brasileira, inspirada na vida e obra de Carolina Maria de Jesus

Sheyla Ferraz - Editado por Brenda Freire
Reprodução/ Site Santa Tereza
O legado deixado pela escritora, poetisa, compositora e catadora Carolina Maria de Jesus, resultou na publicação da obra Carolinas: A Nova Geração de Escritoras Negras Brasileiras, em abril deste ano (2021). O organizador da publicação foi Júlio Ludemir, escritor, roteirista, produtor cultural e cofundador da Festa Literária das Periferias (FLUP).

O livro foi escrito por 180 mulheres negras, que se debruçaram na escrita partilhando suas histórias, seus labores e entraves sociais, em formas de conto, crônicas, diários e autobiografias. A habilidade valorosa dessas mulheres com a escrita é algo realmente fascinante.

Quem foi a primeira de muitas Carolinas
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento, em Minas Gerais, no ano de 1914. Mãe solteira, ela criou três filhos. Mudou-se para São Paulo e morou em Canindé, favela da Zona Norte da cidade.

Para manter a casa, Carolina catava papéis para reciclagem e chegou a trabalhar também como empregada doméstica na casa do médico Dr° Euryclides de Jesus Zerbini. Nos horários livres, ela se inebriava na biblioteca. Era oportunidade de alimentar sua paixão pela literatura, já que sua realidade de vida não dava a ela a condição de abrigar tantos autores como da forma que ela encontrava no acervo de livros de seu patrão.

Quando engravidou do seu primeiro filho, não pôde mais continuar trabalhando na casa e, portanto, foi catar papéis.  Era uma mulher forte, batalhadora, mãe presente e dedicada, ensinou todos eles a tocarem violão. Desde criança Carolina foi muito curiosa, inicialmente não gostava de ir à escola, mas depois tomou gosto pela rotina e estudou até o segundo ano do ensino fundamental.
Carolina Maria de Jesus foi a primeira mulher negra a alcançar sucesso internacional, por meio da literatura.  

Sobre sua primeira obra
Ela escrevia seu dia-a-dia como em um diário. O hábito de registrar sua vivência na favela deu a ela a rica oportunidade de publicar seu primeiro livro. Em 1858, sua vida estava prestes a mudar completamente. O jornalista Adálio Dantas foi até a favela para fazer uma matéria sobre o local, chegando lá, conheceu Carolina e se deparou com sua história e com sua coleção de livros e relatos diários do seu cotidiano em Canindé.

Seu faro jornalístico foi certeiro, logo, Adálio agarrou com força aquela porta aberta enxergando longe o tesouro guardado na bagagem de vida de Carolina. Então, em 1960, é publicado seu primeiro livro, chamado – Quarto de Despejo: diário de uma favelada.  O exemplar foi um divisor de águas em sua carreira e em quatro dias 10 mil cópias já haviam sido vendidas e 100 mil em um ano. O livro tornou-se um best-seller da literatura nacional, e em 2020 completou 60 anos.

Ela escreveu também: Casa de alvenaria (1961), Pedaços de fome (1963) e neste mesmo ano publicou Provérbios. Sua escrita atravessou fronteiras: a autora teve repercussão internacional e suas obras foram traduzidas em 14 línguas. Escritores de renome como Clarice Lispector, apreciavam e admiravam o talento de Carolina.

Infelizmente, ela enfrentou dificuldades para administrar o sucesso financeiro que sua primeira publicação trouxe para sua vida, e retornou ao trabalho como catadora. Findou seus últimos dias de vida em Parelheiros e faleceu em 1977.

Legado deixado pela escritora
A jornada de vida de Carolina Maria de Jesus gerou muitas outras que assim como ela, podem transformar a superação e garra, em riquíssima literatura. O livro Carolinas enaltece a valorização da escrita da mulher preta, no embalo de um processo persistente em combate ao preconceito racial no Brasil, a literatura acolhe essas histórias e potencializa sua inserção no mercado editorial. É uma quebra de paradigmas, de preconceitos, de crenças limitantes para a própria mulher negra e significado de avanço e conquista. Histórias que fazem história, vidas negras que tocam outras vidas.
 
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