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01/07/2021 às 16h59min - Atualizada em 01/07/2021 às 16h47min

Crônica - O quê sobrou do Brasil?

O Brasil se encontra com mais de 500 mil mortes e a principal dúvida: ainda restou algo do país?

Karina Santos - Editado por Talyta Brito
Reprodução: CartaCapital
Era uma manhã de segunda-feira comum como qualquer outra no bairro da Saúde, em São Paulo. As pessoas se arrumavam para trabalhar; os carros passavam na rua como se estivessem super atrasados e as lojas se preparavam para abrir.  A padaria de Seu Antônio era a primeira da rua a levantar ás portas e assim que abria, estavam lá elas duas; Antonieta e Geralda:
- Bom dia, Seu Antônio! – exclamava Geralda com ânimo
- Bom dia, tio Antônio! Eu vou quer três pães de quei....
- Antonieta! Não seja mal educada, minha filha! Espere ele te dar bom dia e perguntar o que você quer!
- Não se preocupe, Geralda! Crianças são uma benção! Podem se sentar, vou anotar o pedido de vocês!
Enquanto faziam o pedido, Antônio aproveitou para ligar a televisão e ver o noticiário. No jornal, passava a informação de que um vírus vindo da China, havia acabado de registrar seu primeiro caso o Brasil.
- Geralda, você viu esse vírus? Que absurdo! Uma invenção chinesa e agora veio parar no Brasil! Incrível como a China faz de tudo pra dominar o mundo!
- Sei não, hein Antônio?! Dizem que se caso se espalhar, vamos viver igual os chineses, com máscara, distanciamento social e tudo
- Eu lá vou usar máscara! Isso tudo é uma invenção da China, eu não pego coronavírus
- De qualquer modo, se cuide, é perigoso e ainda não há cura. Não quero levar minha filha na escola e não passar aqui porque o senhor não se cuidou.
A conversa ecoava pelo salão da padaria. O vírus que Antônio se referia era extremamente perigoso, mas seu lado político era ainda mais. Colocava em risco toda a vida dele e de sua família. Para ele, estava tudo normal e de acordo, nada fora dos limites. Tinha o abraço da neta garantido; sempre com o comércio cheio; seus filhos saudáveis e sua família por perto... Antônio nem imaginava o que viria pela frente.

Meses depois
 
- Mamãe, minha máscara está caindo!
- Vem aqui, deixa eu ajeitar.
- Mamãe, e se e não usar?
- Se você não usar, terá que ir para o hospital.
O vírus havia se espalhado pelo mundo inteiro. A população foi obrigada a ficar de quarentena em casa por meses. Não havia mais abraços, nem beijos, nem festas. Todos estavam distantes de suas famílias. O único contato que havia, era através da tela de um computador ou celular. Transtornos mentais foram ganhando espaço. Havia caos na política, na saúde, na educação, financeiramente e em todo o país. O pânico dominava uma parte da população. As duas caminhavam em direção á padaria. Dessa vez, Geralda carregava seu notebook para trabalhar lá porque estava de Home Office, não precisaria mais se deslocar até a empresa. Antonieta ia para a escola por escala, dia sim e dia não. Esse era um dos dias que ela iria, mas um detalhe mudou sua rotina. Ao chegarem onde iriam tomar café, se depararam com um bilhete na porta:

“ESTAMOS FECHADOS POR MOTIVO DE LUTO”
 
Seu Antônio ficou internado por 1 semana e morreu por COVID-19. Geralda não sabia  o que fazer. Certamente suas manhãs não seriam mais as mesmas. Antes tinha a esperança que seu velho amigo iria ficar bem, mas e agora? Como lidar com a perda? A família de Seu Antônio até tentou reabrir a padaria tempos depois, mas não conseguiram. Declararam falência.
O Brasil tem mais de 500 mil mortes e as perguntas que ficam na mente do brasileiro são: O quê sobrou do Brasil? A esperança de que tudo vai ficar bem ou a conformidade das mortes? A cada dia que se passa a nação vem quebrando recordes de infectados e mais pessoas vem negligenciando o uso de máscaras e distanciamento social. Será que todas essas mortes não foram o suficiente? Não resta mais nada no Brasil, a pandemia levou com si, a alegria e o orgulho de pertencer á nação.

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