Godzilla Ponto Singular é a nova aposta da Toho Company, Bones e Orange em associação com a Netflix para a próxima fase do lagarto mais famoso do mundo. Contando com 13 episódios, o anime desenrola a história de pessoas tentando descobrir o segredo por trás dos kaijus e da poeira vermelha que liberam por onde passam e são atraídos por uma música indiana. Os personagens Yun Arikawa, Haberu Kato e Mei Kamino, com a ajuda da IA Pelops II, se veem no centro desses mistérios e junto com o robô Jet Jaguar, tentam salvar o mundo da Catástrofe. Porém, diferente do que o nome indica, Godzilla não é um personagem recorrente e muito menos tão impactante quanto deveria ser.
Cercado de lógicas físicas e metafísicas, Ponto Singular se complica nessa primeira temporada, tentando dar mais complexidade do que poderia e confundindo qualquer um que ouse tentar entender todo o mistério que cerca a poeira vermelha e os arquétipos, material que não deveria existir em nosso mundo, segundo a série. Isso, entretanto, não tira o brilho dos personagens, que mostram sua inteligência e adaptabilidade constantemente durante a série. Mei e Yun sequer se conhecem pessoalmente, mas resolvem todos os mistérios através de mensagens e muita, muita ciência do campo das ideias, viagens no tempo através de super computadores e conceitos abstratos.
A trama também reinventa diversos kaijus clássicos da mitologia do Godzilla, como Rodan, Manda e o Anguirus além de fazer alguns acenos a outros personagens, como o já citado Jet Jaguar e seu criador Goro Otaki e esse talvez seja o ponto mais singular da série. Todo o resto é uma viagem com uma ameaça incompleta dos kaijus. É dito na série que o Godzilla traria a destruição do universo, mas mal destrói a cidade de Tóquio sem ser derrotado pelo conceito da existência.
A Toho Company é a mesma produtora do primeiro filme do Godzilla em 1954 e se espera um entendimento muito mais profundo da série que criou, mas esse passo dado com Ponto Singular parece ter sido maior que a perna e a ambição prejudicou a imersão na história. Godzilla não é uma ameaça concreta, mas sim a poeira vermelha e ele apenas um vetor. Os diálogos são super extensos e cheios de terminologias complicadas e fictícias que os personagens não importam em se explicar a não ser que sejam com palavras ainda mais difíceis. É inteligente demais para seu próprio mal.
Talvez o ponto mais baixo do anime seja a falta de Godzilla e o excesso de humanos. Vários filmes do Godzilla tomaram essa mesma abordagem no Ocidente e acabaram por não ser tão interessantes quanto filmes japoneses que focavam nos monstros gigantes, como Godzilla Ressurgence em 2016. E Ponto Singular sofre do mesmo mal, tornando a criatura que dá nome ao anime um mero coadjuvante que aparece vez ou outra no meio de uma nuvem de poeira vermelha. Porém, dando a César o que é de César, essa encarnação do Godzilla possui um dos Sopros Atômicos mais bonitos, parecendo até um pouco místico.
A animação é um dos pontos fortes da série. O estúdio de animação fez um excelente trabalho em animar os kaijus numa mistura natural de animação 3D com 2D.
Por fim, Godzilla Ponto Singular poderia ser um magnânimo passo nessa incrível e rica mitologia, porém falha ao ignorar seu potencial e substituir uma boa destruição de cidades por uma mera ameaça de destruição. O anime requer muita abstração e mesmo assim, sempre parece que o espectador perdeu um pedaço do episódio ou um inteiro. Resta apenas esperar a segunda temporada, que indica a participação do Mecha Godzilla após uma curta cena pós-créditos para ver como essa história irá prosseguir.
