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02/07/2021 às 22h39min - Atualizada em 02/07/2021 às 21h34min

Além da notícia!

Livros-reportagem vão além do lead e aprofundam os fatos

Evellyn Torres - Editado por Talyta Brito
Reprodução/ Freepik

O jornalismo vai muito além de notícias no dia a dia. São reportagens, crônicas, perfis, charges, entrevistas ou artigos, citando apenas alguns que compõem a esfera. Uma nota no jornal sobre um atropelamento, uma chamada sobre um alagamento em São Paulo, ou até um concerto musical podem ser portadores de grandes histórias que nos levam a refletir.

 

Assim, os livros - reportagens aliado ao Jornalismo Literário, levantam debates importantes, como o livro “Todo dia a mesma noite” da escritora e jornalista, Daniela Arbex, publicado em 2018. A obra aborda os acontecimentos que levaram ao incêndio da boate Kiss, em 2013, e  narra os passos das vítimas, bombeiros, médicos e familiares em Santa Maria - RS. Daniela resgata a memória das vítimas e revela a impunidade dos responsáveis pela vida de 242 pessoas que foram perdidas. 
 

Christian Carvalho Cruz também vai além da notícia, do Jaçanã, São Paulo, nasceu em 1974. Sendo jornalista já trabalhou em algumas das principais redações do país, como o jornal da Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo. Assim como inúmeras revistas, atualmente escreve para o Tab Uol.

Em 2011, lançou pela editora Arquipélago Editorial, o livro “Entretanto, foi assim que aconteceu: Quando a notícia é só o começo de uma boa história”. Com 185 páginas, é uma coletânea de 23 reportagens que foram publicadas no caderno Aliás do Estadão. O semanal se propunha a trazer um resumo analítico e reflexivo dos principais temas da semana, na última página, uma grande reportagem ou perfil. 

Christian trabalhou de 2009 até 2016 no Estadão, os textos que publicou para o Aliás e que formam o livro possuem uma grande apuração, a busca de histórias e a escrita narrativa necessária para melhor expressá-la. 

Com autoralidade e liberdade, as matérias eram produzidas. Sobre o processo, ele afirma "Às vezes, pescava no próprio jornal, notinhas, coisas que passavam, eram notícias quase desprezadas”. Como o caso de um menino que pegava latinhas e que foi atropelado na faixa de pedestre de madrugada, por um motorista de carro de luxo que não prestou socorro. 

O jornalista ia atrás dos familiares da vítima, da família do atropelador e das histórias que não ganhavam destaque, ele conta “Num jornal, não dava muito espaço, chama de carne de vaca, assim, né? Mais um atropelamento. E, pra mim, não era mais um atropelamento. Tinha um caso de desumanidade ali. Então, as publicações tem um pouco disso, de tudo que me chocava no próprio noticiário que eu achava que poderia ser contada de uma forma diferente.”

Quando apura e escreve, as histórias e falas permanecem por muito tempo. Ele questiona a frase de que todo jornalista precisa ser imparcial e afirma que os melhores jornalistas são os mais humanos. “Se você é um ser humano, é impossível não se comover com as coisas, não ter empatia por quem está sofrendo, não ter compaixão, não se revoltar ”, completa. 

Tendo isso em mente, em 2020 - já cansado do jornalismo diário e das rotinas de redação - criou o projeto Trombadas. A princípio, surgiu ao acaso, sem destino ou intenções.

Nasceu primeiro como fotografia. Indo para o centro de São Paulo uma vez na semana para fotografar o espaço, se deparou com um senhor na rua da Glória, na entrada do prédio. Foi o interesse em fazer um retrato pela primeira vez que possibilitou conhecer Edvaldo, um senhor meio careca com bigodes e sua história de vida.

Assim, limitado pela fotografia, viu na escrita a oportunidade de, em primeira pessoa, sem pretensões ou julgamentos, apenas ouvir e escrever sobre. Para ele, o Trombadas não é uma biografia, é um retrato e um exercício narrativo.

Ele conta “É o retrato daquele dia, como a pessoa está, é o rosto da pessoa naquele dia, que pode estar aflito, feliz ou alegre. Então, por isso que eu não tenho pretensão, eu não quero esmiuçar uma pessoa, nada, eu só quero o que ela tem pra me dizer.”

Sem objetivos, além de oferecer os ouvidos para as fontes, os primeiros textos eram publicados no Medium, blog pessoal do jornalista, mas foram notados por editores que pretendiam lançar uma revista mensal semelhante à antiga Realidade, após alguns meses de apuração e criação, a nova revista foi cancelada no final do ano. 

Com todo o material disponível, entrou em contato com o Tab Uol, que foi aceito e é atualizado quinzenalmente. O primeiro texto “A ‘minhamãe’ de Severino", foi publicado em fevereiro. O Trombadas já reúne dez histórias de pessoas anônimas que por meio da escrita de Christian, compartilham suas vidas, pensamentos, anseios e opiniões. 

Por meio das Trombadas, é possível conhecer a história de Viviane, estudante de odontologia em uma faculdade particular como bolsista, que segue sem desistir dos sonhos e direitos; Também é a de Severino que durante o trajeto de uma hora e quatro minutos para o trabalho, pensa na saudade que tem da mãe em Recife; Ou até mesmo a de Arnold, que perdeu a família todo em um terremoto no Haiti quando pequeno e que veio para o Brasil, enfrentando o racismo e as dificuldades diariamente.


 


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