Uma coisa é certa: com o desenvolvimento evidente das tecnologias de comunicação e entretenimento, o espectador possui um leque de escolhas do que quer assistir e por qual plataforma.
Essa revolução traz consequências para a forma como são produzidos novos conteúdos de sucesso, pois existe a necessidade de transitar por diferentes mídias para atrair um público maior e continuar sendo um sucesso, seja nas bilheterias, nas plataformas de streaming, nos quadrinhos ou games.
Acontece que, hoje em dia, o formato do público mudou bastante. Um primeiro passo para entender isso é dizer que nos envolvemos emocionamlmente muito mais com os personagens do que antes - podendo ser protagonistas, anti-heróis, vilões ou coadjuvantes.
Isso nos faz querer saber ainda mais sobre eles, e nos tornamos pacientes sobre isso. Nós recebemos diversas horas de conteúdo sobre exatamente o que queremos assistir, realizamos essa atividade sem nenhum esforço, e ainda queremos mais disso.
E isso traz uma vantagem para a criação do conteúdo, pois é deixado de lado a mídia original em que a obra foi criada, aproveita-se os mesmos personagens e sua personalidade, mas os colocamos em situações diversas, mostrando uma ambientação nova, por exemplo. “Loki” e “Wandavision” são obras que retratam bem essa situação.
Esse tipo de narrativa vai além de uma adaptação de uma plataforma para outra - como um livro virando filme. A diferença principal é a necessidade de recorrer a vários meios para contar uma mesma história, podendo ser um filme, que passa por uma série e finda em quadrinhos.
O gigante de fãs - e de tamanho e desdobramentos de narrativa-, “Star Wars”, é um exemplo de franquia que utiliza muito bem essa conformação. A criação do cineasta George Lucas se deu em 1977 e culminou na criação de diversos produtos.
Além dos famosos filmes, a franquia faz uso de séries em formato spin-off - como “The Mandalorian” - e histórias animadas para que o público entenda todos os nuances da narrativa - é o que ocorre em “A Guerra dos Clones” - , com direito a se aprofundar bastante em personagens ou eventos que são passados com mais superficialidade em um filme, por exemplo.
Mas não para por aí. O universo de Star Wars ganhou uma história que se passa antes dos filmes, e sua forma chega a ser para um público específico: os gamers. Isso porque eles deram vida a essa narrativa por meio de um RPG para PC e Xbox - “Knights of the Old Republic” - responsável por nos mostrar como a velha república e o começo da nova ordem Jedi ocorreu. Além disso, os livros de Star Wars foram responsáveis por descrever as galáxias da mitologia, o que acabou sendo incorporado posteriormente.
O termo foi cunhado, de fato, em 2009, por Henry Jenkins:
“Uma história transmídia desenrola-se por meio de múltiplas plataformas de mídia, com cada novo texto contribuindo de maneira distinta e valiosa para o todo. Na forma ideal de narrativa transmídia, cada meio faz o que faz de melhor — a fim de que uma história possa ser introduzida num filme, expandida pela televisão, romances e quadrinhos; seu universo possa ser explorado em games ou experimentado como atração de um parque de diversões".
A chave para o sucesso é planejar direito a mídia para qual ocorrerá a nova narração, qual público se quer alcançar e como tudo isso pode ser feito da melhor forma, pois precisa haver coerência entre todas as narrativas presentes dentro de uma mesma história.
Suas principais funções podem ser:
- desviar o foco narrativo;
- caracterizar melhor os personagens;
- descrever ou narrar eventos que precisam ser melhor explicados, extrapolando o tempo reservado a ele em uma única obra;
- unir e/ou relacionar dois filmes de uma mesma saga cuja relação é tênue.
E a Marvel nessa história?
A utilização da narrativa transmídia pela Marvel é uma das mais bem planejadas da atualidade. Fazendo uso de quadrinhos, animações, séries e muitos filmes, a chamada Saga do Infinito ou Jornada do Infinito se tornou fenômeno da cultura pop, alcançando milhões de pessoas - e de lucro: só de filmes, a Jornada do Infinito possui 32 obras, sem contar com as histórias que se desmembraram da narrativa principal.
A sacada de mestre da Marvel, e agora da Disney - que possui os direitos da companhia - foi unir tudo de um jeito que o público antigo da empresa - que se fundou em 1939 - e o público jovem andem em conjunto, usufruam dos mesmos conteúdos, coesxistam sem perder o interesse e aumente ainda mais.
É importante ressaltar que as obras possuem existência própria, não precisando ser um acompanhante assíduo para entender tudo. Isso quer dizer que as obras se complementam, de forma que podemos entender o todo - como a jornada de “Vingadores: Guerra Infinita” e "Vingadores: Ultimato” - sem precisar, necessariamente, ter assistido a origem de certos heróis.