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09/07/2021 às 09h45min - Atualizada em 09/07/2021 às 09h29min

Excesso de moralidade, carência de saúde pública e a mortalidade materna

Uma a cada 300 mulheres sofrem complicações pós-aborto

Vitoria Fontes - Editado por Andrieli Torres
Foto: Reprodução/Fernando Frazão/Agência Brasil
Abortos são reais, acontecem. Acontecem independente do poder aquisitivo de cada indivíduo. Abortos continuam sendo colocados em uma prateleira moralizada, sabe por quê? Porque a sociedade, o Estado e o sistema de saúde recriminam a prática a partir de um adendo: desde que seja uma realidade da população marginalizada, população essa que é violentada por um ato que quando cometido pelo outro lado da moeda, logo, são abraçados, acolhidos.

O aborto é uma questão que desde muito tempo vêm sendo camuflada, confundida com princípios éticos, étnicos e essa desigualdade é culpada por a cada dois dias uma mulher morrer vítima de procedimentos ilegais, resultando em 700 mil abortos clandestinos, um desfecho mortal e para além disso social.

O aborto existe, as meninas ricas fazem nas clínicas e as pobres em qualquer lugar.

A ilegalidade não coíbe a prática e perpetua a iniquidade socioeconômica em que é realizado.

Procedimento é crime, existe pena para tal, mas não limita a ação feita por mulheres que recebem ou não o devido apoio.

De um lado clínicas ginecológicas, médicos especialistas, conforto e segurança são aspectos que estruturam o processo; por outro, banheiros e quintais improvisados, instrumentos assemelhados com aqueles usados em cenas de torturas, humilhação através do serviço de saúde, excesso de abandono, carência de apoio, auxílio emocional, encaminhamento psicológico e colo são referências pavorosas de uma realidade cheia de sequelas.

O Código Penal de 1940 aprovou a realização do aborto quando precedido de estupro, resultando em risco fatal para a materna ou ameaça à saúde física emocional do bebê.

Leis restritivas ao aborto não foram capazes de evitar a morte de Carol, Elizangela, Maria, Francisca e outras mulheres. Leis restritivas não foram capazes de fazer com que mulheres não se tornassem parte das estatísticas
 que comprovam a morte de uma a cada 300 mulheres que sofrem complicações pós-aborto.

Direito à vida? De quem? da classe média/alta que desembolsa entre dois e oito mil reais para abortar, por que para a mulher pobre o direito é outro, direito em ser julgada, humilhada, violentada.

O dia que o aborto deixar de ser uma questão moral, espero que mulheres deixem aumentar as estatísticas e deixemos de carregar o triunfo de 4º país do ranking de mortalidade materna.

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