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10/07/2021 às 13h29min - Atualizada em 10/07/2021 às 12h20min

Preconceito para além da tela: qual o paralelo entre os asiáticos e híbridos da série Sweet Tooth, em um contexto de pandemia?

A ficção pós-apocalíptico da Netflix flerta com o cenário atual

Samantha Garcez - Editado por Ana Terra
Em Sweet Tooth, o mundo é assolado por uma pandemia mortal, que em pouco mais de uma década altera profundamente a arquitetura socioeconômica global, ao mesmo tempo que misteriosamente surge uma geração de crianças híbridas, metade humanos, metade animais.
Reprodução: Netflix

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A série tem como cenário um futuro pós-apocalíptico, dez anos após um evento conhecido como “O Flagelo” devastar o Planeta Terra. E acompanha a jornada de Gus (Christian Convery), um menino-cervo, que após a morte do pai decide se aventurar fora da segurança e proteção de sua casa isolada na floresta. Inesperadamente, Gus cria uma parceria com o turrão e solitário Jepperd (Nonso Anozie) e parte em busca de respostas sobre sua origem.
 
A série é uma adaptação do quadrinho homônimo da DC Comics, através de sua linha editorial Vertigo. É impossível não comparar o enredo com a realidade atual, o caos de uma pandemia é discutido na fantasia: um vírus devastador torna o uso de máscaras um ato comum, bem como outros cuidados. O distanciamento social é necessário, o que leva as pessoas a desconfiarem umas das outras, e se isolarem. O medo se faz presente tanto no cenário da ficção quanto da realidade.
 
Em Sweet Tooth as pessoas acreditaram que os híbridos foram culpados pelo surgimento da doença. Então, o exército e a população em geral, iniciaram uma caçada às crianças especiais. Em que os “últimos homens” mataram muitos deles. Entre os últimos homens está o “Grandão” Tommy Jepperd, um personagem que se torna o melhor amigo de Gus, embora o “Grandão” já tenha matado muita gente, seu coração amolece ao acompanhar o inocente Gus.

Reprodução: Netflix

Reprodução: Netflix


As crianças híbridas são tidas como culpadas pelo surgimento do vírus flagelo, assim como muitas pessoas asiáticas aqui do mundo real. Já culparam os gays pelo surgimento do HIV, o que foi descoberto ser uma inverdade. Os asiáticos vêm sofrendo ataques racistas e xenofóbicos por causa do coronavírus, inclusive muitos acreditam que eles criaram o vírus em laboratório para lucrar com a vacina, o que a ciência já provou ser uma mentira.
 
Agressões físicas e verbais contra pessoas de ascendência asiática se acentuaram com a chegada da pandemia de Covid-19. A discriminação racial contra amarelos (grupo étnico-racial do Leste e Sudeste Asiático e seus descendentes) ganhou destaque nos noticiários em março de 2021, quando uma chacina cometida nos EUA culminou na morte de seis mulheres de origem asiática. No Brasil, a pandemia também gerou ataques racistas. Em ambos os casos, incentivados pelos chefes de Estado, Donald Trump e Jair Bolsonaro que utilizam de termos pejorativos para se referirem à doença como: “China Vírus”, “China Flu” (febre da China) e Kung-Flu”.

Reprodução: Reuters

Reprodução: Reuters


Nas redes sócias, a campanha Stop Asian Hate ganhou força. O movimento denuncia o aumento de crimes de ódio contra a comunidade. Além disso, o Instituto Sociocultural Brasil-China (Ibrachina), criou em fevereiro de 2020 uma central de denúncias para ataques racistas contra asíaticos, de forma a funcionar como uma ponte entre a comunidade e as autoridades. Na série Sweet Tooth podemos ver a discriminação com os híbridos que surgiram no mesmo período que o vírus, o paralelo com o contexto atual é claro e revela o carácter crítico das produções de fantasia, trazendo para o público diversos questionamentos sobre o mundo.
 
Referências:
Ataques a pessoas de origem asiática geram manifestação e debate sobre leis para crimes de ódio nos EUA. G1, 2021. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/04/02/ataques-a-pessoas-de-origem-asiatica-geram-manifestacoes-e-debate-sobre-leis-para-crimes-de-odio-nos-eua.ghtml >. Acesso em: 09 de Julho de 2021.
BOHRER, Elis. Impossível não comparar série Sweet Tooth com a pandemia. Mais Minas, 2021. Disponível em: <https://maisminas.org/entretenimento/series/2021/06/08/impossivel-nao-comparar-serie-sweet-tooth-com-a-pandemia/>. Acesso em: 09 de Julho de 2021.
NAKAMURA, Jéssica. TERAO, Susana. Brasileiros de ascendência asiática relatam ataques racistas durante a pandemia. Folha de S.Paulo, 2021. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/05/brasileiros-de-ascendencia-asiatica-relatam-ataques-racistas-durante-a-pandemia.shtml>. Acesso em: 09 de Julho de 2021.
PADILHA, Alice. “Stop Asian Hate”: Entenda o que é e como ajudar o movimento. GQ, 2021. Disponível em: <https://gq.globo.com/Noticias/noticia/2021/03/o-que-e-como-ajudar-o-movimento-stop-asian-hate.html>. Acesso em: 09 de Julho de 2021.
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