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12/07/2021 às 16h08min - Atualizada em 12/07/2021 às 15h32min

Revolução Grisalha: Liberdade em não pintar os cabelos

Mulheres optam cada vez mais por se desprenderem das tinturas e deixam seus cabelos grisalhos sem medo de julgamentos

Eduarda Lontra - Editado por Larissa Barros
Reprodução / Instagram @paulinaporizkov
No início de 2020, inúmeros estabelecimentos precisaram suspender seus atendimentos por alguns meses por causa da pandemia do novo coronavírus,  e os salões de beleza foram alguns deles. Assim, as mulheres viram seus fios brancos surgirem. Enquanto algumas tentaram esconde-los outras aproveitaram o isolamento social para assumir de vez suas madeixas grisalhas. As famosas também entraram nesse time, Fafá de Belém, Glória Pires, Astrid Fontenelle e Samara Felippo, são algumas que compartilharam em suas redes sociais a mudança, mesmo após a abertura dos salões.

Dados registrados pelo Google Trends apontam que, a busca pela frase “como deixar o cabelo branco?” teve um aumento de 350% na plataforma de pesquisa no ano passado. Já o termo “cabelos brancos” bateu seu recorde histórico em junho de 2020, ao apontar um crescimento de 43% nas buscas, em comparação ao mesmo período de 2019.

A fonoaudióloga Alessandra Mattoso, pintou os cabelos por cerca de 25 anos, mas desde março do ano passado, ela abriu mão das tinturas. "Meu hair stylist várias vezes sugeriu que eu deixasse grisalho, até porque eu não sou daquelas que pintava de 15 em 15 dias e como ele dizia “ia dar uma bossa”, disse.

De acordo com Alessandra, ela achou oportuno deixar de pintar no início da quarentena, e destacou que a experiência está sendo maravilhosa em vários aspectos. “Simples porque não preciso retocar a pintura e é libertador! O cabelo está com uma qualidade do fio muito melhor, claro que não é igual ao da juventude, mas está bem cuidado. O que preciso manter em dia é o corte coisa que sempre fiz com muito prazer", revelou. 

A cabeleireira Ariel Mainardi, explica que atualmente vivemos a chamada “Revolução Grisalha”, mas antes dessa as mulheres – que hoje possuem cerca de 70 até 90 anos – passamos pela “Revolução da Coloração”, pois colorir os cabelos se tornou uma conquista. Na época, colorir os fios significou um reconhecimento social, além de ter representado o fim do confinamento em casa por serem consideradas pessoas velhas, diante da sociedade, devido aos fios brancos.

 

“Tivemos a revolução da coloração, quando a coloração surgiu no século 19, e as mulheres puderam ficar mais tempo no mercado de trabalho, e serem consideradas jovens por mais tempo. Hoje vivemos a revolução grisalha, que é sair dessa imposição, patriarcal e machista. Afinal, o fio grisalho nada mais é do que a morte dos melanócitos, uma substância que dá cor ao fio, e é algo genético”, comentou Ariel.




Acontece que, durante anos os fios embranquecidos foram vistos como desleixo, sinal de tristeza e de falta de cuidados pelas mulheres que os mantinham sem tinturas. Enquanto para os homens, os cabelos grisalhos eram vistos como algo charmoso. Essa visão e o preconceito, foram construídos culturalmente e acaba por refletir até hoje nas mulheres que decidem deixar os cabelos grisalhos. A própria Alessandra afirma ter passado pelo julgamento dos fios.

“Senti mais no início, até porque o momento de transição é mais delicado, não fica bonito de cara, e as pessoas questionavam até quando eu iria conseguir, que deveria ficar loira ou voltar a pintar porque o fio branco envelhece. É preciso estar segura de que é isso que deseja”, destacou a fonoaudióloga.

 
Mas o surgimento dos fios grisalhos é algo normal na vida humana. Segundo a
cabeleireira Ariel, os cabelos brancos surgem devido à queda da produção da melanina, o processo é chamado de apoptose dos melanócitos, a morte celular programada no organismo, ou seja, não é causada por lesões. Já os melanócitos são as células produtoras da melanina, responsável por dar cor aos fios. 

Os cabelos brancos podem surgir por inúmeros motivos – e não apenas um em específico, por isso, podem surgir em diferentes idades –, como: hormonal, nutricional, genético, estresse, entre outros.

"Isso faz com que os fios precisem de cuidados, já que começam a nascer mais grossos, ressecados e um pouco mais porosos, além de terem a tendência de ficarem amarelados “por que a melanina, que da cor aos fios, é responsável direta e indiretamente pela produção de proteínas, e assim, os fios podem sofrer um pouco mais com a radiação dos raios ultravioletas, o que exige um cuidado”, explica Ariel Mainardi.

Mas como assumir os cabelos grisalhos? Existe alguma regra inicial? Vou ficar com os cabelos de duas cores? Essas são algumas das dúvidas que as mulheres têm quando decidem não colorir mais os fios. Mas não existe uma regra universal para seguir durante o processo de transição, varia da textura do cabelo. Apesar disso, Ariel pontua que ter paciência e fazer tratamentos semanais é importante.

Ela explica que o processo de transição costuma assustar mesmo as mulheres, já que as madeixas podem ficar com duas ou três cores. No entanto, tudo depende de como a mulher escolhe passar por esse processo, já que tem meios mais rápidos e os mais demorados.

"A transição do grisalho pode ser feita de algumas formas, uma delas é como se fosse o BC dos cabelos cacheados, o “big chop”, é você poder tirar toda a parte colorida de uma vez, ai varia de pessoa para pessoa, se você quer tirar tudo de uma vez ou se você não quer e prefere os seus cabelos longos e prefere ir tirando de pouco em pouco. Então você pode fazer isso também, vai tirando de pouco em pouco até ficar todo ao natural. Você também pode procurar um colorista, que seja especializado em fazer mexas e descoloração, para ele fazer um teste de mexa para ver se o seu cabelo aguenta fazer mexas da cor do seu grisalho natural. Se você decidir por essa terceira opção você tem que saber que precisará cuidar muito bem do seu fio, pois a descoloração retira toda as propriedades que o seu fio tem" – comentou a cabelereira.


E quem acha que os cabelos grisalhos só permanecerão durante o momento de isolamento social pode estar enganado. Para Ariel, a emancipação feminina está apenas começando, e segundo ela, a tendência é que as mulheres "se libertem cada dia mais dos padrões de beleza que nos aprisionam e abaixam nossa autoestima”. 

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