O Câncer Infantojuvenil
Responsável por 8% das mortes por doença entre crianças e adolescentes, o câncer infantojuvenil, geralmente de predominância genética, é causado pelo crescimento e multiplicação desordenada das células em diversas partes do corpo.
Um dos principais e mais conhecidos meios de tratamento para a doença é a quimioterapia. Com a injeção dos remédios no sangue, as células doentes são destruídas e não são se espalham mais. Porém, por serem medicamentos muito fortes, apresentam diversos efeitos colaterais, sendo um deles a queda de cabelo.
Através do diagnóstico precoce e de tratamentos especializados, hoje 80% das crianças diagnosticadas com a doença são curadas (INCA - 2020) e apresentam uma boa qualidade de vida.
Visualização geral de uma das páginas do livro Leoa não tem juba - Ilustração: Ferreth
O início da história do Leoa não tem juba
A ideia da autora surgiu durante o seu período de estágio de pós-graduação em enfermagem pediátrica no INCA, enquanto ela observava a força de cada criança no processo de quimioterapia e do quanto isso abalava a autoestima. “Ela luta com todas as forças que tem para viver e, observando que no momento em que elas percebiam que, iniciando o tratamento, elas poderiam perder o cabelo, se fechavam e ficavam muito tristes”, afirma.
Mas por que relacionar a leoa com a ausência de cabelo?
A analogia presente no livro se faz com a relação entre a criança que luta contra o câncer e a consequência da sua perda de cabelo com a força da leoa perante a vida, com a ausência de sua juba.
No reino animal, para a sobrevivência de seu grupo, a leoa é a encarregada pela caça. Assim que ela abate sua presa, oferece o alimento para toda a alcateia, sendo sempre a última a se alimentar.
Ao contrário do leão, a leoa não tem o símbolo de poder e força do rei da selva, a juba. E mesmo assim, é a responsável pela luta de sobrevivência de todo o seu grupo, sendo forte tanto quanto o leão.
A representatividade da obra
O livro oferece um espaço para que esse público infantil se sinta protagonista da história. Dessa forma, inserir as situações e os espaços presentes no ambiente hospitalar – as salas, o ambiente cirúrgico, a brinquedoteca - contribuíram para a compreensão da criança em relação a sua inclusão na sociedade, através da literatura.
Além disso, assim como os diálogos entre as personagens, as ilustrações se tornam uma ferramenta visível cada vez mais útil para o entendimento e fortalecimento da criança, que tem o livro como uma forma de espelho de sua luta.
“Uma vez que a criança pegava o livro em suas próprias mãos, ela lia e participava de toda a parte ilustrativa juntamente com a história [...] Quando a criança visualiza o livro, as páginas, ela se sente fortalecida”, diz Denise.
A escritora Denise Martins no lançamento de Leoa não tem juba, após 25 anos da idealização do livro - Fotos: Alexandre Lago
Por causa da pandemia da Covid-19, o afastamento de Denise das atividades presenciais do hospital infantil fez com que o livro fosse pouco trabalhado com as crianças. Porém com o avanço da vacinação no estado, ela pretende dar continuidade a apresentação do livro e ao estudo sobre o câncer infantil nas escolas do Rio Grande do Norte.
“Quero apresentar às outras crianças que não tem câncer que aquela criança que perdeu o cabelo não pode ser discriminada e que se deve entender que ela está em uma luta contra uma doença”, conta.