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16/07/2021 às 17h42min - Atualizada em 16/07/2021 às 17h29min

A cultura workaholic além da ficção

No romance contemporâneo de Sophie Kinsella, encontramos uma personagem da ficção que não se difere dos viciados em trabalho da vida real

Larissa Bispo - Edição por Brenda Freire
Foto/Reprodução: Google
Samantha Sweet é uma advogada em um importante escritório de advocacia de Londres. Com o objetivo de se tornar uma das sócias da empresa, sua vida é resumida a trabalho. Assim, ela não volta para casa sem levar contratos para revisar, não sabe o que é relaxar e aproveitar um fim de semana de folga, tampouco consegue parar de olhar para o relógio e contar cada coisa a ser feita. Em outras palavras, Samantha é uma verdadeira workaholic.
 

... sinto como se alguém estivesse empilhando pesos em cima de mim. Como enormes blocos de concreto, um em cima do outro, e preciso segurá-los sempre, não importa o quanto eu esteja exausta. (Trecho da obra “Samantha Sweet, executiva do lar”)

 Acontece que a situação de Samantha, protagonista do livro “Samantha Sweet, executiva do lar”, da autora best-seller Sophie Kinsella, é algo que transcende a ficção e tem se manifestado de inúmeras formas dentro de uma sociedade que constantemente se vê acelerada, em busca do que acreditam ser o ápice do sucesso. Como uma corrida de Fórmula 1, todos querem estar no pódio, onde o primeiro lugar é sempre sinônimo de realização.


No livro, a personagem percorre esse caminho com afinco e determinação, afinal, ela pensa que só são verdadeiramente recompensadas as pessoas que priorizam o trabalho acima de tudo, inclusive da própria qualidade de vida.

A estudante de psicologia Bruna Tancredo explica que o ser humano parte exatamente desse princípio ao traçar metas ambiciosas: “É como se o trabalho fosse o eixo principal da sua vida. Temos o hábito de acreditar que o sofrimento, estresse e o trabalho em excesso são necessários para grandes conquistas”, ela enfatiza.

Esse pensamento, embora discutido, ainda é perpetuado pelos defensores de uma vida para o trabalho, especialmente na internet. Dentro das redes sociais, o compartilhamento de rotinas produtivas reproduz essa cultura workaholic como um exemplo a ser seguido, pois ser produtivo é sempre associado não somente ao trabalho em si, mas em fazer isso além das horas necessárias. Dessa forma, respirar trabalho, pular refeições e desrespeitar as horas de sono passam a ser um “sacrifício” admirável.

Ainda sob a análise de Bruna, [...] em psicologia, romantizar o trabalho significa colocar nele uma energia emocional desproporcional ao que realmente é exigido”. A personagem Samantha Sweet é exatamente o tipo de workaholic que possui a vida voltada completamente para o trabalho. Não há espaço para hobbies, lazer ou relacionamentos; tudo isso faz parecer uma perda de tempo diante do sucesso que ela pode alcançar focando no que acredita ser verdadeiramente importante. Mas é preciso refletir: por que um lado da balança precisa pesar mais?

Complementando a ideia, há um bônus: a Síndrome de Burnout - a qual pode deixar consequências negativas na vida de quem gira em torno do trabalho. Como salienta Bruna, “a sobrecarga de trabalho fará com que seu corpo comece a falhar, você não irá mais conseguir pensar, nem socializar, e todo seu esforço será em vão”. Nesse sentido, vale a pena subir em uma montanha e dizer que conseguiu, mas nesse longo caminho não olhar nem uma vez para a natureza ao seu redor?

Por isso, é importante refletirmos sobre a maneira em que estamos depositando nossos esforços e de que forma alimentamos objetivos profissionais. “A exaustão psicológica impede a realização de atividades simples, promove alienação dos relacionamentos pessoais e reduz o desempenho no trabalho, que passa a ser tratado com apatia e podendo levar a pessoa a cair em um ciclo de culpa, desenvolvendo até mesmo uma depressão”, completa Bruna.

Samantha Sweet é uma mulher da ficção que não se diferencia dos viciados em trabalho da vida real. Assim como ela, muitos dessa sociedade acelerada se deixam cair nessa corrida em busca dos melhores cargos, dos diplomas e status profissional como se a cada movimento dos ponteiros do relógio fosse um tempo perdido. No entanto, nenhum tempo é perdido quando se aproveita a vida como ela deve ser: leve e prazerosa.


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