Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
16/07/2021 às 18h38min - Atualizada em 16/07/2021 às 17h06min

Uma extensão do coração: o amor por obras e por pessoas transforma a vida dos fãs

Relatos demonstram que é possível preservar o afeto por ícones culturais, e ser por ele transformado

Fernando Azevêdo - Editado por Andrieli Torres
Foto: Reprodução/Unsplash

Ser fã: expressão que carrega muitos significados especiais. Cada um tem uma relação única com o que é objeto de sua admiração. Isso te faz ver o mundo de outra forma? Te transforma? Te move? Ter um ídolo pode também ser uma forma de afeto, e até amor.

 

Quando você está esperando que o tédio vá embora, vai ver uma série leve e simplesmente não consegue parar de assistir, quer ver o que acontece, se apega aos personagens. Quando alguém muito especial te indica aquele filme e você fica preso na tela, sendo imerso na história e em sensações boas. Aquela banda da infância que você ouvia quando chegava da escola e não tinha tantas obrigações como tem hoje. E essas coisas se tornam quase eternas para você, de tão especiais. Só você sabe como aquilo desperta certa nostalgia, um afeto enorme. Lembrou algo?

 

Há aquelas obras que são tão boas, mas tão boas, que se estendem e geram um sentimento comum a mais de um fã, os aproxima e vira assunto para conversas infindáveis. Há aquelas coisas que marcam gerações, que nunca saem do imaginário e nem de moda. São marcos de afeto na vida de muitas pessoas, tenham elas acompanhado ou não quando foram transmitidas. A internet e os serviços de streaming possibilitam hoje o acesso rápido a uma gama de produtos culturais de todos os tempos. Você pode facilmente ver seu filme favorito dos anos 80 e ser transportado a todas as deliciosas sensações de nostalgia, por exemplo.

 

É interessante como a arte pode ficar tanto tempo preservada no afeto dos fãs. Alguns sentimentos não têm um fim tão concreto, sempre é bom relembrar o que te faz bem. E, quando se é fã de verdade - fã de obras, mas fã de pessoas também -, você sempre quer retornar a isso.

 

Alguns ícones da cultura mundial conquistaram verdadeiras legiões de fãs, fazendo sucesso mesmo anos depois de terem ido ao ar. Pessoas que viveram aquela época, aquele auge, quando todo mundo falava sobre aquela banda, aquela série, resguardam esse sentimento de fã. Além disso, pessoas que nem eram nascidas na época de tal sucesso, hoje veem e sentem carinho por aquele ícone. São muito importantes para quem é fã. Conversamos com três fãs de ícones culturais que ainda hoje têm importância, e investigamos mais desse sentimento.

 

Friends: Um “ícone atemporal”

 

"Friends'' é aquela série que todo mundo já ouviu falar, tenha assistido ou não. A sitcom americana foi ao ar de 1994 a 2004, mas até hoje, transmitida em plataformas de streaming, é um fenômeno. Não à toa muitas pessoas assistem e reassistem o seriado sempre que podem. E não é sem justificativa também que, como exposto na "Friends Reunion", ele já tenha sido visto mais de 100 bilhões de vezes. "Friends" conquistou e conquista gerações, seja pelo humor leve, seja pelos personagens icônicos, que são os amigos que todos precisam. 

 

Luana Costa, 19 anos, é uma das pessoas conquistadas pela história de Monica (Courteney Cox), Rachel (Jennifer Aniston), Phoebe (Lisa Kudrow), Chandler (Matthew Perry), Joey (Matt LeBlanc) e Ross (David Schwimmer). A jovem se descreve como "estudante de Jornalismo e fã de Friends. Muito fã de Friends".

 

 


Para ela, o que define um fã é a identificação com projetos e a admiração pelas pessoas envolvidas, pois, segundo ela, quando assistimos algo, gostamos porque nos identificamos com aquilo, e passamos a acompanhar tudo que envolve aquela obra, exercendo a admiração por quem trabalhou nela. "A gente passa a se tornar fã. Admirar, gostar bastante do que eles passam para a gente, não só como artistas, mas como pessoas", reflete.
 

Luana se identificou com "Friends" e agora admira as pessoas que fazem o seriado ser tão querido. "Por causa  da série, eu me tornei fã de pessoas [...]. Eu não era fã de ninguém [...]. Hoje eu percebo que me faz bem ter alguém para admirar, mesmo que eu não conheça. Mas é um sentimento muito bom", declara. A estudante passou a acompanhar a carreira de atores da série.

 

A história entre Luana e a sitcom começou por volta do quarto mês da quarentena, em 2020. A estudante estava triste, sem o contato com os amigos e familiares. Ela falava sobre isso nas sessões de terapia, e dizia que não sabia o que fazer. Então, ela começou a assistir "Friends"


Foi a segunda chance que deu, pois não gostou na primeira vez que tentou assistir. Foi assistindo e começou a se identificar, vendo coisas nos personagens que tinha nela mesma. O senso de humor a afetava e melhorava o dia dela. Luana afirma, com gratidão, que a série mudou sua vida. "Friends foi basicamente um remédio, sabe?", diz.

 

 

Um "efeito colateral" que atingiu Luana, atinge muitas pessoas que assistem "Friends": o aprendizado de inglês. Um inglês leve, do cotidiano, que é absorvido sem muito esforço. Há quem assista dublado, mas muitas pessoas são como Luana, que agora vê um avanço no que sabe sobre o idioma.

 

A série é ambientada nos anos 90 e início dos anos 2000, mas permanece no imaginário e ainda muitos jovens assistem. Luana nasceu depois do início da série e, ainda assim, foi cativada por ela. A preservação do carinho por uma obra em tanto tempo indica não só que ela tem qualidade, mas que ela ainda é importante. 

 

Uma série que dure mais de duas décadas sendo querida tem que ter força, e "Friends" representa isso. Além do carinho dos fãs, a série ainda movimenta muito o mercado. Muitos produtos levam uma estampa dela, e todo fã quer ter uma camisa, uma caneca, um quadro do seriado. Também há, nas redes sociais, muitas páginas dedicadas à série.

 

Luana reflete que "Friends" continua importante porque, em sua época, já tratava de assuntos muito atuais. Exemplo disso é o episódio que exibe um casamento gay, em plenos anos 90. Ela diz que, por isso, "Friends" é um "ícone atemporal". 

 

 

A "Friends Reunion", transmitida em maio de 2021, representou a reunião do elenco, 17 anos após o fim da série. Diante de todo o contexto já mencionado, é fácil imaginar que foi um sucesso. E foi mesmo. Cenas de bastidores, repetição de momentos mais icônicos e a presença de atores que viveram personagens ilustres fizeram parte do evento. A produção tem quatro indicações ao Emmy, entre elas "Especial de Variedade (pré-gravada)". Internautas reagiram:
 

Segundo Luana, o programa foi importante para mostrar que os atores estão bem, que são amigos ainda hoje e que estavam felizes de estar lá, como os fãs ficaram. "Fã que é fã mesmo agradece 'Friends' por isso", comenta. Ela diz que, como fã, se preocupa bastante com o pessoal, e é confortável saber que eles estão bem. E saber que todo esse sentimento é algo que eles vão levar para a vida deles.

 

One Direction: O fim de um ciclo musical

 

Originalmente composta por cinco jovens - Harry Styles, Liam Payne, Louis Tomlinson, Niall Horan e Zayn Malik - saídos de um reality show musical do Reino Unido, a "One Direction" foi uma boyband ativa de 2010 até 2016, mas a formação original só durou até 2015. A banda se destacou pelo carisma dos meninos e suas músicas eram amadas por muitos fãs no mundo. E ainda são. 

 

Gleyce Rauanny, 21, estudante de Enfermagem, é uma das fãs cuja paixão pela boyband permanece. "As músicas são muito boas. Tem uma história, um sentimento, em cada composição. Conheci um pouquinho dessa história assistindo alguns documentários sobre a banda. Não tem um momento específico em que eu escute 1D. Se estou feliz, escuto. Se estou triste, escuto também. Tem música para todos os momentos - e música boa! Sei quase todas decoradas rsrsrs. Boa parte da minha adolescência foi curtindo 1D, assistindo clipes e shows. Foi uma das melhores fases da minha vida e relembro muito sempre que escuto".

 


 

“Ser fã é você acompanhar, vibrar e se apaixonar por cada trabalho que o seu ídolo lance ou faça. É realmente ser uma ‘cadelinha’ rsrsrsrs”, diz Gleyce.

 

Ela conheceu os meninos quando eles concederam entrevista ao Fantástico, em 2014. "Lembro perfeitamente que a música do tempo era ‘What makes you beautiful’. Como estava na era adolescente, de primeira impressão, me apaixonei pela aparência física deles e só depois pela música (risos)".

 

Hoje, os meninos seguem carreiras solo, tendo conquistado os próprios fãs, mas a maioria certamente derivados do amor pela banda. Gleyce acompanha mais de perto Harry e Liam, que eram seus favoritos. 

 

O fim de uma banda é como o fim de um ciclo. Há muita história em uma carreira musical. Há muitos projetos e sonhos envolvidos, até que, por alguma razão, uma pausa seja necessária. 

 

“Sinto saudades de novas músicas no estilo e jeitinho que só eles entregariam. Mas é isso, os caminhos mudam e só cabe a gente continuar revivendo os bons momentos de quando eles estavam juntos”, Gleyce afirma.’

 

Compreender o fechamento do ciclo não impede que os fãs ainda sofram pelo término daquilo que eles tanto adoram. Ao menos não impede Gleyce. Ela diz que prefere nem pensar na possibilidade de nunca mais ver os meninos juntos. “Fico triste (risos), mas me alegra saber que a maioria dos componentes ainda são ligados à história da banda e se manifestam em datas especiais”.

 

RBD: Ícone das telinhas e dos palcos

 

Anahí (Mia), Maite Perroni (Lupita), Dulce Maria (Roberta),  Christopher (Diego), Christian Chávez (Giovanni) e Alfonso Herrera (Miguel). Há como ler pelos parênteses e fora deles. “RBD” é uma banda mexicana formada a partir da novela “Rebelde”, que surgiu em 2004. A leitura dupla pode funcionar para separar cantores e personagens, pois há como ser fã de “RBD”, de “Rebelde” e de ambas.

 

O grupo era um fenômeno dentro e fora da telinha. A novela influenciou muitos jovens à sua época, e as músicas, tocadas primeiro na novela e depois nos grandes shows, emocionaram muito seus fãs.

Um dos assuntos favoritos entre as crianças e adolescentes era “RBD”, e todo mundo queria as cartinhas, identidades de fãs e demais itens com tema do grupo. Letícia Pessôa, 25 anos, estudante de Jornalismo, viveu esse contexto e lembra esses momentos com felicidade.

 

“Eu conheci o ‘RBD’ através da novela e fui acompanhando o surgimento da banda e sua explosão mundial. A maneira como as músicas da banda acompanham os enredos de cada personagem foi me conquistando como fã. A sintonia entre os seis era incrível, e a paixão com que cantavam as músicas com certeza era o que [eu] mais gostava”, declara Letícia.

 

A única tristeza que Letícia exibe em seu relato é o que ela define como um trauma de infância: o fato de não ter conseguido ir ao show do grupo no Rio de Janeiro, em 2006. O evento marcou a gravação do terceiro álbum, o Live in Rio, lançado em 2007. No entanto, ela mantém a esperança e o sonho de um dia vibrar muito em um show deles.

 

 

Em dezembro de 2020, houve uma live de reencontro da banda, que contou apenas com quatro dos seis artistas, mas ainda assim representou muito para os fãs do grupo. Anos depois de todo o sucesso, continua sendo especial tudo que envolve o nome da banda. “Fiquei muito animada com o show, mesmo não sendo a mesma coisa com a banda incompleta, mas isso fez surgir uma esperança de uma provável reunião dos seis para uma turnê comemorativa”, diz Letícia. 

 

Pela live, “RBD” levou um prêmio da MTV Miaw, em julho de 2021, sendo considerada “Bomba Viral". Isso foi comemorado na internet:

“Então, eu acho que esse amor que a gente tem na infância até o início da adolescência, ele fica. Ele fica muito latente na gente. Então, mesmo que os anos passem, a gente fique com 30, 40, a gente continua gostando, porque vem de uma fase em que o amor é muito puro, muito sincero [...]. Tudo que a gente gosta, a gente gosta com muita intensidade e isso acaba ficando para sempre na nossa vida”, Letícia traduz o sentimento que a move enquanto fã.

 

Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »