22/07/2021 às 23h31min - Atualizada em 22/07/2021 às 23h22min

A atemporalidade de "Orgulho e Preconceito"

Um clássico que esqueceu de envelhecer

Larissa Bispo - Edição por Brenda Freire
Foto/Reprodução: Google
Publicado há mais de 200 anos, “Orgulho e Preconceito” é um dos clássicos da literatura inglesa que atravessa o tempo. A obra de Jane Austen (1775-1817) foi publicada pela primeira vez em 1813 e traz, além do romance entre a sagaz Elizabeth Bennet e o imponente Sr. Darcy, o retrato fiel da sociedade rural inglesa apresentada.

Apesar dos séculos, essa é uma obra que não se permite envelhecer. Não apenas porque é um clássico a trazer uma das histórias de amor mais bem construídas da literatura, referência em produções cinematográficas e literárias, mas principalmente por abordar questões que, embora grandes transformações culturais, sociais e econômicas tenham atravessado os anos, ainda continuam permeando nossa sociedade atual.

A narrativa de “Orgulho e Preconceito” é feita em cima das críticas – sutis ou não – que a autora faz. Tendo a família Bennet como trama principal, inicialmente nos é apresentado uma matriarca com a missão de casar todas as cinco filhas mulheres. A ascensão feminina, portanto, dificilmente poderia se dar por outro caminho além do matrimônio. Através de Elizabeth, a sagaz protagonista do romance, Jane Austen questiona com ela o papel da mulher na sociedade, trazendo pensamentos que nadavam contra a maré do moralmente perpetuado e aceito.

 

Apenas o amor mais profundo irá me persuadir a casar. E é por isso que eu vou ficar solteirona”.
 

Ainda, se utilizando da sua melhor característica, Jane Austen usa e abusa da ironia, satirizando os comportamentos da nobreza rural com naturalidade e firmeza, provando saber exatamente o que estava escrevendo. A ostentação, as grandes propriedades, número de criados e títulos; o prazer de, quase sempre, mostrar mais do que realmente possui em uma vida de aparências e busca pelo topo do status social. A atemporalidade de “Orgulho e Preconceito” está exatamente na forma como essas questões, embora hoje muito mais discutidas e refletidas, não parecem ser nada diferentes do que acontece no século XXI.

Se pararmos para refletir, tudo isso continua se configurando da mesma maneira através de outros meios. No clássico, encontramos a tentativa da matriarca da família Bennet de mostrar perante a sociedade um estilo de vida acima do que possuía. Hoje, porém, não é preciso ir muito longe para encontrar pessoas como a personagem. Nas redes sociais, por exemplo, há um palco montado para todo e qualquer espetáculo que envolve contar narrativas não vivenciadas, amaciando a famigerada vaidade.

Além disso, a palavra preconceito não é parte do título por um mero acaso. Quando se mergulha na era onde um homem solteiro possuidor de uma boa fortuna deve estar necessitado de uma esposa”, não pode se esperar que algo menos que isso fosse aceito. O preconceito com as classes inferiores se faz presente em todo o livro, mas esse ponto abordado faz o leitor ir além. O preconceito em relação as aspirações femininas era algo que, apesar de muito mais refletido do que politizado, ainda se mantém em um cenário de questionamento na obra. Muitas mudanças trouxeram melhores perspectivas comparadas ao século retrasado, mas ainda assim permanece um lugar onde o papel da mulher continua sendo questionado e duvidado.

Obviamente, Jane Austen estava muito longe dos discursos mais politizados da atualidade. No entanto, ao seu estilo, ela não abriu mão de trazer em “Orgulho e Preconceito”, sua principal obra, aquilo que realmente pensava e questionava, sem imaginar que a natureza das relações sociais de sua época tão bem retratadas continuariam completamente inerentes a sociedade do século XXI.


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