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26/07/2021 às 13h00min - Atualizada em 24/07/2021 às 19h33min

Resenha: Refugiados - A Última Fronteira

Samantha Garcez - Editado por Ana Terra
Na cidade francesa de Calais, surgiu a Selva, um acampamento improvisado que abrigava milhares de refugiados que tentam atravessar o Canal da Mancha, pelo Eurotúnel e chegar de alguma forma no Reino Unido. O local recebeu esse nome por conta das condições insalubres em que os migrantes vivem: rodeados por esgotos a céu aberto, lixo, ratos, sem qualquer saneamento básico ou segurança.
 
Calais é famosa pela fabricação de rendas, e a trama de fios que une eritreus, sírios, iraquianos, afegãos, sudaneses e tantos outros vindos da África e do Oriente Médio é contada por Kate Evans no quadrinho Refugiados – A Última Fronteira. Produzido combinando técnicas da reportagem documental, acompanhamos o período em que a quadrinista foi voluntária na Selva de Calais, um campo de refugiados. Os relatos e imagens são emocionantes, muitas vezes chocantes e desconfortáveis, mas necessários para a compreensão das condições de vida dos refugiados.

Foto: Samantha Garcez

Foto: Samantha Garcez

Trecho do quadrinho Refugiados - A Última Fronteira

Os relatos compõem diversos ângulos da crise migratória e humanitária vivida na Europa. E discute um tema importante para a sociedade moderna. Além das histórias dos residentes da Selva, é apresentado no quadrinho mensagens que a autora recebeu no seu celular, enquanto voluntariava em Calais, o discurso de ódio é nítido nas mensagens de texto recebidas e refletem falas carregadas de preconceito e xenofobia.
 
A retórica política utiliza de metáforas e chamam os refugiados que chegam à Europa de “inundação”. De modo que, para estancar a inundação humana, cercas e policiamento são utilizados para selar a fronteira. Mas tentar tampar as fronteiras só faz com que a “água” derrame para todos os lados.
“Deixar tudo para trás. Deixar seus entes queridos e não saber o que vai acontecer com eles. Tive sorte. Sou grata por estar viva, mas fico pensado: Sabe de uma coisa por que ainda estou viva qual é o sentido de estar só no mundo?!"
Refugiados – A Última Fronteira não é uma apenas uma história trágica, é o reflexo da realidade da nossa sociedade: adoecida, apática e individualista. A HQ é uma manifestação política sobre o tempo em que vivemos, uma denúncia à intimidação e violência policial, e a falta de diálogo com as autoridades. Ao narrar a dolorosa realidade dos refugiados, Kate Evans é capaz de abrir nossos olhares a partir de sua perspectiva, e nos aproximar de histórias que só temos oportunidade de conhecer através de notícias e estatísticas.

Ao final é apresentado pela autora, soluções para além da criação de fronteiras e muros: a discussão econômica e política da crise que está proporcionando o maior deslocamento involuntário de pessoas desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com mais 68,5 milhões de refugiados ao redor do planeta.

Foto: Samantha Garcez

Foto: Samantha Garcez

Trecho do quadrinho Refugiados - A Última Fronteira

A edição brasileira publicada pela DarkSide Books é caprichada, em especial os detalhes e o marca-página, que remetem as tradicionais rendas de Calais. A leitura do quadrinho Refugiados – A Última Fronteira não é fácil, mas necessária. É sem dúvidas uma leitura transformadora que possibilita ao leitor uma reflexão sobre privilégios e prioridades.

REFERÊNCIA:
EVANS, Kate. Refugiados – A Última Fronteira. DarkiSide Books, 2018.
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