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02/08/2021 às 13h59min - Atualizada em 30/07/2021 às 12h47min

Grande Sertão: Veredas

O experimentalismo linguístico que deu certo lidera ranking de vendas e é a “queridinha” da literatura brasileira

Isabelle Gesualdo - Edição por Brenda Freire
Foto/Reprodução: Estado da Arte

“Grande Sertão: Veredas”, pérola da literatura brasileira, publicado em 1956,  é uma extensa obra de 600 páginas que carrega grande riqueza cultural e linguística. O livro, escrito por Guimarães Rosa, tem prestígio desde o seu lançamento e até hoje é um dos favoritos para os amantes da literatura, sendo o sétimo livro de literatura brasileira mais vendido no site Estante Virtual. 
 

Universo folclórico, Deus e o diabo, o bem e o mal, angústias, conflitos internos e externos, amor reprimido, pobreza, sofrimento, alegria são alguns dos temas abordados na obra literária. Rosa descreve perfeitamente os contrastes da vida, entre seus hiatos de sossegos e desassossegos. 

 

“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.

 

Grande Sertão é estudado pelos estudantes no ensino médio, especialmente por fazer parte da geração 45 - a terceira fase modernista, iniciada em 1945, a qual ficou marcada pela busca de uma nova expressão literária. Ao escrever o monólogo, Guimarães Rosa atendeu, sábia e ludicamente, às demandas da nova fase. 

 

As primeiras páginas da obra podem, possivelmente, causar confusão e fascínio. Isto se dá pela escolha lúdica do autor de inserir palavras excêntricas - inventadas por ele - mas logo o leitor é envolto na narrativa. O arquiteto Cristiano Gonçalves diz que a experiência ao ler a obra é ambígua. 

 

“Num primeiro momento, a narrativa rápida em primeira pessoa, os neologismos e arcaismos, por vezes difíceis de serem entendidos, a não linearidade do enredo causaram certo desconforto e cansaço", afirma. 

O leitor Cristiano Gonçalves também comenta que "a força como o protagonista expõe seu relato de vida, todos os seus medos, amores, as traições que sofreu, as descrições além dos acontecimentos, todos esses elementos conseguem fazer com que superemos essas dificuldades iniciais e tornam a leitura prazerosa, com o poder de nos colocar exatamente nos lugares e situações narrados”.

 

Rosa não inovou apenas na linguagem, mas demonstrou em seus escritos que o regionalismo transcende a história ínfima de um homem “matuto” e seus costumes. Há muito o que se falar sobre esse povo, o escritor descreve, de maneira multifacetada, os conflitos viscerais vividos por eles, atrelando e causando um estado de grande surpresa no leitor.

 

"Nessa obra de Rosa, 'o sertão é um mundo' e, de modo especial,ummundo que pode ser registrado,manipulado, e transformado: é um mundo mítico, ativo, interativo", diz o professor Chales Cassemiro, da Oficina do Estudante. O sertão é um mundo, na perspectiva do professor,  porque os conflitos narrados por Guimarães, sobretudo as reflexões filosóficas, não se restringem apenas ao sertão, mas permeiam o universo interior dos seres. 

 

A narrativa que se passa no século XX tem, em boa parte, aspectos atemporais que assemelham-se ao Brasil de 2021, tais como: os conflitos de terras nos lembram os impasses sofridos pelas etnias indígenas, provocados, sobretudo, pelo PL 490; o caso de Diadorim, que teve de se passar por homem para conviver com os jagunços, reflete o machismo que ainda é latente na sociedade brasileira e na política. De acordo com o Mapa da Política dos 70 mil cargos eletivos, apenas 12, 32% são ocupados por mulheres.

 

No intuito de tentar desvendar os enigmas por trás de Grande Sertão: Veredas, o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Luiz Carlos de Assis, escreveu o livro “Para ler Grande Sertão: Veredas”, a obra de 594 páginas apresenta ao leitor as nuances e a compreensão da narrativa. “Fiquei tão embasbacado quando li que falei pra mim mesmo: ‘a humanidade precisa ler esse livro’. Costumo brincar que há muitos anos Guimarães Rosa apareceu em sonho e falou ‘vá Luiz Carlos, vá espalhar minha obra em todos os recantos", diz o professor em entrevista à CNN. 

 

 

 


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