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29/08/2021 às 11h16min - Atualizada em 26/08/2021 às 20h25min

O que passamos Nós

Em meio a tantas dificuldades cotidianas, seguimos fortes, acreditando no "ser" mulher!

Letícia Aguiar - Editado por Talyta Brito
Reprodução/Westwing
Uma de nós saiu para o trabalho, precisou deixar o filho com a avó materna, porque o pai nem sequer deu as caras, só foi ela dizer: “estou grávida”, e ele correu, como se estivesse na grande maratona de sua vida, correu tanto, que nem deixou rastros, endereço, telefone para contato. E todo dia ela sai, precisa trabalhar, alimentar sua cria. Sozinha, solteira, ainda que a mãe lhe ajude, ela continua mais sozinha que nunca, e teme todo dia por sua criança, chora por saber que seu filho nunca terá a presença do pai, essa é mais uma de nós.

Do outro lado deste Brasil, outra de nós anda pelas ruas, foi trabalhar e acordou cedo. Essa precisou sair da escola o quanto antes, ou trabalha e ajuda sua família, ou estuda, e vê todo mundo padecer na pobreza. Em seu caminho para o trabalho, passa por uma obra, os homens ali lhe dirigem o seu mais audível “psiu”, “volta aqui meu bem, me deixa beijar essa sua boquinha”. Ela segue seu caminho, porque isso não é novidade, é só mais um “comportamento masculino” que ela sempre vê todo dia, e cala, não quer arrumar problemas.

Mais ao Norte, do nosso país verde e amarelo, outra de nós também acabara de acordar, mas essa não vai a nenhum emprego remunerado. Fica em casa e seu marido sai para trabalhar, mas antes de sair, ele olha nos seus olhos, roxos pelos socos da noite anterior e pede: “desculpa meu amor, eu te amo, e isso não vai mais acontecer”. Ela lhe dá um sorriso torto e promete perdoar, mas no fundo, ela sabe que quando ele tomar uns golinhos a mais, ela será seu primeiro alvo. Mas ela prefere acreditar falsamente na mudança, e que ele a ama, isso foi só um erro, não vai acontecer novamente. Ela vai ao quarto, coloca maquiagem naqueles olhos e segue seu dia, cantarolando, lavando, passando, cozinhando e ouvindo o telejornal ao fundo falar sobre um tal de agosto lilás e alguma coisa sobre “não se cale”.

Enquanto isso no Nordeste, temos uma de nós, indo para faculdade, ela sobe no ônibus, não tem lugar e fica em pé. Atrás dessa jovem de nós, um homem se aproxima, para, encosta o corpo no dela e começa a sussurrar em seus ouvidos: “você é bem linda hein, tô apaixonado por esse corpo, bem que eu poderia ganhar um beijo”. Ela escuta aquilo, seu corpo fica imóvel, ela quer gritar, afastar aquele rapaz, mas não consegue, só cala e reza, para o seu ponto chegar logo, para ela fugir daquilo.

Essas palavras podem te causar repulsa e desconforto, mas saiba que todos os nossos dias são marcados pelos mais variados arranhões e marcas que iremos levar por toda nossa vida. Somos muitas, em diversos estados e cidades, somos mães, trabalhadoras, independentes, resilientes, somos mulheres. Enfrentamos dia a dia milhares de situações dolorosas, intoleráveis e desgastantes, mas como eu disse, conjugamos o verbo da resiliência a cada saída de nossas casas.

Iremos continuar marchando juntas, de mãos dadas, rumo a nossa liberdade, igualdade de direitos, igualdade salarial, porque “nós”, não é só sinônimo das nossas dificuldades, mas da nossa união. Andaremos juntas, para um dia, caminhar pelas ruas sem ter medo de nunca mais voltar para casa, medo de ser violentada, medo e mais medo. Apesar da trajetória de cicatrizes, NÓS iremos lutar!

 

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