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14/09/2021 às 14h17min - Atualizada em 17/09/2021 às 16h53min

Olimpíadas de Tóquio | O legado da representatividade LGBTQIA+

Por mais que os jogos olímpicos se passaram, a reflexão de um mundo esportivo com mais diversidade se mantém firme.

Paulo Victor Alves dos Reis - Revisado por Isabelle Marinho
Sharon McCutcheon
A Rede Globo em sua campanha para os Jogos Olímpicos de Tóquio trouxe a seguinte frase: "Olimpíada de Tóquio. Despertando o melhor em nós”. E, de fato, essa edição teve um lado despertador para o bem, representando a diversidade com as importantes causas, como as LGBTQIA+. Assim, as Olimpíadas de 2021 ficaram marcadas pela representatividade.

Desta vez, os heróis não usavam capas, mas tinham bandeiras e discursos com intuito de desconstruir tabus impostos pela sociedade em um ambiente onde apenas um gênero, orientação e identidade era significante. Por isso, a medalha de ouro já foi conquistada antes da competição, pois, essa batalha contra o preconceito é digna de pódio.
 


Como as bandeiras contra a intolerância ganharam espaço nesse momento

O sucesso nas redes sociais do ponteiro da seleção brasileira masculina de vôlei, Douglas Souza, foi marcante, devido o jogador ser assumidamente homossexual. Com sua simpatia e reverência, viralizou na internet em momentos descontraídos e de bastidores, às vezes ao som de Pabllo Vittar e com desfiles irreverentes . Douglas alcançou 3 milhões de seguidores no seu Instagram.
 

Os jogos contaram com vários marcos para a comunidade. Como a primeira participação de uma atleta transgênero, com a neozelandesa Laurel Hubbard e a medalha de ouro em natação da baiana Ana Marcela Cunha, sendo sua primeira medalha olímpica e tendo o sucesso celebrado nas redes sociais por sua companheira, Kaká Fontoura. 
 
Quinn, que joga na seleção feminina canadense, também marcou a competição por ser a primeira pessoa abertamente não binária. Não se identificando como homem ou como mulher, conquistou ouro com a seleção do Canadá.


O legado para o esporte

Para compreender a pluralidade de gênero, identidade e orientação sexual no legado deixado pela competição, a professora de educação física e mestranda em Cultura e Identidades, Rayssa Vasconcelos, respondeu se mais grupos de diversos gêneros foram atraídos a praticar esporte, devido a representatividade nos jogos de Tóquio:
 
“Bom, toda representatividade constrói subjetividades. Então, pessoa referência, como as atletas são, se assumindo, militando ou participando, não apenas vencendo já dá um sentido de pertencimento ao grupo a um espaço que lhe foi negado durante um tempo. Não que nunca havia existido homossexuais no esporte, mas se mostrar divergente a norma do padrão heterossexual, poderia “manchar" uma carreira, então elas agiam como aquilo que não eram. Quanto às pessoas transsexuais, por exemplo, esse espaço era completamente impossível de ser acessado. Mas, finalmente, estamos colocando esse assunto em pauta e o esporte está cada dia aceitando e acolhendo os diferentes corpos e identidades. Uma criança que nunca se encaixou na heteronormatividade, ver um jogador na TV ou jogadora trans, irá se encher de esperança, não só na possibilidade de ser uma atleta, mas de ser quem realmente é”.
Ao ser perguntada se o esporte pode ser instrumento para implementar pautas sociais, Rayssa explicou que “essa visão de que 'o esporte salva pessoas' já foi superada. Porém, o efeito que ele causa, as pessoas as quais ele atinge e, em simultâneo, o constroem e a possibilidade educativa que ele apresenta, é indiscutível".

A professora citou Paulo Freire como referência na frase: "Educação por si só não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo" e fez uma analogia usando o esporte e qualquer outra prática da cultura corporal. "O esporte não faz nada só, não luta por causas sociais, mas ele dá chance para que pessoas de todas as classes transformem a sua realidade. É claro que há esportes quase que inacessíveis por questões financeiras, geográficas, culturais, etc., mas isso pode ser o primeiro ponto para uma luta, não é? Ter criticidade é essencial e isso deveria ser estimulada em todas as instituições não só as educativas”, relata a mestranda com esperança de questões sociais serem mais abordadas, além das competições.


Repercussão nas redes sociais 

Diversos debates tomaram conta das redes durante o período olímpico. Muitos estavam contentes em serem representados, mas também tinha aqueles que questionavam.

O criador de conteúdo digital Paulo Ricardo, de 20 anos, produz conteúdo para os perfis @gaydovale e @bemgayreal e conta com cerca de 82 mil seguidores, voltados para o público LGBTQIA+. Paulo apresentou que a repercussão foi muita boa e fortaleceu bastante o movimento, dando mais espaço em diversos lugares. Principalmente, no esporte onde sempre foi pouco abordado.

O produtor disse que “foi magnifico os manifestos dos atletas [...] vem quebrando barreiras e inserindo em novos cenários sociais. Desde o primeiro beijo gay nos canais de televisão aberta, romperam-se dogmas salientados no corpo social, o que era antes chamado doença, hoje recebeu cura para intolerância e hostilidade”, enfatiza com esperança de dias melhores de menos ódio e mais respeito e amor.


Visão de um fã de esportes

O estudante de Jornalismo e fã de esporte, Lucas Rodrigues, quando perguntado sobre as questões enfatizadas nas olimpíadas expôs que “é um tema que deve ser incluído cada vez mais. Estamos ouvindo falar muito sobre representatividade hoje em dia, e precisamos entender a importância disso. O mundo do esporte costuma ser bastante machista, isso faz quem que atletas escondam sua sexualidade por medo do preconceito. E falar sobre isso, ter exemplo de pessoas em locais de destaques no esporte quebram esse paradigma, esse medo e contribui para que outros atletas se sintam encorajados e não precisem mais se esconder". O estudante tem expectativas que o esporte e corpo social se adéquem às metamorfoses propostas para a evolução todos.

O esporte vai além das competições e individualismo, ele não é singular, mas sim plural. É importante para inclusão e representatividade, entre outras pautas de suma significância para a sociedade, contudo é imprescindível que se tenha o respeito a qualquer gênero, pois, ele se moderniza e muda conceitos conforme a evolução da sociedade. Assim sendo, se adapte a ele.

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