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10/09/2021 às 14h26min - Atualizada em 10/09/2021 às 01h17min

Crônica: ressaca pandêmica

Aos poucos concluo: o home office e a pandemia causam tanto desgaste quanto uma ressaca

Hellen Almeida - Editado por Andrieli Torres
Mulher olha o mundo externo. Reprodução/Google

Então sociedade, estamos há dois anos nesta realidade pandêmica: sem abraços, o mínimo contato pessoal com quem amamos e qualquer vista distinta das quatro paredes de cada cômodo do nosso lar - lar? Atualmente é mais semelhante a uma prisão - bem, ao menos para aqueles que compreendem a importância do isolamento.

 

Acredito que tanto tempo isolado, e na realidade na qual nosso país se encontra é até natural que isso mexa com a nossa cabeça, não? Tomara que não seja a única nesta situação.

 

Ah perdão, sempre esqueço de me apresentar! Katherina Simas, estudante de jornalismo nesse atual fim do mundo, já compartilhei algumas experiências como esta matéria, este conteúdo e esta história (fique a vontade para ler)

 

Home Office: do prazer à agonia

 

Inicialmente o home office parecia algo bom, afinal - assim eu pensava - seria por no máximo seis meses - pois é, naquela época ainda tinha esperança sobre o mundo  - mas o tempo nesta realidade vem se arrastando a ponto de por pouco consegui me recordar de como o mundo realmente é, também sente o mesmo?

 

Nos primeiros meses acreditava estar tirando o home office de letra! Tenho a sorte de ter um local silencioso e equipamentos necessários para trabalhar. Todavia, aos poucos percebi que vivia como uma robô: acordar, se alimentar, cumprir as demandas diárias, limpar a residência e dormir. 

 

E assim é: como um ser pré-programado, sem momentos de prazer, apenas trabalho, afinal, a demanda é grande e eu sempre gostei de trabalhar então aproveitava pensando - o computador tá logo alí, posso adiantar outra coisa - e assim fui, de pouco a pouco me sobrecarregando.

 

Quarto: descanso? Não, trabalho!

 

E hoje, no segundo ano nesta rotina percebo quanto não me respeitei, como deveria ter estabelecido limites! Mas não, era apenas mais um texto, mais um trabalho, mais um curso durante o verão para especialização - não, não vou sentir falta de ir visitar minha família no campo, o sinal não pega bem lá - grande equívoco.

 

Foi um preço alto a se pagar, pois comecei este segundo ano já cansada antes de iniciar qualquer atividade acadêmica: me encontro totalmente exausta e desconcentrada a ponto de não conseguir - sendo sincera, nem querendo - prestar atenção nas aulas, me culpo por isso, mas ainda assim não sei como mudar.

 

Trabalhar em meu quarto era um prazer, e hoje sinto que este cômodo teve sua função modificada: não é mais meu local de descanso, mas sim o de trabalho que por sinal tem uma cama para eu deitar a noite. 

 
Eventualmente consigo parar um pouco e admirar a mudança de cores do céu limpo e belo - me recordando da casa do campo onde eu amava correr pela grama com os pés descalços, sentindo a umidade da terra e o ar fresco de liberdade no rosto - mas hoje minha face apenas se encontra com as telas frias dos dispositivos tecnológicos e as malditas demandas semanais.
 

Descanso: como funciona?

 

Ah, essas tecnologias: hoje não consigo ouvir qualquer som de qualquer notificação sem sentir meu peito apertar de ansiedade “Ah, lá vem mais alguma coisa para fazer, só desejo descansar!” 

 

Descanso, até as atividades que me causavam isso foram tiradas, a maior delas era a leitura: sempre amei ler tomando um chá na cama para cair no sono. 

 
Entretanto, preciso ler e escrever tanto durante o dia que meus olhos estão cansados a ponto de ler ser a última coisa que desejo, e isso é no mínimo triste para quem ama a leitura
 

Hoje percebi que o home office não tem me feito bem, que muito mais do que praticar o isolamento social, acabei pesando a mão e me isolando de mim mesma. Não respeitando meus limites, acreditando que podia fazer tudo e um pouco mais sem o mínimo descanso, e isso me custou eu mesma.

 

Quem eu era, minha vitalidade, o propósito de fazer tanto se perdeu e não vejo sentido em nada, comicamente trágico e semelhante a alguém que está de ressaca: cabeça tonta, cansada e implorando por água. Mas no meu caso, a hidratação é a paz, uma desintoxicação total da tecnologia.

 

Conclusão: tenha equilíbrio!

 

Todavia, enquanto isso não é possível, continuo na terapia remota para tentar lidar com tudo o que causei a mim mesma e aos poucos recuperar aspectos como: meus desejos, propósitos e força para continuar em um mundo que a cada dia se torna mais insano e cruel.

  

Espero que toda essa minha história tenha te ajudado, seja se identificando e notando que não está só, ou ao perceber que tudo, até mesmo as coisas boas, precisam de equilíbrio.
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