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16/09/2021 às 21h42min - Atualizada em 16/09/2021 às 20h37min

"A parte que falta": leitura infantil apresenta lições para a vida adulta

Livro escrito por Shel Silverstein em 1976 ensina a sociedade atual sobre relacionamentos saudáveis

Hellen Almeida - Editado por Larissa Bispo
Livro: A parte que falta // Reprodução: Google


Ah, a beleza que há em amar alguém: aquele frio na barriga ao primeiro encontro, a troca de olhares brilhantes que ocorre quando se está encantado pela pessoa a sua frente e pensar: “será que agora encontrei minha cara-metade? Afinal, é para isso que vivemos; encontrar aquela pessoa que nós completa”. 

 

Mas irei interromper este seu pensamento por um instante e fazer um questionamento: Quem disse que já não nascemos completos? Possivelmente é algo construído socialmente: em obras como Romeu e Julieta, Crepúsculo - relações românticas questionadas na matéria “A romantização do suicidio e suas consequências” - e até mesmo na indústria musical, como já dito por Fábio Júnior:

 

“As metades da laranja

Dois amantes, dois irmãos

Duas forças que se atraem

Sonho lindo de viver

Estou morrendo de vontade

De você!”  ( Música “Alma Gêmea”)

 

Todavia, este é um pensamento saudável para os integrantes da sociedade: sentir que nasceu incompleto e deve buscar a “metade da sua laranja”, pois apenas assim encontraremos a felicidade plena? É isto que Shel Silverstein aborda em seu livro “A parte que falta”.

 

“A parte que falta” - Shel Silverstein

 

Obra escrita por Shel Silverstein (1932-1999), conhecido na literatura infantil, foi publicada em abril de 1976 e conta em forma de poesia a busca de um ser circular que literalmente lhe falta uma parte, mostrando suas aventuras e o que aprende com cada possível parte que encontra na esperança de ser completado.



 

O livro segue princípios semelhantes a “Pequeno Príncipe" - saiba mais sobre este clássico em Não fique aí parado! Comece a ler -, uma literatura de temática infantil, mas com belas lições para a vida adulta - como dito em Mesma leitura, leitor distinto - que usaremos como base para o questionamento: 



 

Precisamos ser completados ou já nascemos completos?
 

Para buscar a resposta, contamos com a ajuda dos graduandos em jornalismo Letícia Aguiar e Paulo Victor, além do jornalista do Portal do Mundo Sindical, Manoel Paulo - já contribuiu na matéria Mundo pós-vacina: como será o “novo normal”? - nesta jornada.

 

Ao início da leitura, nosso protagonista canta o seguinte:



 

Aparentemente algo literal, não? Afinal, é um ser circular incompleto. Mas se levarmos para a questão social podemos nos questionar se “a busca da parte que falta” também não é algo feito por nós, crendo que não somos completos. Acerca desta crença socialmente imposta, Manoel afirma ser algo de efeito negativo e que precisa ser interrompido:

 
Essa imposição é ruim, pois as pessoas acabam se contentando com qualquer pessoa que encontrar, e esta pode não lhe fazer bem. Não somos obrigados a ter alguém. Essa imposição não pode existir”. Afirma o jornalista.
 

Sua fala pode levar a reflexão sobre quantas vezes nós mesmos - ou quem conhecemos - já acabaram em relacionamentos tóxicos por medo de estarem só, sendo aparentemente algo inimaginável! Entretanto, há aqueles que gostam de estar só e não sentem a necessidade de um parceiro para ser completo, como o pedaço com quem nosso aventureiro se surpreende ao encontrar:

 


 

Sobre ser completo por si só, Letícia afirma que apesar de atualmente estar em um relacionamento, compreende para si que seu parceiro te complementa ao invés de completar, pois sua felicidade não depende de com quem está:

 

Para sermos completos precisamos nos revestir de amor próprio para que a nossa felicidade não dependa de outros relacionamentos. Eu não sou unicamente a namorada do Gabriel, eu sou a Letícia que está construindo uma vida e ele vem para somar, mas se um dia não der certo vou continuar meu caminho sozinha”. Compartilha a futura jornalista.

 

E até mesmo Paulo, que atualmente está solteiro e por hora se sente bem assim:

 

“Tenho meus objetivos pessoais e não sinto a necessidade de ter alguém ao meu lado no momento, me sinto completo”. Afirma o redator da editoria de cultura aqui do Lab.

 

As partes que encontramos no caminho e seus aprendizados.

 

Todavia, ainda temos as pessoas que sentem que precisam ser completadas por alguém - assim como o personagem principal da nossa história - e podem até encontrar partes que encaixam perfeitamente, mas não continuam com a gente, pois não seguramos - no sentido humano, vamos interpretar como cuidar, okay? - o bastante, ou ainda o contrário: as seguramos com tanta força que elas se rompem, como respectivamente vemos abaixo:

 

 

Com essas duas partes nosso protagonista acabou aprendendo a importância do equilíbrio ao amar alguém, assim como nossa futura jornalista que em relacionamentos anteriores acabou quebrando quem estava:

 

“Anteriormente tive um relacionamento em um momento da minha vida onde eu estava muito carente e acabei me apegando demais, sufocando a pessoa com quem eu estava”. Conta a universitária.

 

Paulo, por sua vez, diz que já presenciou relações onde se deseja tanto encaixar com o outro, mesmo que este não lhe faça bem, que é capaz de crer que podem mudar o outro:

 
“Já vi pessoas querendo mudar as outras, mas o (a) parceiro (a) só muda se desejar, então muitos se mantêm em um relacionamento que não vale a pena por medo de não encontrar outra pessoa melhor”. Partilha ele.
 

Ademais, Manoel apresenta o olhar do aprendizado do nosso protagonista: a importância do equilíbrio na dose de amor e importância dada ao outro, para que a relação seja saudável:

 

“Precisa existir um equilíbrio no relacionamento. Nem tanto o céu, nem tanto a terra, mas podemos dar atenção sim, sem exageros, pois é importante que seu parceiro (a) se sinta querido (a).” Conclui o profissional da comunicação.

 

“Se acharmos que o outro precisa nos completar, quer dizer que não estamos completos sozinhos”

 

Para concluir o debate proposto, nossos convidados responderam a grande questão: Podemos ser completos por nós mesmos? E todos chegam a mesma conclusão: Sim, não apenas podemos, como devemos:

 

"Devemos estar bem conosco e o outro vir para somar, o que não ocorre se você deposita toda a sua felicidade na companhia de outra pessoa”. Conclui Paulo.

 

Claro, passar um tempo sozinha também me proporcionou autoconhecimento, porque eu vivia em função de ter alguém, como se nada tivesse sentido sem ela. E só assim, com este tempo, fui capaz de me abrir pra ter uma relação novamente, porque agora eu conheço parte de mim, a outra eu vou continuar buscando.” Afirma Letícia

 

“Podemos sim. A outra pessoa não está aqui para completar você, mas para compartilhar vivências que cada um tem e crescerem juntos. Se acharmos que o outro precisa nos completar, quer dizer que não estamos completos sozinhos” Finaliza Manoel.
 


 

 

Mas afinal, o ser de forma arredondada encontrou a parte que lhe faltava? Bem, sugiro que leia e descubra por sí - que graça haveria em revelar o fim? E você, leitor: busca a parte que lhe falta, ou é completo por si?

 
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