A onda Hallyu (neologismo usado em referência à popularidade da cultura da Coreia do Sul em outros países) tem adentrado cada vez mais o dia a dia de brasileiros. Além do K-pop, também se fazem presentes por aqui os cosméticos, tecnologias, comida e teledramaturgias coreanas.
Para se ter uma ideia, no caso das novelas, conhecidas como K-dramas, o Brasil ficou em terceiro lugar no ranking de países que mais assistiram às produções, de acordo com o Ministério da Cultura, Esportes e Turismo da Coreia do Sul em pesquisa feita em 18 países entre setembro e novembro de 2020.
Outro aspecto da cultura coreana que virou interesse dos brasileiros é o idioma. Segundo o Duolingo, uma das plataformas principais de aprendizagem de línguas, em seu relatório anual Duolingo Language Report, o idioma coreano foi o segundo mais procurado aqui no Brasil e em outros países.
Nesse contexto, além de aplicativos e diversas aulas que existem no Youtube, aqueles que desejam aprender o idioma coreano podem achar livros usados com preços mais acessíveis em um sebo. A iniciativa em questão é, na verdade, a primeira desse tipo aqui no Brasil.
E quem está por trás desse projeto pioneiro é a Stephanie Kim, 28, nascida nos Estados Unidos, mas brasileira de criação e coração, visto que mora aqui desde os três meses de idade. A jovem de ascendência coreana é moradora da capital paulista e tem formação em Marketing. Já trabalhou na área, mas esse ano decidiu “viver de arte”, como ela mesmo disse.
Com suas ilustrações e artes no estilo “lettering”, conseguiu trabalhos com marcas como Hyundai e Melissa, fez a capa de um livro e mais recentemente se tornou professora de caligrafia coreana do curso “Coreano Online”.
Tudo isso começou quando Stephanie decidiu compartilhar suas artes no Instagram e vender itens personalizados, com a pandemia decidiu se dedicar ainda mais na produção de conteúdo na rede social. Hoje seu perfil, o @Heypopster, possui mais de 19 mil seguidores, e além de divulgar seus trabalhos, a página se tornou um lugar onde compartilha fatos e curiosidades sobre a Coreia do Sul, lugares para se comer pratos típicos, um pouco de sua rotina pessoal e afins.
Sobre o sebo, a influencer diz que, percebendo uma demanda entre seu público, começou a ponderar como as pessoas poderiam ter acesso à literatura coreana e a títulos traduzidos para o idioma. “Eu comecei a pensar no sebo ano passado, pois meus seguidores perguntaram por indicações de onde comprar livros coreanos, e eu como coreana, que cresceu na comunidade, não sabia onde vendia. Então comecei a pensar nisso e esse ano consegui abrir o sebo”, revela a jovem.
De lá para cá, o sebo Kpopster já está no ar há pouco mais de 7 meses e seu funcionamento é 100% online pela plataforma Shopee, ou seja, pessoas de qualquer lugar do Brasil podem acessar e garantir um exemplar. Como fez a Adriana Panceri, 49, analista administrativa em uma startup e que mora em Pinhais, região metropolitana de Curitiba, Paraná.
Ela conta que se encantou com a língua coreana ao entrar em contato com as novelas. “Pareceu mais fácil que o japonês, o qual queria fazer a princípio. Procurei cursos e comecei a fazer aulas”. Daí em diante, começou a buscar mais sobre a Coreia do Sul e onde poderia adquirir livros nessa língua, foi então que ela encontrou o perfil da Stéphanie no Instagram.
Publicação compartilhada por Adriana Panceri quando seu pedido do Sebo Kpopster chegou (Foto: Reprodução/ Instagram @adrianapanceri)
“Comprei livros didáticos, dicionários, bíblias e livros de história”, acrescenta Adriana. E além desses também é possível encontrar HQs, álbuns de K-pop, filmes, títulos famosos traduzidos para coreano e até algumas obras em japonês. Ainda segundo Adriana, a ideia e acessibilidade do sebo vem a calhar para quem tem pouco contato com a cultura.
“Acho genial termos livros coreanos mesmo que usados. Em São Paulo é mais fácil achar coisas da Coreia, mas em Curitiba é muito difícil, então o sebo [online] ajuda a conhecer mais sobre a história e cultura”, destaca. Os livros vendidos por lá são adquiridos por Stephanie com conhecidos e contatos que ela possui dentro da comunidade coreana, algumas dessas pessoas, às vezes, estão voltando para a Coreia do Sul e querem se desfazer de algum livro que não estão usando.
A seleção dos exemplares também é pensada para atender o maior interesse de quem compra: aprender o idioma e ter mais familiaridade com ele. “Geralmente eu tento pegar livros infantis pois é o mais indicado para quem está aprendendo coreano, que é o caso da maioria dos meus clientes hoje. Também pego livros de finanças, de desenvolvimento humano, mas o que sai melhor são os infantis”, declara Stephanie.
Quando perguntada sobre como ela se sente em relação a esse interesse pela sua cultura entre os brasileiros ela diz:
"É muito doido, pois para os brasileiros é algo novo, então parece que eles se encantam mais pela cultura, algo que para os coreanos é normal. Então, para mim, é legal ver o crescimento do idioma e é incrível como o Hallyu tem transformado o mundo".
Em pouco tempo, o sebo vai conquistando mais admiradores e isso incentiva a artista e também influencer a continuar com o projeto. “Eu sempre sinto que os livros que eu compro para revender para as pessoas estavam parados com os antigos donos, e agora estão sendo muito melhor aproveitados com os novos donos. Isso faz tudo valer a pena. Eles [os clientes] ficam felizes com a compra por sentir que estão com um pedacinho da Coreia em casa, mesmo que a pessoa nem consiga ler o livro todo”, declara.