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03/10/2021 às 11h11min - Atualizada em 28/09/2021 às 23h28min

BlogNejo | Entrevista ping-pong com Marcus Bernardes

O blogueiro fala sobre a sua infância e como se envolveu com a música.

André Pontes / Juliana Rodrigues - Revisado por Isabelle Marinho
Marcus Bernardes, autor do BlogNejo. (Foto/Reprodução: Arquivo pessoal)

O autor Marcus Bernardes, criador do BlogNejo — um dos sites mais referenciados e conhecidos do meio sertanejo, conta através de uma entrevista sobre a sua vida pessoal e profissional mostrando a sua trajetória e passando pelas suas principais inspirações e desejos, dando dicas e falando sobre. Além disso, Marcus explica e contextualiza o mercado musical sertanejo atual com o mais antigo, passando pelas principais raízes, histórias e mostrando as mudanças nesse cenário, considerando os artistas, o público e as produções das músicas. 

Nós já sabemos que a música sertaneja está se intensificando e adquirindo novas características ao decorrer dos anos com novos talentos, mas será necessário esquecermos o que já foi a música sertaneja? Esquecer suas raízes e sua história? É o que vamos descobrir abaixo com o Marcus Bernardes. 
 

Marcus Bernardes, mais conhecido como Marcão do BlogNejo. (Instagram: @marcaoblognejo)

Como foi a sua infância?

R: Eu cresci na Escola Técnica de Uberlândia, onde meu pai trabalhou a vida inteira até se aposentar. Era uma área rural, mas que tinha um subúrbio americano, com casas uma ao lado da outra que eram de funcionários que podiam morar nas dependências da escola. Era um lugar muito mágico e bacana para crescer e sempre foi próximo da família. Com 10 anos, comecei a mexer com música tocando violão por intermédio do meu pai que acrescentou nas aulas em que fazia. 

E a sua adolescência?

R: Na adolescência foi um pouco mais complicado, pois não morávamos na escola técnica. Nesse momento, comecei a tentar descobrir novas coisas, mas devido a minha timidez, isso complicou. Sempre fui um cara muito isolado, auto-estima baixa. Era um cara muito fechado para fazer amizade. Na escola, sempre fui considerado como o CDF. 

Por que você escolheu a faculdade de direito?

R: A minha ideia era prestar concursos fora de Uberlândia. Por isso, acabei indo para o curso de direito, pois pensei nessa gama de concursos. Nunca foi a minha ideia advogar ou trabalhar na área propriamente de direito e durante um tempo, prestei alguns concursos, mas como já estava entrelaçado com a música, acabei seguindo esse caminho. O meu sonho era fazer um curso que realmente amasse, nesse caso, o cinema, mas acabei indo para outro lado. 

Por qual motivo você optou por não seguir a área que se formou para se tornar um blogueiro sobre a música sertaneja?

R: Quando eu comecei a cantar com o meu irmão, até mesmo durante a faculdade. Nós cantávamos em botecos e bares nas noites, isso foi me agradando. Ao longo do tempo, fui ampliando e conhecendo novas ideias. Logo que terminei a faculdade, comecei a mexer com o BlogNejo. O blog começou a crescer e ficar mais forte depois de 1 ano. Nessa época, trabalhava em uma empresa pública de Uberlândia e também não havia prestado o concurso da OAB, como não curtia essa área, vi que o blog seria uma ótima opção e acabei me envolvendo mais. 

Como a música sertaneja entrou na sua vida?

R: O meu pai sempre gostou de música sertaneja e sempre me estimulou a tocar. Ele tinha um sonho de tocar violão, não conseguiu e me colocou na aula. Depois ele tinha um sonho de tocar viola, não conseguiu e me colocou na aula também. Dessa forma, comecei a tocar violão com 10 anos e a viola com 14 anos e gostar de música sertaneja. 

Quais foram as maiores dificuldades que você passou no começo da carreira, depois que decidiu mudar de profissão?

R: Na verdade, quando decidi focar somente no blog, eu já estava sobrevivendo muito bem só com ele. Nesse caso, eu havia pensado muito bem antes de viver somente dele. Eu só larguei tudo quando eu vi que era coisa muito certa, quando não tinha mais como dar errado. Foi quando eu tomei a decisão de sair do meu emprego, onde eu era concursado e efetivo. Primeiro eu pedi uma licença e depois fui para a demissão. 

Você ajudou a divulgar vários sertanejos como um empresário. Você continua ajudando alguns artistas? Se sim, de qual maneira?

R: Sempre tem alguns artistas que eu me apego pela amizade e por gostar mais. Houve um tempo com a Maiara e Maraísa e em outros momentos com outros artistas para dar aquela força. Hoje eu presto consultoria para oito cantores, sendo algumas duplas e outros solos. Já como sócio, eu trabalho e tenho uma parceria com uma dupla chamada Natália e Laura, que ajudo a crescer. 

Quais são as dicas que você deixa para quem quer trabalhar escrevendo sobre música?

R: Olha, hoje em dia, depende muito do que você quer fazer a respeito disso. Se você quiser fazer disso o seu ganha-pão, você precisa abrir o seu coração e a mente para coisas mais comerciais  e menos idealistas. Quem escreve sobre música sertaneja, geralmente são pessoas que gostam de falar e gostam de falar de coisas boas que nem sempre é o que vemos nas músicas sertanejas hoje em dia. Você precisa desligar um pouco o seu filtro, pois você irá divulgar pessoas boas e ruins, precisa lidar com as publicações e saber abrir esse leque do campo comercial. O ideal é você ter um perfil de música sertaneja no Instagram, onde você possa vincular propagandas de novos artistas e não ficar focado apenas em textos só porque você gosta de músicas sertanejas. Tem que abrir a mente para fazer esse tipo de trabalho. 

Quais são os seus próximos projetos na carreira?

R: Na verdade, tenho várias ideias para colocar em prática, só estou esperando por esse momento delicado na vida pessoal e da pandemia. Mas, gostaria de montar uma agência do BlogNejo, um escritório de gerenciamento de carreira, criar programas para a web e YouTube e reformular o canal de uma maneira mais intensa. 

Qual notícia que você escreveu mais te marcou?

R: Normalmente, as notícias de primeira mão, morte de algum artista ou separação. Fui, por exemplo, o primeiro a anunciar a separação da dupla Hugo Pena e Gabriel. Fui o primeiro a anunciar a morte do José Rico da dupla José Rico e Milionário, a separação da dupla João Carreiro e Capataz que, inclusive, repercutiu no BlogNejo com entrevista. 

Quais são as mudanças mais significativas que ocorreram na música serteneja?

R: A cada 10 ou 15 anos, a música sertaneja tem sofrido mudanças bruscas. Nós fomos analisar os anos 70 e identificamos muita inclusão de influências no sertanejo que não haviam antes, como: música latina, instrumentos de sopro que até então não eram utilizadas dessa forma e a introdução da guitarra através de Léo Canhoto e Robertinho. Nos anos 80, inicia-se o começo do sertanejo romântico através de Chitãozinho e Chororó e Cristian e Ralf. Já nos anos 90, foi possível ver a entrada do sertanejo nos grandes centros urbanos, como no Rio de Janeiro, que não era muito consumido e a ver em grandes veículos de comunicação como a Rede Globo, que abriu um espaço para a música sertaneja de uma forma mais intensa com o show de sertanejos, como o Canecão com Leandro e Leonardo que já estava direcionado para a grande massa. 

Nos anos 2000, já vemos o começo da era acústica. Em 2005 o inicia-se a era universitária. E agora, vemos um sertanejo com várias frentes que já não conseguimos definir mais. 

Quais são as questões em que a música sertaneja precisar melhorar ou mudar?

R: Precisamos retomar um pouco das qualidades das letras que andam muito defasadas. Hoje em dia, se compõe mais no que vai ser consumido rápido e não no que vai permanecer. Pensa-se em criar mais "memes" do que se criar hinos ou clássicos. Então, isso dificulta um pouco a longevidade da música sertaneja atual. 

Quais são as suas expectativas sobre os próximos passos da música sertaneja pós-pandemia?

R: Acredito que essa queda da música sertaneja, que já vem sendo evidenciada, vai fazer com que o gênero volte a se filtrar de uma maneira melhor, dando mais valorização à artistas com mais qualidade, até porque os com menos qualidade estão buscando apenas seguir o que está sendo feito pelos artistas que estão em primeiro lugar nas plataformas digitais, que hoje são os caras do forró, do funk e da pisadinha. O sertanejo está caindo e abrindo espaço para esses gêneros e os sertanejos mais afoitos estão indo nesse "vibe" e tentando pegar carona nesse sucesso, deixando o real sertanejo de lado. 

Outros artistas que não estão seguindo isso e querem valorizar mais o sertanejo estão começando a se destacar mais. Conseguimos ver uma qualidade bem maior no trabalho deles. 


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