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04/11/2021 às 16h11min - Atualizada em 04/11/2021 às 15h55min

Escritora moçambicana é a vencedora do Prêmio Camões 2021

Paulina Chiziane enfatiza que o prêmio recebido é dela e de todo um povo que se identifica com ela

Ianna Oliveira Ardisson - Editado por Larissa Bispo
Fonte/Reprodução: Google
Uma mulher que cresceu nos subúrbios da cidade de Maputo e participou ativamente durante sua juventude na cena política de Moçambique como membro da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique). Posteriormente, devido a desilusões com os rumos assumidos pelo partido que ascendeu ao poder após a independência do país, deixou de se envolver na política para se dedicar à escrita e a publicação das suas obras. Atualmente, presta consultoria ao desenvolvimento de projetos de ajuda internacional com foco em conflitos e defesa dos direitos das mulheres. Essa mulher, a escritora Paulina Chiziane, 66, venceu a edição de 2021 do Prêmio Camões. Dentre suas obras, destaca-se “Baladas de amor ao vento”, de 1990, que foi o primeiro romance publicado por uma mulher em Moçambique.


 
O Prêmio Camões foi instituído pelos governos de Portugal e do Brasil no ano de 1988. É uma premiação anual, considerada a mais importante da literatura a premiar um autor de língua portuguesa pelo conjunto da sua obra. O prêmio consiste numa quantia pecuniária resultante das contribuições dos dois Estados, fixada anualmente de comum acordo. A premiação, então, contempla autores da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). A comissão julgadora é composta por representantes do Brasil, de Portugal e de países africanos de língua oficial portuguesa. Sobre as últimas edições, destacam-se o vencedor de 2020, o português Vítor Manuel de Aguiar e Silva; e em 2019 o brasileiro Chico Buarque de Hollanda.
 
Além de Paulina Chiziane, outros escritores africanos foram premiados em edições anteriores. Veja em que ano, quem e seu país de origem:

1991 - José Craveirinha - Moçambique
1997 - Artur Carlos M. Pestana dos Santos (Pepetela) - Angola
2006 - Luandino Vieira - Angola
2009 - Armênio Vieira - Cabo Verde
2013 - Mia Couto - Moçambique
2018 - Germano Almeida - Cabo Verde

 
O livro “Niketche — uma história de poligamia” é a obra mais conhecida de Paulina Chiziane. Nele, discute-se o relacionamento poligâmico e a submissão feminina na cultura africana. O romance é dividido em 43 capítulos. A narradora-personagem, Rami, analisa sua condição e a de outras mulheres vinculadas à tradição de uma sociedade patriarcal. Rami resolve em dado momento reunir todas as mulheres do marido para discutirem a situação delas. Ela faz isso no aniversário de 50 anos do marido Tony que, surpreso e envergonhado com a reunião, acaba fugindo e é considerado morto. Disso resulta várias situações diante do fato de ele não ter morrido realmente.


 
Ao canal “Diário de Moz”, no YouTube, Chiziane conta sobre como recebeu a notícia sobre o Prêmio Camões. Ela diz que foi pega de surpresa com uma ligação e que devido a pandemia, confinada em casa, já nem se lembrava da premiação. Paulina conta que a verdura que estava fazendo acabou queimada e que ficou meio transtornada, sem saber o que estava acontecendo, mas que de toda forma saber da conquista do prêmio foi uma informação feliz. Ao falar sobre si, disse:
 
“Costumo dizer que venho de lugar nenhum. Eu sou aquela pessoa que aprendeu a ler e escrever, foi a escola, teve essa sorte. Mas também tive a sorte de caminhar pelo país e descobrir as maravilhas que esse país tem.  Então, eu não sou propriamente aquela pessoa de quem se pode dizer ‘ela veio do status social X’, assim, nobre. Não! Eu vim do chão. Então, um reconhecimento para alguém que veio de lugar nenhum, sem dúvidas é um motivo de inspiração para uma outra geração. Esse reconhecimento vem pra mim sim, mas não vem pra mim, vem pra todo um povo que vê em mim alguém que faz parte deles próprios. Tudo que eu tentei escrever nos diferentes livros é parte da nossa memória coletiva, portanto eu nunca falei nos livros na minha voz pessoal, mesmo nos livros que escrevo em primeira pessoa, eu estou a trazer a voz coletiva. Portanto, é todo um povo que é agraciado por este grande prêmio”

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