Em um passado onde cada sexo era identificado, principalmente pelas vestimentas, podemos concordar que não era nada comum as mulheres usarem calças. Pelo contrário, durante muito tempo, elas eram obrigadas a vestirem espartilhos, saias longas e volumosas. E você sabe quando isso começou a mudar?
O início do século XX foi marcado pelo movimento sufragista, que, de uma forma bastante resumida, foi a luta das mulheres pelo direito ao sufrágio, ou melhor dizendo, ao voto. Além disso, a ação também representou a primeira onda do feminismo.
Nesse meio tempo, as sufragistas aderiram a um estilo de jaqueta e saia, que se tornou o símbolo do movimento, o conjunto ficou conhecido como “terno sufragista”. Desta forma, como não se tratava apenas de política, o modelo veio a se tornar uma verdadeira inspiração para a moda feminina.
Deste modo, o estilo sufragista se tornou uma inspiração para Gabrielle Coco Chanel. A estilista francesa é vista por muitos como a criadora do primeiro terninho feminino. Entretanto, o modelo criado por Chanel, não levava o uso de calças. Conhecido como tailleur, o conjunto de blazer e saia, representou uma grande evolução no mundo fashion.
Acima de tudo, Coco Chanel criou uma peça que se ajustava perfeitamente à mudança no estilo de vida das mulheres. Apresentado em uma pequena exposição em Paris, no ano de 1925, o modelo caiu no gosto popular, apesar de ter sido desenhado pela primeira vez em 1914.
A partir daí, o modelo resistiu por muito tempo, e foi adotado por importantes figuras femininas, como a ex-primeira-dama dos Estados Unidos, Jackie Kennedy, a atriz Brigitte Bardot e a Princesa Diana, conhecida como Lady Di. A estilista não parou por aí! Além do tailleur, Chanel lançou moda com vestido tweed debruado (sem espartilho), o chemisier simples, que remetia-se à camisa masculina, e o corte de cabelo curto à "la garçonne”.
O terninho feminino visto como controle social
Em 1932, a atriz Marlene Dietrich causou exaltação quando apareceu no lançamento do filme “The Sign of the Cross” vestindo um terninho feminino. O caso foi tão impactante, que acabou parando no congresso americano.
O órgão teve que decidir se atitude violava ou não as regras sociais em vigor, pois, na época, o fato de uma mulher usar calças poderia ser considerado crime, causando até prisão sob a acusação de estar se “disfarçando de homem”.
Anos depois, em 1950, uso de calças ainda não era aceito no ambiente de trabalho, nem em ocasiões formais. De acordo com a historiadora de Arte, Anne Hollander, a relação entre o estilo masculino e o feminino era bastante idealista. A divisão ditou por muito tempo a vida das mulheres. Acima de tudo, dizia como elas deveriam ser, e quais roupas poderiam ou não vestir.
O terninho feminino é de longe mais confortável do que o tailleur da Chanel. Ao mesmo tempo em que o terninho buscava ser prático e cômodo, o tailleur se mantinha com aparência mais tradicional. Vale ressaltar que ele também foi visto como sinônimo de poder.
O modelo usado por mulheres é duplamente provocativo. Além da influência do terno tradicional masculino, a peça ainda traz a versão de uma mulher ousada e moderna.
As atrizes Marlene Dietrich, Katharine Hepburn, a cantora Françoise Hardy e a ativista Bianca Jagger são exemplos de mulheres que usaram o terninho feminino como slogan. Todas sempre exalaram sensualidade e elegância.
Moda e feminismo nos dias de hoje
Apesar de ainda existir bastante repercussão sobre a falta de diversidade no mundo da moda, o movimento feminista mudou a forma com que essa indústria aborda a imagem do corpo feminino colocando a mulher como protagonista dessa criação.
Se antes era feita por homens, com imagens fetichistas, machistas e pensadas exclusivamente no que era atraente aos olhos deles, hoje marcas lideradas por mulheres invadiram a passarela e as vitrines. Quando pensado por elas, o conforto e as necessidades diárias estão em primeiro lugar.
Em um palco de corpos usados como instrumento político, expõe-se a pele nua, o mamilo “proibido”, a coxa pouco escondida por comprimentos mínimos e a bunda por baixo de uma transparência, como linguagens da liberdade. Após tantas proibições e restrições, por meio do poder alcançado, as mulheres começaram a decidir o que e se vão mostrar algo.