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14/11/2021 às 00h27min - Atualizada em 13/11/2021 às 23h50min

Antonia: a sinfonia de uma mulher que sabe, sim, sua posição

Filme 'Antonia: Uma Sinfonia' levanta questões importantes

Fernando Azevêdo - Editado por Larissa Bispo
Foto: Reprodução/Mulher No Cinema

Desde pequena, era muito sonhadora. Gostava do som das coisas; queria eternizá-los. Até que aprendeu que ela mesma podia produzir uns belos sons. Fantástico!

Ela também amava coordenar os sons; entender qual nota devia ser mais alta, qual devia ser menos intensa. E assim seguiu sua paixão: compreender a música. Teve contato com uns espetáculos; estava determinada a ter aulas de piano. Queria voar musicalmente, se tornar íntima dos sons. Queria, também, aulas de regência. Queria ser maestrina.  Parece uma carreira promissora, não?

Talvez a resposta seja um pouco complexa. Adaptada e resumida para este texto, essa é a história de Antonia Brico, que baseia o filme "Antonia: Uma Sinfonia". A trajetória de Antonia (ou Willy, no início do filme), ambientada nos anos 1920 e 1930, é repleta de sucessivas desconfianças e comentários desmotivadores, mas ela é, de fato, muito determinada.

A única característica em Antonia que gerava desconfiança era seu gênero. Seu talento sempre ficava como acessório, e ela tinha de fazer um baita esforço para mostrar que era capaz de assumir a posição de regente de uma grande orquestra. Mostrar que sua posição era onde ela quisesse. E assim o fez. Antonia foi a primeira mulher a conduzir uma orquestra com sucesso.

O fim do filme conta com fatos e dados sobre Antonia e sobre as mulheres na regência. Antonia, mesmo tendo dedicado sua vida à música, nunca chegou a ter o cargo permanente de regente chefe. A revista Gramophone, renomada no mundo da música clássica, em 2008, publicou uma lista com as 20 melhores orquestras do mundo. Nenhuma delas foi regida por uma mulher em toda a sua história. Em 2017, a lista da Gramophone elegia os 50 melhores regentes de todos os tempos. Nenhuma maestrina estava na lista.

Uma história provocante

Voltando àquela pergunta, no contexto do filme, a única carreira promissora que uma mulher podia sonhar era a de dona de casa/boa esposa/mãe. Por isso mesmo, a ousadia de Antonia é tão aconchegante. Ela ultrapassa barreiras de gênero, e é importante que sua história seja lembrada e reconhecida. 

Maria Fernanda, estudante de Jornalismo, destaca que a história de Antonia é desconhecida. "Eu fiquei muito… Eu não diria chocada, mas surpresa, por nunca ter ouvido falar sobre a Antônia, e também nunca ter ouvido falar nada sobre esse universo musical, nem como as mulheres demoram muito pra conseguir ocupar esses cargos de regentes, de maestrinas". 

E o próprio filme, que traz muitas questões e reflexões interessantes, como a transexualidade de um personagem, em plenos anos 1930, também parece ser desconhecido, segundo ela.

A vida de Antonia também faz pensar a vida de outras mulheres que construíram grandes carreiras e revolucionaram os cenários antes masculinos, e que também sofreram comentários machistas. Maria Fernanda traz esse ponto, relacionando uma cena, em que Antonia é vítima de assédio por parte de um professor, com a cantora brasileira Anitta. O ponto em comum, para Maria, é como as mulheres são questionadas e desacreditadas sobre o porquê de elas terem feito sucesso - perguntam: o que elas teriam feito para isso?, não: que potencial elas têm?

Maria Fernanda diz que foi provocada por reflexões. Desde o início da carreira, ainda antes da primeira apresentação, Antonia foi testada ao máximo. Maria lembra que havia uma outra regente prestes a se apresentar, mas que acabou não conseguindo, devido a tanta pressão. Os jornais repercutiram. "Mulheres não estão aptas a reger uma filarmônica", destacava um. Isso, pontua a jornalista em formação, reduzia a margem de erro para Antonia.

Mas Antonia conseguiu, e, junto a essa conquista, veio a abertura de portas para outras mulheres que quisessem ousar, em um sentido positivo, no mundo da música. Antonia se tornou um exemplo de representatividade. 

 

“Hoje, a gente sabe que mulheres podem ser médicas, podem ser professoras, químicas, físicas; mas não se fala muito sobre como essas mulheres podem ser regentes, né, não é uma profissão assim tão ‘comum’. [...] Eu fiquei imaginando, sabe? Quantas meninas hoje, no mundo, sonham um dia ser regentes? Será que as mulheres sabem que podem ser regentes, que podem ser maestrinas? [...] O filme teve até esse contato de: olha aí, mais uma coisa que dá pra gente ser, sabe? Dá pra gente ir quebrando essas barreiras no machismo mesmo”, declara a estudante.


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