O relatório político sobre os efeitos dos incêndios recorrentes na Amazônia brasileira foi apresentado no dia 5 deste mês durante a realização da 26 º Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26). O levantamento que originou o relatório, realizado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), alerta para a necessidade de contabilizar as emissões de carbono tardias advindas da vegetação que permanece viva após ser degradada por incêndios florestais. Isso porque nos inventários nacionais de emissão de gases de efeito estufa, ainda são consideradas apenas as emissões por desmatamento.
Segundo os realizadores da pesquisa, não contabilizar as emissões tardias pode resultar na superestimação do desempenho da Amazônia brasileira na absorção de CO² e comprometer o orçamento de carbono brasileiro. Em entrevista ao Poder360, a diretora de Ciência do IPAM e participante da pesquisa, Ane Alencar, relatou que os inventários atuais consideram as florestas da Amazônia tão saudáveis quanto eram no ano de 1500.
“A realidade é que as florestas queimadas passaram a emitir mais carbono do que absorver gases estufa, principalmente devido ao fogo e das mudanças climáticas”, esclareceu.
Florestas atingidas por incêndios armazenam 25% menos CO² que florestas preservadas do fogo e podem atuar como fontes emissoras de carbono por pelo menos 10 anos. É o que consta no relatório apresentado pelo IPAM (disponível na íntegra). A pesquisa aponta que, 215.577 km² da vegetação amazônica brasileira queimou pelo menos uma vez desde 1985 e cerca de 58% desta mesma vegetação queimou várias vezes nesse período. Até o ano de 2020, 49% da floresta afetada pelo fogo foi desmatada, restando cerca de 108.470 km² de floresta altamente degradada em decorrência de incêndios florestais.
Cerca de 20.969 km² das florestas degradadas se encontram em áreas de preservação e agem como fontes de emissão. Ainda assim, seguem sendo consideradas, com as demais áreas degradadas, como agentes ativas do processo de absorção de carbono. O resultado é um cálculo impreciso da real taxa de emissão de CO² que deve constar no orçamento de carbono a ser emitido anualmente pelo Brasil. Se contabilizadas junto ao desmatamento, as emissões de carbono ocasionadas pela degradação de florestas incendiadas representariam um aumento de 21% das emissões anuais de CO² no país.
“Essas florestas precisam de proteção especial para poderem ter a chance de recuperar sua capacidade de armazenar e absorver carbono. Enquanto as florestas degradadas estão se recuperando, elas não devem ser contabilizadas pela remoção de carbono”, diz o relatório.
“Mesmo com emissões de desmatamento baixas ou zero, ainda teremos emissões tardias da degradação florestal enviando mais CO² para a atmosfera do que absorvendo” conclui o relatório.