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01/12/2021 às 23h45min - Atualizada em 28/11/2021 às 22h33min

Narrativas | Três mulheres pretas na historia da educação brasileira

Biografia da trajetória e contribuição na educação brasileira de Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo e Maria Firmina dos Reis

William Haxel - Revisado por Márcia Nascimento
Ilustração “Mulheres Negras” de Mônica Aguiar.
Ilustração “Mulheres Negras” de Mônica Aguiar. (Foto/Reprodução: Mônica Aguiar)

Brasil é um país com várias narrativas, contos e histórias diferentes. Advento de uma exploração colonial foi diversificado em vários aspectos regionais, políticos e culturais. Entretanto, alguns fatos e histórias são ocultados ou omitidos em detrimento de outros. Pensando nisso, o texto se encarrega de contar a trajetória de três mulheres negras que fizeram e fazem uma participação histórica e essencial para a educação brasileira. 

Carolina Maria de Jesus



Carolina Maria de Jesus
 nasceu em 1914, na cidade de Sacramento, em Minas Gerais. Mudou-se para São Paulo, onde trabalhou como empregada e catadora de papel para se sustentar e sustentar seus três filhos, que criava sozinha. Carolina escrevia sobre seu dia a dia na favela do Canindé, Zona Norte de São Paulo, até que, em 1958, conheceu o jornalista Audálio Dantas, que a auxiliou na publicação de seus diários.

Carolina frequentou a escola até o segundo ano do ensino fundamental, onde aprendeu ler e escrever, no entanto, vinda de família muito humilde e sem letramento, em sua casa não havia livros que a futura escritora pudesse ler. Muito empolgada com a nova habilidade de leitura, acabou procurando livros com sua vizinha. Foi quando teve acesso à Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães.

Audálio Dantas, admirado com a capacidade de expressão de Carolina, resolveu ajudá-la a publicar seu primeiro e mais famoso livro. Apesar de Carolina não ter frequentado muito a escola, o conhecimento que adquiriu no pouco que a frequentou foi o que lhe possibilitou expressar-se enquanto mulhernegramãesolteira moradora da favela, gerando um livro que foi a alavanca de sua vida.

Com uma imagem determinada e uma força nítida, Carolina tornou-se uma referência de mulher negra brasileira. Sua imagem vem formando-se como um ícone de força por sua história, origem e percurso. Apesar de ter passado muito tempo esquecida, Carolina Maria de Jesus chegou a lançar seus livros fora do Brasil, tendo traduções em 14 línguas.

Seu primeiro livro, Quarto de Despejo, publicado em 1960, vendeu dez mil cópias, em quatro dias, e 100 mil cópias, em um ano. Esse livro relata suas vivências na favela, sobre como sobrevivia à fome com seus filhos. Até hoje é um relato atual da condição de vida de muitas outras mulheres nas favelas do Brasil. Escreveu também Casa de Alvenaria (1961), Pedaços de Fome (1963) e Provérbios (1963). 
 
Ainda que tivesse ganhado muito dinheiro praticamente do dia para a noite, não conseguiu administrar sua fortuna. Enfrentando o preconceito de uma sociedade que, em grande parte, relacionava o talento de Carolina com a figura de Audálio — um homem branco e letrado — em seus livros posteriores, não alcançou o lucro que havia feito com sua primeira publicação, chegando, então, a voltar a pegar papel na rua para sobreviver, até sua morte, em 1977.

Conceição Evaristo

Conceição Evaristo nasceu em 29 de novembro de 1946, em uma favela na cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Em 1973, mudou-se para o Rio de Janeiro. Fez graduação em Letras, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestrado em Literatura Brasileira, na PUC-Rio, e doutorado em Literatura Comparada, na Universidade Federal Fluminense (UFF).

Em 1958, ao terminar o primário, segundo Conceição Evaristo, ela ganhou seu primeiro prêmio de literatura, pois venceu o concurso de redação da escola. O título de seu texto premiado: Por que me orgulho de ser brasileira. Aos 17 anos, aderiu ao movimento da Juventude Operária Católica (JOC), que promovia reflexões sobre a realidade brasileira. Após terminar o Curso Normal no Instituto de Educação de Minas Gerais, em 1971, ela decidiu mudar-se para o Rio de Janeiro. A partir daí, as reflexões sobre questões étnicas passaram a ser mais constantes na vida da escritora.

Seus primeiros contos e poemas foram publicados na série "Cadernos Negros", e seu primeiro e mais famoso romance, Ponciá Vicêncio, foi publicado pela primeira vez em 2003. Em 2016, ganhou o Prêmio Faz Diferença, na categoria prosa, do jornal O Globo. Já em 2018, ganhou o Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais, pelo conjunto da obra. Em 2019, ganhou o Prêmio Jabuti, na categoria Personalidade Literária do Ano.

Assim, essa menina questionadora trabalhou como empregada doméstica para concluir o curso normal aos 25 anos de idade, depois prestou concurso para o magistério no Rio de Janeiro, onde trabalhou como professora da rede pública de ensino, fez faculdade, mestrado, doutorado e transformou-se numa das escritoras negras mais conhecidas do Brasil.

Principais obras: Ponciá Vicêncio (2003), Becos da Memória (2006), Poemas de Recordação e Outros Movimentos (2008), Insubmissas Lágrimas de Mulheres (2011), Olhos D’água (2014), Histórias de Leves Enganos e Parecenças (2016) e Canção para Ninar Menino Grande (2018).


Beatriz Nascimento


 

Maria Beatriz Nascimento nasceu em Aracaju, em 1942, filha de uma dona de casa e de um pedreiro, ela teve dez irmãos. Aos sete anos, ela e sua família migraram para a cidade do Rio de Janeiro. Formou-se em História, em 1971, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Durante sua graduação, fez estágio no Arquivo Nacional. Após a formatura, começou a dar aulas na rede estadual. Foi nesse período que ela iniciou sua militância negra participando e propondo discussões sobre a temática racial no ambiente acadêmico. Participou da Quinzena do Negro como conferencista e nela falou sobre seus incômodos quanto ao espaço universitário falar do negro apenas como escravo, como se as pessoas negras tivessem participado da história apenas como mão-de-obra. Também ajudou a criar o grupo de trabalho André Rebouças. Em 1981, terminou sua pós-graduação lato sensu na Universidade Federal Fluminense.

Havia iniciado um mestrado em comunicação social, na UFRJ, quando foi assassinada ao defender uma amiga da violência doméstica. Beatriz Nascimento foi uma estudiosa sobre a temática racial, abordou em suas pesquisas os quilombos e toda experiência de resistência dos africanos e de seus descendentes em terras brasileiras, incluindo as religiões de matriz africana. A voz de Beatriz dentro do mundo acadêmico representa ainda hoje um grito de resistência, já que a universidade sempre foi um espaço excludente para pessoas negras, especialmente mulheres. Além da trajetória de ativista intelectual, que tanto inspira ainda hoje o Movimento Negro e Feminismo, Beatriz também escrevia poesias. Em sua obra, ela fala com sensibilidade sobre a existência dela como mulher e negra. 


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