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05/12/2021 às 17h20min - Atualizada em 05/12/2021 às 17h15min

O importante lançamento de Marighella em 2021

Filme que conta a história do guerrilheiro comunista Carlos Marighella, sofreu com tentativas de boicote

Elizabeth Vilanova de Lima - Editado por Ynara Mattos
https://blogs.oglobo.globo.com/bela-megale/post/amp/depois-de-entraves-para-chegar-ao-cinema-marighella-enfrenta-problemas-para-ser-exibido-no-congresso.html
Capa do filme

A primeira data de estreia de “Marighella” no Brasil era o dia 20 de novembro de 2019, para marcar os 50 anos da morte do ativista e o Dia da Consciência Negra. Com entraves burocráticos, ataques internos e a pandemia mundial, o filme só conseguiu ser exibido nós cinemas mais de dois anos depois, em novembro de 2021.

O primeiro longa, dirigido pelo também ator, Wagner Moura, é baseado na biografia Marighella: O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo de Mário Magalhães. Com um roteiro forte e previamente marcado por censuras e questionamentos, o filme já nasceu tão polêmico quanto o homem do qual conta a história.

Ao longo dos anos, dos entraves de ressarcimento da Ancine, de algumas palavras ditas por simpatizantes do atual governo, membros da equipe do longa se manifestaram alegando censura e perseguição. O diretor Wagner Moura, e os atores Seu Jorge (Marighella) e Bruno Gagliasso (Lúcio) falaram abertamente sobre.

O fato é que depois de todas essas questões, o filme enfim pode estrear no país, após ter sido aclamado em alguns países, como ocorreu em 2019, onde foi aplaudido de pé, no Festival de Berlim. Estreando em um momento melhor da pandemia, tratando de uma figura importante da história política do país e com toda a polêmica envolvida, “Marighella” foi bem sucedido nas bilheterias.

Após a estreia, profissionais envolvidos no filme e o autor da biografia em que o filme foi baseado, o escritor e jornalista, Mário Magalhães, exultaram por finalmente poderem ver a obra nas telonas. O diretor Wagner Moura, afirmou que todas as tentativas de prejudicar o filme contribuíram para o interesse do público na história.

Tudo isso nos leva a pensar na importância de ter Marighella chegando no momento político atual que o Brasil enfrenta. Sendo assim, Alexandre Maccari Ferreira que é Pesquisador de História do Cinema, nos concedeu uma entrevista onde expôs suas opiniões sobre o sucesso do filme e sua importância.

Os números de bilheteria do filme tem sido bem expressivos. Acredita que todo o boicote acabou servindo como publicidade?

“Acredito que a bilheteria tem mais a ver com a produção que envolve um tema relevante e o engajamento do público cinéfilo, que em geral, é pró-cultura, do que uma resposta ao boicote e censura que o filme sofreu. De toda forma, obras engajadas vem demostrando uma rede de espectadores que impulsiona a promoção pelas redes sociais, como acontece com “Marighella” e como aconteceu antes da Pandemia com “Bacurau”. Mas é difícil afirmar isso, sem uma pesquisa de campo com base científica.”

Quão positivo é ter “Marighella” lançado justamente durante o atual período político que o país enfrenta?

“Quando o filme começou a ser feito ainda tínhamos um governo democrático que respeitava instituições e o cinema brasileiro. Refiro-me ao governo Dilma. Após o golpe, acredito que a obra foi atingida pelo momento, e com a eleição do atual presidente o filme tornou-se mais que um filme de ficção para se tornar um emblema do momento que vivemos. Mas é importante lembrar que se trata de uma cinebiografia, que respeita questões históricas e o próprio livro em que se baseia, e que ao ver o filme nesse momento a conexão que se estabelece é como o espectador concebe a obra, que tem um vigor de resistência, mas que tem também um lugar de fala.”

É importante que os mais jovens, sobretudo os que estão começando a ter consciência política, assistam ao filme?

“Sem dúvida que é fundamental que os jovens assistam à obra. Tão importante é que eles reflitam a partir do filme o que se deseja para o futuro do país. Creio que “Marighella”, por ser um filme de ação, atinge e engaja a compreensão sobre o que foi viver em busca de liberdade democrática em uma ditadura. O cinema propicia um caminho para se pensar, mas que dialoga com as vivências, experiências e memórias dos espectadores.”

Qual a principal lição que o filme deixa nesse momento onde a ideologia “anti-esquerda” é tão difundida no Brasil?

“Penso que a principal reflexão que o filme transmite é a importância em se lutar por um bem coletivo, em busca de respeito e liberdade e seguir a transformação da sociedade pelo engajamento e pela consciência de que respeitar a cultura e a diversidade são fundamentais em uma democracia.”

Concluímos ser essencial conhecer a história desse político, ativista e guerrilheiro brasileiro e de todo o contexto que envolve sua vida e morte. Independente de gostar ou mesmo concordar com os posicionamentos de Carlos Marighella, saber mais sobre ele, é saber mais sobre importantes momentos políticos brasileiros.

Mesmo em dezembro, após estar nos cinemas, “Marighella” continua sofrendo entraves. Dessa vez, mesmo após uma comissão aprovar sua exibição no Auditório Nereu Ramos, na câmara dos deputados, o presidente da casa, Arthur Lira, ainda não definiu uma data para isso ocorrer, causando descontentamentos em alguns parlamentares.


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