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06/12/2021 às 22h13min - Atualizada em 06/12/2021 às 21h44min

Saiba como sensacionalismo pode virar crime

Relação entre a mídia sensacionalista e o vilipêndio

Nátaly Tenório - Lab Dicas
Nátaly Tenório

Sensacionalismo, segundo o dicionário da língua portuguesa, é o interesse da imprensa em buscar assuntos que provocam escândalos ou chocam a sociedade, geralmente de teor falso, com um acréscimo de drama, para atrair a atenção da sociedade.

Atualmente, com a mídia sensacionalista, muitos meios de comunicação querem estar à frente dos seus concorrentes e acabam se esquecendo da ética e do respeito ao próximo, assim, espalhando notícias falsas ou fotos desrespeitosas. 

Um caso recente que ocorreu, foi o da morte precoce da cantora Marília Mendonça. A artista sofreu um acidente de avião e após o ocorrido, supostas fotos de seu corpo sem vida foram compartilhadas na internet. Posteriormente,foi dada a confirmação de que o corpo não era o da cantora. Apesar de as fotos serem falsas, a imagem de algum corpo desconhecido foi utilizada para fingirem que era o dela, e também ocorreu desrespeito com os familiares da mesma, que podem ter acreditado nas fotos. Muitos casos de vilipêndio a cadáver foram cometidos. 

Ouça agora um podcast que fala sobre esse caso: 


Segundo o advogado Evandro Moreti, vilipêndio a cadáver, é o ato de profanar, desrespeitar e ultrajar um cadáver. “Como consta no Art.212- Vilipendiar cadáver ou suas cinzas pode gerar pena com detenção de um a três anos e multa”, diz Moreti.


Arte de Nátaly Tenório 

Em 2015 a polícia Civil indiciou dois funcionários da Clínica Oeste, onde o corpo do cantor Cristiano Araújo, que morreu no mesmo ano, foi preparado. Os funcionários vazaram fotos e vídeos em redes sociais do momento em que o corpo do cantor era preparado para o sepultamento. Na época do ocorrido, eles responderam pelo crime de vilipendiar cadáver, com pena que foi de um a três anos de prisão.

 

Osvaldo Rodrigues de Souza Filho, professor de jornalismo da Universidade São Judas Tadeu, e ex-fotógrafo, conta que em seus anos de profissão já teve que fotografar acidentes muitas vezes, mas que sempre fez isso com responsabilidade. “Quando se é profissional, temos de ter muito cuidado com o nosso trabalho. Eu, por exemplo, já fotografei um rapaz que se suicidou se jogando do 20º de um edifício. Fotografei o trabalho da polícia e o corpo na rua, mas era uma imagem jornalística, que afinal nem foi publicada, pois não se publica notícia de suicídio.” O professor também relata que a foto ficou arquivada no jornal. “Ninguém a compartilhou com ninguém, isto é trabalhar com responsabilidade”, finaliza. 

Osvaldo diz que a função do jornalista é a de informar o leitor, mas que imagens muito violentas geralmente não são publicadas. “Qualquer que seja a imagem, ela só deve ser publicada se for com o intuito de informar o acontecido ao leitor, quando se compartilha imagens nítidas de acidentes, isso deixa de ser jornalístico”, explica.

Apesar do jornalismo estar em um momento conturbado por disputa de audiência, as faculdades tentam preparar os seus alunos para seguirem a ética, e trabalharem da forma mais correta. 

É o caso da estudante de jornalismo, Giovanna Minarrini, sobre o caso da Marília Mendonça, ela acredita que muitos passaram dos limites. “Foi algo para atrair o público em relação a acessos e a cliques. Os profissionais não estão totalmente preparados para cobrir notícias como a da Marilia Mendonça, por falta de preparo, acabam cometendo erros que não deveriam ocorrer de forma alguma, por questões de ética, de profissionalismo, mas muitos jornais contam com empresas que os apoiam, e acaba tendo uma pressão interna entre esses profissionais”, relata.

Por fim, Giovanna deixa um conselho para seus colegas de profissão. “Sempre se coloquem no lugar da família da vítima e dos envolvidos, o jornalismo é sempre bem objetivo, mas nós como profissionais, não precisamos expor isso, e pensar antes sobre a melhor maneira de passar a notícia para o público.” 

Segundo a psicóloga Ione Barbosa, a reação dos familiares das vítimas com corpos expostos, vai depender muito do estado psicológico atual. “Tem pessoas que vão levar isso de forma muito tranquila, pois o assédio era uma situação que eles já estavam acostumados”, diz. 

Sobre os cidadãos que cometem vilipêndio, relata que são pessoas insensíveis. “Eles não possuem um nível de empatia, mas não é possível afirmar que possuem algum tipo de patologia psicológica, sem ter uma conversa com essas pessoas”, diz Ione.

Segundo a jornalista Carol Cassoli, o código de ética do jornalismo deixa claro que tipo de fotos deve ser publicadas. “A informação jornalística tem finalidade pública, coisa que a divulgação do corpo de um cadáver não possui. Cabe o bom senso, ninguém gostaria que a imagem de um familiar fosse exposta da mesma forma. No jornalismo, o texto e a imagem conversam, é fundamental ter uma imagem, mas no caso da Marília Mendonça, só a foto do avião caído, já era o suficiente”, relata. 

Sobre o sensacionalismo, Carol conclui: "É uma realidade, tudo está ligado ao editorial, pela questão da audiência”.

Cabe às faculdades ensinarem o código de ética aos seus alunos, cabe aos jornalistas se colocarem no lugar dos familiares e cabe ao grande mercado da comunicação impor limites na hora de publicar uma matéria. O jornalismo só é válido quando tem a intenção de informar, e não de tentar ridicularizar e desrespeitar as pessoas.

 

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