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20/06/2019 às 22h09min - Atualizada em 20/06/2019 às 22h09min

O mercado Geek no Brasil e o seu impacto na vida dos jovens nerds

Vendedores e consumidores (e vendedores que são fãs consumidores) revelam como é o mercado de produtinhos da Cultura Pop no Brasil.

Ana Paula Figueiró - Editado por Bárbara Miranda
Na sequência: Loja Massa Véi e Loja Piticas - Foto: Ana Paula Figueiró
Ser Fã é uma coisa que vai além da compreensão de meros mortais. Todo aquele que ama séries, filmes, animes ou qualquer outro produto da cultura pop tem outro amor, além de apreciarem as obras, também existe aquela paixão pelos produtos referentes a elas. Camisetas, canecas, cadernos, funko pops, entre outros, fazem a cabeça e o estilo de vários apreciadores, de todas as idades.

Os fãs raiz sempre conheceram formas e "jeitinhos" para conseguirem suas aquisições, como assinar caixas surpresas ou comprar em sites "chineses". Para os novatos a coisa era diferente, não existia mercado que oferecia variedades. Com a procura crescendo, alguns empreendedores, sejam pequenos ou grandes, decidiram oferecer oferta a essa demanda, e foi assim que nasceram várias lojas especializadas, seja virtual ou física, com itens geeks.

A loja Piticas, empresa especializada em roupas com temas da cultura pop, com mais de 300 franquias espalhadas pelo país, oferece uma vasta variedade de produtos, que antes só eram encontrados pela internet. Em Brasília, são várias unidades espalhadas pelos shoppings, que se beneficiam do sucesso de determinadas produções midiáticas para atrair clientes.

Em muitos casos, as vendas dependem dos lançamentos, muitos fãs querem ter alguma coisa, nem que seja um chaveiro, que remeta ao seu personagem preferido. Wellington Silva, 20 anos, apelidado por amigos de Tom, confessa que muitas de suas escolhas são influenciadas por produções que estão em cartaz. “No meu caso, influencia muito, eu mesmo tenho roupas, jogos e até caneca, que são inspiradas em filmes. Eu gosto de filmes, é um bom entretenimento”, afirma.

Junior, 22 anos, é vendedor na unidade Piticas do shopping Alameda, em Taguatinga-DF, há 2 anos e meio. Segundo ele, a maioria dos compradores é crianças entre 12 e 14 anos acompanhadas pelos pais, que vão a procura de peças com estampa do seu protagonista preferido. Junior afirma que camisetas é o produto que está em alta, além disto, moletons e bonés também estão entre os mais procurados.

"O lançamento do Ultimato foi o melhor mês de venda da história da nossa loja. Justamente por causa disto, o lançamento. Sempre que tem algum filme que tá bombando no momento, a gente tem uma alta muito grande nas vendas", afirma o vendedor. Antes da entrevista ele estava organizado alguns itens e atendendo vários clientes, que observavam (e admiravam) as prateleiras cheias de referências e personagens da Marvel e DC, grande provedores de filmes e séries atualmente.

Já sabemos que as camisetas ainda são as queridinhas dos consumidores, mesmo gastando um pouco a mais do que deveria com outras mercadorias, todo fã arruma um jeitinho de adquirir uma dentre as várias que estão a venda. Wellington costuma comprar Jogos de Xbox One, porque sempre acaba enjoando dos antigos, mas o produto mais comprado por ele ainda é a camiseta. “Quero fazer uma coleção das camisas de super-heróis”, afirma Tom.

O hobby que virou trabalho (sério)













Mesmo com a grande procura ainda é difícil encontrar lojas físicas especializadas em qualquer cidade, mas existem as lojas onlines, que estão disponíveis em várias lugares na internet, para não decepcionar ninguém. Algumas têm variedades que deixam qualquer fã de queixo caído, como é o caso da lojinha do Anderson Batista. Conhecido mais como Maxixe, ele está começando com a lojinha Maxixe store por causa da sua grande paixão, colecionar.

Colecionador há mais de 20 anos, ele é apaixonado por miniaturas, e foi por esse motivo que transformou o seu hobby em trabalho. “Foi um sonho conseguir fazer a lojinha, outra parte do sonho e conseguir a loja física, com mais variedades e produtos”, revela. Maxixe revende seus modelos pelo instagram e nas feiras, que ele participa sempre que possível.

O comércio brasileiro não é favorável para esse nicho, ele explica que grande parte dos seus modelos têm poucas unidades ou são peças únicas, pois a maioria é importador. “Tem gente que compra em São Paulo, mas mesmo o vendedor de SP teve que comprar fora. No meu caso, pago um imposto muito alto de importação, isso dificulta um pouco também”, desabafa o colecionador.

“A gente tem que fazer uma manobra muito grande, para achar um fornecedor mais em conta, para comprar um produto mais em conta, para que mesmo pagando pelo imposto, a gente possa cobrar um preço mais justo para as pessoas poderem comprar”, explica Maxixe. Segundo ele, a maior dificuldade é essa questão da importação e o tempo que o produto demora para chegar no Brasil. Em muitos casos, a mercadoria chega na alfândega e ficar presa por  meses, até ser liberada ao remetente final.

Contratada por causa do conhecimento Geek
A paixão pelo mundo Geek também ajudou na vida da vendedora Lívia, 20 anos, que conseguiu o atual emprego, após disponibilizar sua ajuda em um evento para a loja Massa Véi, em Taguatinga-DF. O dono da lojinha percebeu que ela levava jeito para o cargo, pois conhecia o universo onde os produtos estavam inseridos e a contratou. "Eu geralmente entendo, gosto e consumo esse tipo de conteúdo, infelizmente metade do meu salário fica aqui (risos)", dispara a vendedora.

Toda empolgada, ela conta como começou a gostar desse mundo, revelando mais sobre os seus personagens preferidos e aquisições, e como todo o seu conhecimento adquirido no entretenimento lhe rendeu um emprego. A paixão virou profissão. Lívia coleciona mangás e sua grande paixão é Naruto. "Eu sempre gostei dessa área de filmes, séries e animes", salienta Livia.

Mesmo com o pouco tempo no ramo de vendas, Lívia já viveu algumas experiências. Ela revela que nunca sofreu nenhum tipo de preconceito por causa dos seus gostos pessoais, mas que já passou por algumas situações na loja que a deixaram um pouquinho irritada. "Na real, é muita mulher que vem aqui para procurar presente para o namorado e não sabe de nada, a maioria diz 'É que ele gosta dessas coisas de criança', eu só concordo e digo 'deixa ele ser feliz', se eu sou feliz, porque o cara não pode ser?", em meio aos risos, desabafa a vendedora.

O público jovem é fácil de ser cativado, mas para o público mais velho esse novo mercado ainda é, digamos curioso. "A maioria dos idosos que entram aqui olham as coisinhas diferenciadas, como alguns quadros e copos religiosos. Ficam olhando e acabam comprando algo, como um chaveirinho, para os netos ou filhos, que eles sabem que gostam. Nunca recebi um cliente 'aí, que horror' (cliente chato), geralmente é uns velhinhos bem maneiros", nos conta Lívia.
 
Fornecedor da loja Massa Véi: Mundo Paralelo BSB

Feiras para quem não tem acesso a lojas
As feiras Geeks, produções criadas de fãs para fãs, começaram a ganhar popularidade no decorrer dos anos e hoje são realizadas em vários estados diferentes, por fornecedores de todos os nichos. O que era limitado apenas para São Paulo, como a Comic Con, agora está presentes em várias cidades, com estruturas menores, mas não menos importante para quem curte a cultura pop no geral.

As exposições tem dois públicos, o consumidor e o estandista, que aproveitam da oportunidade para trocar experiências sobre as novidades lançadas. “O lado do estadista é muito bom, pois dá mais visibilidade para ele mostrar os seus produtos e o seu trabalho. A gente tem o lado da galera que vem para se divertir, com os videogames, concursos de cosplay, kpop, e mais algumas atrações que chamam as pessoas. É muito boa essa parte social”, relata o colecionador Maxixe.

As feiras são oportunidades para o público que não tem acesso fácil a artigos que são amados pelo público nerd, como videogames, quadros e miniaturas, e também para os quadrinistas e artistas locais exporem seus trabalhos. “Nas feiras todos têm ao menos a oportunidade de degustar um pouquinho dos lançamentos”, completa Maxixe.

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