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05/12/2022 às 07h22min - Atualizada em 04/12/2022 às 09h39min

A arte do protesto climático: Entenda o simbolismo dos ataques a obras de arte célebres

Ativistas miram peças especificas que fazem sentidos narrativos e ressoam com a própria crise ambiental

Madson Lopes - Revisado por Flavia Sousa
Ativistas cobrem a pintura "The Hay Wain" de Constable, com uma versão apocalíptica da obra. (Foto: Deutsche Welle).
O mundo da arte em 2022 foi marcado por atentados a pinturas, esculturas e peças arqueológicas consideradas patrimônios da humanidade. Do Reino Unido a Alemanha, Itália e França os ataques se intensificaram nos últimos meses. Os ativistas do clima pedem o fim da queima do gás fóssil e do petróleo. As organizações que mobilizam os ataques resolveram mirar os museus devido à repercussão nas redes que a ação poderia gerar. E deu certo.
 
Ativistas jogam sopa de tomate nos famosos "Girassoís" de Van Gogh na National Gallery de Londres (Video: Reprodução/Instagram).


Os ataques ocorrem principalmente na Europa, a região vive a pior seca em séculos além de registrar incêndios florestais sem precedentes. Paralelo a isso, aumenta a licença para mais exploração do petróleo e gás em regiões da Inglaterra. Isso porque, a guerra da Rússia e Ucrânia fez com que países europeus suspendessem temporariamente o gás natural que vinha da Rússia, como forma de punir o país pela invasão ao vizinho. Isso aumentou a demanda por gás na região.

Esse aumento da queima do gás fóssil foi o estopim para a intensificação dos ataques e novas formas de protestos. Obras de arte seria o alvo ideal para chamar atenção e ganhar espaço na mídia.


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Simbolismo dos ataques

A ideia dos ativistas consiste em encenar a destruição de algo belo e adorado por todos – como o quadro Girassóis, de Van Gogh. Ao fazer isso, estariam comunicando melhor à gravidade da crise climática. Pois assim como as célebres pinturas, a natureza também é bela, admirável e, especialmente, dona das paisagens que inspiraram os artistas, mas logo estará destruída se os governantes não implementarem politicas rígidas de preservação ambiental.

Um desses ataques ocorreu no dia 23 de outubro, na Alemanha. O alvo da vez foi à pintura ‘Grainstacks’ de Monet, que fica no Museu Barberini. Membros da organização Letzte Generation (Ultima Geração) jogaram purê de batata na obra. Questionada sobre a ação, a porta-voz do grupo falou que “Monet amava a natureza e capturou sua beleza única e frágil em suas obras”. Ela ainda questionou se as pessoas preferem ver uma imagem da realidade sendo destruída, ou a própria realidade.

Outro ataque simbólico ocorreu na Royal Academy, em Londres. Membros da organização 'Just Stop Oil' (Parem com o petróleo) colaram uma das mãos na moldura de uma cópia de “A Ultima Ceia” de Leonardo da Vinci. O icônico quadro ilustra Jesus fazendo sua ultima refeição antes de ser crucificado. Os ativistas lembraram a crescente desnutrição e processos de imigrações que tem relação com a crise climática. “Temos toda uma geração para quem pode ser a última ceia”, afirma um dos membros que participou da ação.



Críticas

Embora as cenas dos ataques gerem perplexidade, até agora nenhuma obra foi danificada – somente as molduras de proteção. Os protestos são meticulosamente organizados, as tintas utilizadas são feitas à base de água e quando há produtos químicos, como colas e sprays, é feito uma consulta a especialistas para ter certeza de não haver riscos.

Porém, as críticas ao movimento ganharam fôlego na internet. Comentarios falam que além das ações não provocar mudanças concretas em relação às pautas ambientais, ainda irá trazer antipatia à causa e aos grupos envolvidos. Além disso, visitas aos espaços culturais será menos agradável, pois as regras de segurança nas galerias e museus ficaram cada vez mais rígidas em razão dos ataques.

Já representantes dos Museus afirmam que ficará mais difícil encontrar patrocínios que financie as exposições artísticas, devido aos riscos que as obras estão correndo.

Os envolvidos também estão sendo acusados de caírem em contradições, já que o mundo desses ativistas é extremamente escorregadio. Comentários nas redes questionam o desperdício de comida enquanto pessoas no mundo inteiro, inclusive na Europa, passam fome. Também lembram que quem limpa a sujeira provocada nos ataques não são os governantes e poderosos, mas pessoas pobres e imigrantes em sua maioria.

Em razão das críticas, os grupos de ativista expressam pouca preocupação. Em comunicados e entrevistas concedidas, lideranças do movimento afirmam ter "profundo respeito e amor pela arte", mas que os ataques trouxeram visibilidade à causa climática, algo que dificilmente seria possível de outra maneira. Para esses grupos, os ataques, é um mal necessário.

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