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27/03/2023 às 01h04min - Atualizada em 27/03/2023 às 00h25min

A Antítese do Mundo Editorial

Consumo de livros e as adaptações do mercado editorial brasileiro

Giulia Mignone - Revisado por André Pontes
O mercado editorial brasileiro ainda enfrenta desafios e mudanças. (Foto: Reprodução / Getty Images)

O decreto de falência da Livraria Cultura no dia 9 de fevereiro de 2023 pesou como uma sentença de morte para os amantes de livros do país. Uma das mais tradicionais do Brasil, a Livraria Cultura, vem enfrentando uma forte crise nos últimos anos. Em 2018, a companhia entrou com um pedido de recuperação judicial, justificado pelo cenário econômico nacional adverso e pelo encolhimento do mercado editorial. Fechou lojas, como a do centro do Rio de Janeiro e as da rede francesa, encerrou atividades de produtos eletrônicos Fnac, reduziu o quadro de funcionários e refez seus planejamentos de curto e médio prazos. Na época, a diretoria declarou que manteria cada vez menos lojas físicas e que a estratégia seria investir de modo agressivo nos canais de venda digitais. Em 2017, a empresa adquiriu a plataforma de e-commerce de livros Estante Virtual, que hoje pertence à Magazine Luiza.

 

Mais de quatro anos depois, a Justiça de São Paulo decretou a falência da empresa. Segundo o juiz responsável pela decisão, Ralpho Waldo De Barros Monteiro Filho, a inadimplência passa de R $1,6 milhão. Mas a Livraria Cultura conseguiu achar um fio de esperança por meio de uma liminar que, ainda em fevereiro, suspendeu o decreto. A empresa tem duas lojas físicas, em São Paulo e em Porto Alegre, e mantém suas operações pelos canais digitais. 



A saga da Livraria Cultura não é muito diferente do cenário do mercado editorial brasileiro. A Crise, as tentativas de recuperação, o mercado virtual, expectativas e choques fazem parte do drama vivido pelo setor. Contudo, o início deste ano trazia uma perspectiva mais do que promissora. A Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia 2022 - 2026, divulgada em dezembro de 2022 pela PwC Brasil, projetou que o consumo de livros neste período seria maior no Brasil do que no resto do mundo. A taxa de crescimento anual do mercado editorial brasileiro prevista era de 2,5% enquanto no mundo era de 1,2%. Esses números colacavam o Brasil como o maior e mais rápido mercado de consumo de livros da América Latina.

 

De fato, o início de 2023 trouxe para o varejo de livros um faturamento superior ao do mesmo período do ano passado. De acordo com o Painel do Varejo de Livros no Brasil, divulgados pela Nielsen Books e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), foram R$ 263,83 milhões contra R$ 258,79 milhões em 2022, equivalente a 1,95%. Mas o que pode parecer uma tendência positiva à primeira vista não quer dizer que os brasileiros estão consumindo mais livros ou lendo mais. Isso porque o Painel também indicou que o volume de livros comercializados nesse período foi 5,38% menor. O que aumentou mesmo foi o preço médio dos livros, cujo valor passou a ser R$ 50,40. 

 

Ismael Borges, Territory Manager da Nielsen Book do Brasil, comentou em reportagem do SNEL. “É importante fazer uma pequena viagem no tempo, neste mesmo período do ano passado. O número apresentado naquela ocasião (crescimento de 22,43% em volume e 20,03% em valor) não só traduzia uma forte retomada às atividades de consumo, mas com isso também impunha um patamar alto de comparação para os próximos períodos. E aqui estamos no tempo presente olhando para um número que é objetivamente negativo, mas que precisa ser tratado com uma lupa mais atenta”.

 

Crise do mercado editorial brasileiro
 

A pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial Brasileiro, realizada pela SNEL e a Nielsen BookData e divulgada em 2022, revelou que o faturamento das editoras com as vendas para o mercado teve uma queda acumulada de 39% em termos reais (descontada a inflação do período) desde 2006. Entre 2014 e 2021, as vendas reais das editoras ao mercado encolheram 37%. A crise econômica enfrentada pelo país a partir de 2015 foi considerada um fator determinante para esse desempenho. 

 

De 2015 a 2019, o Brasil perdeu 4,6 milhões de leitores, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro (IPL), Itaú Cultural e IBOPE Inteligência. Em 2018, o setor editorial brasileiro produziu 11% menos livros do que em 2017. Além disso, as Livrarias Cultura e Saraiva pediram recuperação judicial. Na época, alegaram que a crise econômica, os preços da loja digital Amazon, a defasagem no tempo de publicação em relação aos lançamentos internacionais dos livros no país e a falta do hábito de leitura pelos brasileiros eram os fatores responsáveis pelas adversidades.  

 

O mercado editorial barsileiro apresentou um inesperado crescimento durante a pandemia. Impulsionados pelo isolamento social, muitas pessoas desenvolveram o hábito da leitura. Segundo levantamento SNEL, a partir de pesquisa feita pela Nielsen BookScan, em 2021 houve crescimento de quase 30% em relação a 2020 no número de livros vendidos (55 milhões) e também no faturamento. 

O consumo de conteúdos digitais, como e-books e audiolivros também aumentou, com 9,4 milhões de unidades vendidas, sendo 98% representado por e-books e 2% por audiolivros, como mostrou a pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro, coordenadas pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo SNEL. Contudo, os dados mostraram que os livros físicos estão longe de ter os dias contados. O conteúdo digital continua representando apenas 6% do mercado editorial no país.

A grande mudança está na venda de livros online. Uma pesquisa feita pela SNEL, no início de 2022, mostra que as vendas por e-commerce ocupam um terço das vendas em lojas físicas. Tendo a Amazon, maior varejista em valor de mercado do mundo, como exemplo. Esse modelo de negócio se destaca pela facilidade de publicação para autores independentes e preços mais acessíveis. O e-commerce se tornou um aliado na popularização da leitura, porém gera o afastamento entre o consumidor e o vendedor de livros. 

 

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