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04/06/2021 às 21h48min - Atualizada em 04/06/2021 às 19h31min

Mortal Kombat | Outra pobre vítima da maldição dos videogames

Divertimento esquecível

Raphael Klopper - Editado por Fernanda Simplicio
Fonte: Warner / Reprodução : Google
De forma curta e grossa: Mortal Kombat é um “fan-film” (feito por fãs) com alto orçamento, só não tão bom, criativo, ou fiel à sua fonte adaptada como um! Com certeza estava mais do que da hora de se ter um filme realmente bom de Mortal Kombat. Que, não só traria à vida legítima à fantasia violenta de natureza visceral icônica, gratificante e sádica icônica da aclamada série de jogos de Ed Boon, como também seria fiel ao potencial criativo presente em sua natureza tão vasta e rica que já se expande por mais de três décadas até agora com vários títulos, e trazer agora para o formato de filme.

Mas não, essa promessa acabou como uma bala que saiu pela culatra, resultando em um filme que é simplesmente ruim e fraco em seus piores momentos, mesmo tendo tido tudo a seu favor. Não consegue nem o beneficio de ser vulgar ou divertido como o filme de Paul W. S. Anderson de 1995, e acaba sendo apenas mais uma tentativa de criação de franquia blockbuster puramente genérica, com personagens sem alma, alguns bons momentos de ação, mas caracterizações completamente mal concebidas, deixando alto potencial desperdiçado.

 

Isso provavelmente já foi dito antes, mas não faz mal ser lembrado de novo, mas a base de fãs de Mortal Kombat sempre foi dividida entre aqueles que se importam com o lore, as histórias e os personagens daquele universo, e também aqueles que só querem ver algumas fatalidades sendo trazidas para a tela. Os criadores do filme bem cientes disso, e mostram ter um conhecimento claro de nível básico do mundo e da história do jogos o suficiente para trazer isso para a tela, como também criar um filme de ação “hack and slash” – com membros dilacerados e sangue de sobra para fazer jus aos jogos, mas se perde na tentativa de se encaixar entre as duas facetas.

Os primeiros sete minutos conseguem ter um tom perfeito, exagerado nos níveis certos, surpreendentemente dramático e comovente no que se estabelece para o resto do filme, diálogos em nível de anime e lutas sangrentas com coreografia de artes marciais; praticamente um filme perfeito do Mortal Kombat nascendo aí. E com Hiroyuki Sanada mostrando que ainda está em seu ápice em ambas as frentes de atuação e lutador de artes marciais, e escolha melhor para ser o Scorpion, não haveria! Mas uma escolha que eles poderiam ter realmente usado ao invés de reduzi-lo a apenas duas sequências de ação incrivelmente divertidas, no inicio e no fim, e deixar o resto do filme parecer quase vazio sem a sua presença, especialmente quando enfatizam sua conexão de linhagem com o “verdadeiro” protagonista, criado originalmente para o filme, o chamado Cole Young.

Não é uma má idéia, especialmente se você optando pela narrativa  de estar apresentando uma nova geração e os recém-fãs à antiga mitologia de Mortal Kombat, trazendo assim um rosto novo e relacionável também sendo introduzido a esse universo. Mas se você vai realmente tentar fazer isso funcionar, é melhor ter um roteirista engenhoso para saber apresentar essa idéia de forma atrativa. Isso e também um ator realmente carismático, porque Lewis Tan como Young se sente completamente fora do lugar, com todo o seu arco caindo no pior tipo de genérico por definição, e nada sobre ele consegue ser interessante ou engajante, exatamente por tentarem demais de nos convencer do contrário. Mas os outros personagens conseguem ser outro problema, e outro acerto, do filme.

 

A Sonya Blade de Jessica McNamee e Jax de Mehcad Brooks estão relativamente bem e possuem o potencial para serem bons protagonistas o suficiente se fossem melhor desenvolvidos. Enquanto que o Liu Kang de Ludi Lin - o suposto protagonista original dos jogos Mortal Kombat é reduzido para apenas um entregador de diálogos expositivos, e com alguns momentos legais de luta, mas com profundidade de personagem mínima dada em sua relação com Kung Lao de Max Huang, outro personagem desperdiçado, que pelo menos tem a personalidade arrogante bastante similar aos jogos e de longe entrega a melhor “Fatality” do filme, que por um breve segundo te faz sentir como se o jogo estivesse criando vida na tela, mas não muito mais. Outros como o Lorde Raiden (Tadanobu Asano) que parece se comporta como uma completa antítese de seu verdadeiro personagem de um mentor imponente e respeitável, enquanto aqui ele apenas fala e age como um frio impessoal que não poderia se importam menos com seus aprendizes escolhidos, e constantemente pondo suas vidas em risco, e te faz até sentir falta da encarnação de Christopher Lambert no filme de 95.

Mas não faltam elogios para o personagem Kano, porém porque não há muito personagem nele pra inicio de conversa, mas Josh Lawson no papel se mostra tão cheio de carisma e traz a personalidade do personagem à vida, que se torna puro divertimento imediato de vê-lo em cena provocando a todos sempre com sua lábia afiada, e só isso seria o suficiente a sua própria criação de um divertido coadjuvante que te faz criar uma real simpatia por ele, não importando se ele é um dos heróis ou vilões  pois você se pega adorando cada momento que ele está na cena. Infelizmente, esse não é o filme solo dele...

Os vilões são um problema ainda pior. Kabal é ok, mas subutilizado; eles transformaram Goro em um mero capanga do mal; Mileena está...lá; Shang Tsung parece um vilão da fase 2 do MCU. Mas, novamente, uma “boa” alma se salva com o Sub Zero de Joe Taslim. Que além de ser um dos maiores atores de artes marciais da atualidade, se mostra também ser um verdadeiro nerd que se diverte interpretando o personagem que ele claramente ama e encarna com um talento especial para o tipo de caracterização que ele captura aqui, Meio caricato, mas sem se tornar bobo ou menos ameaçador, e da mesma forma que o Kano, ambos parecem tirados diretamente dos jogos e colocados na tela.

 

Embora a escolha da direção de encenar todas as lutas em de sequências confusas soa completamente enfadonho, pulando de uma luta para outra em uma energia frenética onde mal se entende o que está acontecendo, e as próprias lutas nem são lá tão boas para inicio de conversa, com movimentação de câmera genérica, efeitos visuais ora precários, os cenários parecem relativamente com a ambientação e arenas dos jogos, mas nunca são usados em um ponto de sentido na história nem na confusa mecânica que se opera por detrás da câmera, mas à essa altura já se está longe de exigir algo de bom do filme. O estreante diretor Simon McQuoid ainda não está no nível de profissionalismo necessário para fazer uma bagunça como essa funcionar.

Mas, o filme tem paixão e conhecimento claro para aquilo que eles tentam trazer à vida, mas cometendo decisões erradas e passando por restrições claras, seja por razões de orçamento ou cenas deixadas no limbo da sala de edição, apenas afetando o resultado final como algo genérico e vazio. Não é a pior adaptação de jogo de todos os tempos, mas nem tão divertida para se tornar memorável daqui a alguns anos. É uma pena que levaremos mais 20 anos até vermos outra tentativa de filme de Mortal Kombat. Enquanto isso, assistam a animação: Mortal Kombat Legends: A Vingança de Scorpion, tem basicamente o mesmo enredo do filme mas que consegue um resultado infinitamente melhor!





REFERÊNCIAS:
Tex. "Mortal Kombat 2021 | Fan & Non-Fan Review". Tex. Deadline, 04 de jun. 2021. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=TUDCQkp0goI&t=30s >. Acesso em: 3 de jun. de 2021

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