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12/06/2021 às 08h16min - Atualizada em 12/06/2021 às 08h45min

O que é o complexo do vira lata e como ele atinge o mundo geek?

Brasil sofre com esta estigma

Valesca Isamara - Editado por Fernanda Simplicio
Vic View/Reprodução: Youtube
O complexo de cachorro vira-lata” é uma expressão criada pelo dramaturgo, cronista de costumes e jornalista esportivo, Nelson Rodrigues, em meados do século passado. Logo após a perda do Brasil na Copa do Mundo de 1950.  O Brasil continuou perdendo no futebol, quase como se tivesse medo de se impor perante os adversários – especialmente a Argentina. A expressão significa que o brasileiro é um ser com baixa autoestima, que está sempre depreciando a cultura, a economia, a inteligência e a moral nacional.

Em contrapartida, ele admira desavergonhadamente tudo o que vem de fora como estando acima de qualquer comparação com o Brasil. Somos criados para idolatrarmos filmes dos estrangeiros, enquanto depreciamos os nossos. Só reconhecemos o trabalho nacional quando ele é reconhecido internacionalmente, exemplo disso são os filmes Tropa de Elite (2007) do diretor, José Padilha e o terror gore, Bacurau (2017), dos diretores Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles.

O problema principal em não reconhecermos os filmes nacionais e a perda da nossa originalidade, todo bom filme nacional passa por um comparativo com os filmes do exterior, aqueles que não se encaixam nesse critério são fracassos de bilheteria e acabam sendo soterrados pela crítica. O brasileiro tem o costume de virar crítico de cinema quando o assunto são filmes nacionais, analisam do roteiro até a roupa do figurante.

Um exemplo claro dessa síndrome é o filme, “O Doutrinador” de 2018, dos diretores Gustavo Bonafé e Fábio Mendonça. O filme foi inspirado na HQ brasileira criado por Luciano Cunha e conta a história de Miguel, um agente federal altamente treinado que vive num Brasil cujo governo foi sequestrado por uma quadrilha de políticos e empresários. Uma tragédia pessoal o leva a eleger a corrupção endêmica brasileira como sua maior inimiga. Ele começa a se vingar da elite política brasileira em pleno período de eleições presidenciais, numa cruzada sem volta contra a corrupção. O filme que foi a primeira grande adaptação nacional de um super herói baseado em uma HQ, foi um fracasso de bilheteria. Embora a trama tenha atraído quem assistiu, a crítica foi impiedosa descrevendo o roteiro como superficial e cru. “O Doutrinador” conseguiu arrecadar apenas 2 milhões e 800 mil reais, para um público de quase 197 mil pessoas. Na época ele nem chegou a ocupar o quinto lugar dos longas mais vistos nas salas de cinema.


                                                                  

Do outro lado, a série de sucesso, “O Justiceiro” (Netflix), que tem como o enredo um ex-fuzileiro naval que usa métodos letais para combater o crime sob a alcunha do vigilante "Justiceiro", após um trágico acidente familiar. O justiceiro fez sucesso quando apareceu pela primeira vez na série “Demolidor” (Netflix), logo depois, em 2017 ele ganhou uma produção própria, que novamente, foi um sucesso de audiência, principalmente entre os brasileiros. Frank Castle possui claras semelhanças ao doutrinador, desde a perda da família a sede de vingança, que ajudou com que os dois tornasse anti-heróis, porém, apenas um teve reconhecimento nacional e mundial, enquanto o outro, sofreu criticas e não teve êxito.

                                                                          


Onde esse complexo atrapalha o mundo geek? Nas produções nacionais, o Brasil é vasto em cultura e hqs, porém, dificilmente veremos essas histórias no cinema, visto que elas possivelmente não serão aceitas no mundo nerd, que atualmente são os maiores críticos dos filmes nacionais. Até quando idolatraremos heróis com bandeiras que não nos representam, por temos receio de reconhecer e abraçar nossos próprios heróis e anti-heróis. Portanto, por que não questionamos nossos estigmas quanto ao cinema, afinal, onde é o nosso lugar? 
 
 
REFÊRENCIAS:
GOMES, M. O complexo do vira-lata e a vontade de ser aceito por estrangeiros. MONITOR MERCANTIL. 01 de abr. 2019. Disponível em: < https://monitormercantil.com.br/o-complexo-do-vira-lata-e-a-vontade-de-ser-aceito-por-estrangeiros/>  Acesso em 10 de jun. de 2021.
IZEL, A. O Justiceiro: Série se descola do universo Marvel e funciona.  CORREIO BRAZILIENSE. 17 de nov. de 2017. Disponível em: <https://blogs.correiobraziliense.com.br/proximocapitulo/o-justiceiro-critica/>Acesso em 10 de jun. de 2021.
DENIS, D. O Doutrinador: Fracasso nas bilheterias esconde um bom filme CULTUREBA. Disponível em: < http://cultureba.com.br/2018/11/19/o-doutrinador-fracasso-nas-bilheterias-esconde-um-bom-filme-2/> Acesso em 10 de jun. de 2021.

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