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26/08/2021 às 14h54min - Atualizada em 26/08/2021 às 12h22min

Crítica | Creepshow, os aterrorizantes contos de Creep

Nataly Leoni - Editado por Ana Terra

“Eu sou o Creep, seu guia nessa jornada de puro medo”

Disse Creep, a caveira, ao dar início a narração dos cinco aterrorizantes contos impressos nos quadrinhos de Creepshow, com uma mistura de terror e bom humor que só ele consegue fazer. Creepshow é originalmente um filme lançado em 1982, um clássico de terror dos anos 80, que marcou a estreia de Stephen King como roteirista e contou com a direção de George A. Romero. O filme se passa no dia das bruxas, Billy está lendo a revistinha Creepshow criada apenas para o filme, mas seu pai não aprova e acaba a jogando fora, a partir daí os contos da revista começam a ser narrados na trama. A editora DarkSide resolveu então, dar vida real a HQ em 2017, com as ilustrações no estilo vintage de Bernie Wrightson.

Logo de cara, é introduzida uma narração divertida e satírica dos acontecimentos presentes nos contos. Creep se refere aos leitores como “galerinha” ou “meninada”, como se estivesse se referindo a crianças, apesar de os contos presentes nos quadrinhos não serem bem direcionados a elas.

Creep: “Heh-heh!! saudações galerinha, e bem vindos à primeira edição de Creepshow, a revista que se atreve a responder a pergunta “quem vem lá?”.

E prossegue com “Dia dos pais”, o primeiro conto narra a história da família Grantham, que são introduzidos como o tipo de gente capaz de “roubar doce de criança”. Os Grantham se mostram uma família de personagens maliciosos que não exitam em maldizer de seus próprios familiares com palavras de baixo calão, e é o que fazem com Bedelia, uma parente distante que todo dia dos pais, volta para visitar o túmulo de seu pai falecido ao lado da mansão da família.

Mas o que não imaginavam é que nesse dia dos pais, o pai de Bedelia voltaria do mundo dos mortos para reivindicar o bolo que a obrigava Bedelia a fazer no dia de sua morte. As lembranças que ela possui do dia da morte do pai são inseridas nos quadrinhos mostrando todos os acontecimentos que levaram ao ápice da história como uma forma de mostrar a loucura que seu pai a causava, representado pelo bater constante da bengala na mesa acompanhado por palavras de ordem, “É dia dos pais, eu… quero… meu… bolo!!”.

O segundo conto se chama “A solitária morte de Jordy Verrill” e é baseado em um dos contos do próprio King chamado “Weeds”, narrando a história de Jordy Verrill, que vive sozinho em sua fazenda e no momento em que o personagem profere suas primeiras palavras fica nítido que trata-se de uma pessoa sem informação. Tudo começa com a queda de um meteorito em sua propriedade, os pensamentos de Jordy tem o foco de boa parte dessa história, ele se imagina vendendo o meteorito para o professor de uma faculdade próxima e conseguindo o dinheiro para quitar as dívidas.

O problema é que ele não tem nenhum senso de cuidado próprio, acaba se queimando e deixando que uma substância do meteorito entre em contato com várias partes do seu corpo onde mais tarde começa a crescer uma estranha vegetação, Jordy então se mostra um personagem mais complexo pela sua imaginação que o impede de fazer o que deseja, além da inserção de alucinações com seu pai que parecem ser algo com que Jordy lida em sua vida solitária. Os elementos de loucura e cólera vão ganhando força em Jordy conforme a vegetação se espalha e cresce, como aumenta também o terror que causa expressões de puro pavor no rosto do personagem. 

A terceira história que Creep começa com um “cara e coroa” se chamando “A caixa”, e é baseado em um conto homônimo de King. A moeda de Mark, o zelador da Universidade Horlicks, vai parar em um nicho gradeado com uma tranca, o zelador olha e percebe que lá dentro a uma caixa do ano de 1834, então com a ajuda do professor Dex, conseguem abrir a mesma, mas ele e o professor percebem que cometeram um erro ao abrir e o zelador ser literalmente engolido para dentro, por um monstro que viveu ali durante todos esses anos. O professor que assistiu tudo fica fora de si e pede ajuda para um amigo que se interessa muito pelo monstro e o que ele poderia fazer com sua esposa, que odeia tanto em seus pensamentos. A sequência dos acontecimentos mais uma vez evolui rapidamente deixando Dex e os outros personagens em desespero, temendo a fome implacável do monstro que estava a muitos anos adormecido na caixa.


Creep: “Heh-heh! Olá de novo, galerinha! Minha última história foi tão tensa que pensei em tirar umas férias… quem sabe uma visitinha ao litoral… claro que isso me lembra de mais um episódio epifânico... mas a maré está subindo, então é bom eu começar logo!” 

“Indo com a maré” é outra subtrama dos quadrinhos de Creepshow. Richard Vickers deseja se vingar de sua esposa Becky Vickers e seu amante Harry Wentworth, com frieza e crueldade então, decide enterrá-los na areia da praia apenas com a cabeça para fora, além de fazer com que Harry assistisse a morte da amante enquanto ele mesmo lutava contra as ondas, com uma animada exclamação de “Hora do show!”.

O jogo psicológico do homem traído é sentido na pele por Harry, Richard faz piadinhas e dá gargalhadas das tentativas falhas por parte de Harry de fazer com que mudasse de ideia e o libertasse daquela agonia, ou pelo menos desenterrasse sua amada que alguns segundos depois perceberia já estar inconsciente na imagem da TV que Richard trouxera, aumentando ainda mais o medo pela sua própria vida, a cólera e agitação que remete a sensação desesperadora de afogamento  invadem a expressão do personagem. Mas será que vai ficar por isso mesmo? 

O último conto narrado por Creep se chama “Vingança barata”, e tem como protagonista, o velho Upson Pratt, um empresário extremamente rico e obcecado por limpeza que coleciona inimigos por tratar os negócios com demasiada crueldade, ele não se importa com nada e ninguém a não ser o seu próprio bem estar e a limpeza de seu apartamento altamente tecnológico.

Na história em questão a vingança se torna algo muito mais subjetivo, como se o universo quisesse se vingar de Pratt pelo tipo de pessoa que ele escolheu ser, dessa forma, a melhor vingança para um maníaco por limpeza é transformar seu apartamento em um mar de baratas. E como esperado, Pratt enlouquece repetindo expressões como “elas rastejam” ou “malditas!”. Outro elemento presente nessa trama é a constante lembrança do que Pratt fez para se dar bem nos negócios, que parece o atormentar intensamente juntamente com as inúmeras baratas em seu apartamento. 

Creepshow é uma HQ intensa em vários sentidos, seus contos são curtos com uma grande variedade de temáticas onde Stephen King mostra sua maestria com histórias de terror que podem não ser assustadoras para os leitores, mas são capazes de causar um efeito inquietante para quem decide entrar nessa jornada. A narração de Creep deixa tudo mais emocionante, se tornando em alguns pontos, essencial para o entendimento das histórias, além disso os personagens são apresentados rapidamente, mas no decorrer das narrativas é possível perceber quem são, o que querem, ou suas motivações para tais atos. Momentos de loucura, cólera, agonia e desespero são recorrentes em todas as histórias, e as expressões claras nos rostos dos personagens os deixam muito mais marcantes.  

As ilustrações super coloridas no estilo vintage na capa e nas páginas da HQ, nos permitem imaginar que realmente tenha saído diretamente dos anos 80. Na capa feita por Jack Kamen é possível perceber que é a representação da cena do filme quando Billy está lendo a revistinha em seu quarto onde podem ser vistos posters de livros escritos por King que foram adaptados para os cinemas como “O iluminado” e “Carrie a estranha”. Certamente a HQ é uma ótima pedida para os apaixonados por terror e histórias em quadrinhos. 

REFERÊNCIAS 

BAZARELLO, Pablo. Creepshow | Conheça os filmes clássicos de terror dos anos 80. Cine Pop, 05 de nov. de 2020. Disponível em:  <https://cinepop.com.br/creepshow-conheca-os-filmes-classicos-de-terror-dos-anos-80-271914/0-271914/>. Acesso: 25 de ago. de 2021. 

KING, Stephen. Creepshow. 1ª Ed. Rio de Janeiro: DarkSide, 2017.

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