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23/10/2021 às 13h49min - Atualizada em 23/10/2021 às 12h57min

Dr. Jekyll e Mr. Hyde: Dois lados de uma mesma mente

O que acontece quando a mente de um médico e a mente de um monstro tentam conquistar seu espaço em um mesmo homem?

Nataly Leoni - Editado por Ana Terra

O bem e o mal convivem em todo ser humano, por mais que uma pessoa queira ser boa há sempre um pensamento intruso que ela simplesmente não sabe de onde veio e se assusta por tal coisa ter passado por sua cabeça, ela mesma se repreende por ter pensado algo tão ruim. Mas e quando os mais profundos e sombrios desejos reprimidos de um ser humano chegam a superfície de sua pele, tomam conta de sua mente e de suas ações? Eles retiram todas as amarras que o prendem às convenções sociais dando total liberdade para que dê vazão a todos esses desejos, por mais que sejam ruins ou até criminosos. Desejos tão sombrios que fazem com que o ser acabe se assemelhando a figura de um monstro, liberto por sua própria vontade da prisão no alter ego desse ser humano. E é exatamente assim, com a ajuda de uma mistura química que o bondoso e respeitado Dr. Henry Jekyll (Fredric March) se torna o temido e horroroso monstro Mr. Hyde.

No filme, “O médico e o monstro” (1931), o ser humano em questão é Dr. Jekyll, um médicocientista visionário, rico e de boa aparência que encanta a todos com seu jeito de se portar perante a sociedade. Como um verdadeiro cavalheiro da alta classe, mas também um homem gentil que ajuda e trata as doenças dos menos favorecidos. Dr. Jekyll também parece possuir um conhecimento acima da média, já que cria teorias e estudos aprofundados a respeito do corpo e da mente humanas. Ele acredita que há uma forma de separar o alter ego da mente de uma pessoa através da sintetização de uma fórmula química.

Utilizando-se então de seus conhecimentos científicos, Dr. Jekyll se tranca em seu laboratório e trabalha na tal fórmula por horas até chegar no resultado esperado, uma substância que decidiu testar em si mesmo. O resultado apenas provou o que ele já havia teorizado, conseguiu separar o alter ego de sua mente dando liberdade ao monstro que vivia dentro de si, deixando que Mr. Hyde tomasse conta de sua mente e corpo se apresentando com um aspecto grotesco e atitudes dignas de um verdadeiro monstro. Observa-se então que essa separação evidencia toda a dualidade que o personagem acredita existir e poder ser separado. O lado mau com todos os desejos e instintos reprimidos e lado bom que busca todas as virtudes do ser humano.

O espelho tem um papel imprescindível na narrativa do filme, é por meio dele que temos o primeiro vislumbre do personagem principal. A princípio o público é introduzido ao olhar do personagem, podendo apenas visualizar aquilo que está em sua frente e seu rosto somente fica em evidência quando o próprio personagem se enxerga através do espelho em sua ampla sala de estar. Fenômeno que também acontece em sua primeira transformação de médico para monstro, pode-se testemunhar sua mudança exatamente por que ele mesmo está observando sua transformação no espelho onde o monstro se revela.

Mr. Hyde é completamente o oposto de Dr. Jekyll, a começar pela sua aparência que muda totalmente. Durante a transformação de alguns segundos suas mãos crescem como garras arranhando tudo que tocam, sua estatura aumenta, fica mais forte e mais veloz sendo capaz de lutar e fugir com destreza, seu corpo fica coberto de pelos e com uma aparência enrugada, seus dentes crescem de uma maneira desordenada, suas feições ficam mais profundas e escurecidas e seu tronco curvado, dando a ele uma aparência assustadora. Suas atitudes diferem ainda mais de Dr. Jekyll, ele se torna extremamente agressivo e ameaçador, não se importando com convenções e leis, Mr. Hyde não tem limites e por isso se torna perigoso. Dr. Jekyll acabou libertando um lado de si mesmo que parecia reprimido a muito tempo e estava apenas esperando para tomar o controle com uma vitoriosa exclamação de “Livre! Livre, finalmente!”.

A dualidade presente em Dr. Jekyll se torna ainda mais visível em suas relações com pessoas a sua volta, enquanto o médico é conhecido pelos seus atos de gentileza, e manter uma relação amorosa e saudável com a delicada Muriel (Rose Hobart) com a qual deseja se casar o mais rápido possível. O monstro sai livre pelas ruas da cidade fazendo tudo o que deseja, por mais que seja algo ilegal. Sua vítima mais recorrente é Ivy Pearson (Miriam Hopkins), uma jovem mulher que coage a fazê-lo companhia. Através da violência física e psicológica ele a mantém por perto e por mais que esteja triste e apavorada, por medo, não consegue sair da situação. A forma como Mr. Hyde trata a personagem deixa claro até onde a sua monstruosidade pode chegar, Ivy se mostra também cada vez mais exausta e com medo do monstro a ponto de preferir a morte.

Quando Mr. Hyde começa a passar muito mais tempo no controle da mente e do corpo de Dr. Jekyll se torna uma ameaça a si mesmo, o monstro declara guerra ao médico, ao passo que as transformações não necessitavam mais da fórmula para acontecerem, sendo seu primeiro indício sempre a mudança de coloração em suas mãos. Dr. Jekyll passa a clamar a Deus para que o perdoe e o salve pois havia levado a ciência além dos limites do ser humano, ele temia pelo que o monstro poderia fazer quando assumisse o controle novamente, pois conseguia se lembrar de cada palavra, cada ato do monstro, era uma parte dele que estava sendo revelada e ganhando força sobre todo o seu ser.

Ivy é um importante fator para demarcar a natureza da dualidade do médico e do monstro em um só ser. Com palavras emblemáticas e totalmente contrárias, ela descreve os dois de acordo com a forma que os vê. Dr. Jekyll é chamado por ela de anjo, já Mr. Hyde é um demônio que não possui nada de humano. As duas personalidades parecem brigar pelo controle durante todo o filme, uma guerra entre o bem e o mal dentro do corpo de um homem. E quando parecia que o monstro havia ganhado, lá estava o ser humano, o médico, que mesmo depois de ser despido à força de toda aquela maldade, acabou pagando com a vida o preço pela sua grande descoberta científica.

REFERÊNCIAS:
O MÉDICO E O MONSTRO. Direção: Rouben Mamoulian. Produção: Paramount Pictures Studios, Estados Unidos, P&B. 1931.
Redação. O Médico e o Monstro. AdoroCinema. Disponível em: <https://www.adorocinema.com/filmes/filme-108380/>. Acesso em: 19 de out. de 2021.

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