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27/01/2022 às 16h36min - Atualizada em 27/01/2022 às 15h46min

É sobre igualdade e respeito

Uma discussão sobre a sexualização dos corpos femininos no universo dos super-heróis

Tailane Santos - Editado por João Pedro Martinez sob supervisão de Fernanda Simplício
No mundo dos quadrinhos de super-heróis, a figura feminina quase sempre foi retratada de forma sexualizada, com forte apelo sexual e intensa exposição de seus corpos. Por mais que elas possam ter surgido como uma tentativa de representatividade e demonstração de poder e força das mulheres, é evidente a objetificação das personagens, principalmente em suas vestes, que marcam excessivamente seus corpos, além do tamanho curto e grandes decotes.

 
A Mulher Maravilha, que para muitos é símbolo de empoderamento feminino, sofreu bastante com a sexualização de sua imagem. A personagem tem como marca seu maiô vermelho e azul, que é bem justo, diferente de vários outros personagens da DC Comics. No desenho Liga da Justiça (2001), enquanto os heróis utilizam roupas que cobrem todo o corpo, a heroína é a única mais exposta.


Saindo dos quadrinhos e desenhos e entrando no universo cinematográfico, podemos ver que essa ideia de sensualidade continuou. Tomemos como primeiro exemplo um grupo de heróis muito amado pelos nerdsOs Vingadores, da Marvel Comics. Todo o elenco masculino possui uniformes completos e fechados. Em contrapartida, o traje que a Viúva Negra utiliza, apesar de completo, é muito colado, o que dá um destaque desnecessário ao corpo da atriz. Por mais que a personagem seja famosa por sua sensualidade, essa exposição a reforça como um símbolo erótico, que não deveria ser o foco.


Em entrevista concedida ao site Collider, durante as gravações do filme solo da personagem, Viúva Negra (2021), a atriz Scarllet Johansson diz se incomodar com a sexualização que sua personagem sofreu em sua primeira aparição, lá atrás, em Homem de Ferro 2 (2010). “Embora tenha sido muito divertido e tenha tido muitos momentos bons, a personagem é tão sexualizada, sabe? [Ele] realmente falou como se ela fosse um pedaço de algo, como uma posse ou uma coisa — como um pedaço de seu traseiro, na verdade. E Tony até se refere a ela como algo assim em um momento”, relata a atriz.

Outra personagem sexualizada nos cinemas, também pela Marvel, foi a Feiticeira Escarlate, interpretada por Elizabeth Olsen. Logo nos quadrinhos, temos a Wanda em roupas curtas, geralmente um collant justo vermelho, com um grande decote. Para os cinemas, a empresa modificou seus trajes, optando por um vestido pouco acima do joelho e calças, porém, algo que incomodou muito a atriz foi a apelação pelos decotes em todas as suas roupas.

Em entrevista à Elle, Olsen relata seu desconforto. “Eu gosto de espartilhos, mas gostaria que fosse mais fechado. Todo mundo tem essas coisas que as cobrem — Tessa Thompson tem, Scarlett tem. Eu gostaria de encobrir um pouco.”


A DC Comics também possui sua cota de exposição feminina, e temos isso bem claro com a personagem de Margot Robbie, a desequilibrada Arlequina. No filme Esquadrão Suicida (2016), a personagem é muito objetificada pelo Coringa, seu “par romântico”, e pelos outros personagens, principalmente devido às suas roupas.

Uma cena marcante e desconfortável nesse filme é quando os vilões estão se preparando para a missão, vestindo seus trajes e equipamentos. A Arlequina é a única mulher no meio de vários outros homens, e tem que trocar-se ali mesmo. Por mais que a personagem não ligue para a situação, tenho certeza que várias mulheres que estavam assistindo no cinema sentiram certo constrangimento — imagine-se trocando de roupa com vários homens te encarando como se você fosse um objeto ou um pedaço de carne.



Em entrevista para o The New York Times, Margot Robbie diz entender que a personagem usa aquelas roupas por achá-las divertidas e chamativas, além de amar que outros homens a olhem com desejo. Porém, para ela, como atriz, é embaraçoso.

Entretanto, esse cenário vem sofrendo modificações positivas. Com o avanço do feminismo e o aumento das lutas pelo empoderamento da mulher, as empresas — às vezes por vontade própria, às vezes por pressão — estão investindo em heroínas para além do caráter sexual. Nos filmes, o foco está sendo maior no que as faz poderosas e não apenas em um rosto bonito e um corpo sensual. Essa mudança fica mais evidente nas roupas que cada uma usa.
    

Em uma matéria feita pelo antigo site Judão, na qual discutem os trajes da Feiticeira Escarlate, eles comentam algo pertinente e que é muito real na sociedade em que vivemos: “Boa parte do público masculino é MUITO relutante em perceber que há necessidade de representar as mulheres de outras maneiras. Deixar de enxergar nossos corpos como objeto, nossas mentes como vazias e existência como mero enfeite vai contra TUDO o que lhes foi ensinado até agora. Culpa de Hollywood, dos escritores, dos produtores de televisão, sim, mas DESSES caras também, que se negam a reconhecer progresso por medo de mudanças nesse mundo tão confortável que é o dos homens”.

A mudança só vem depois de muito esforço e muita luta, por isso, se queremos fazer a diferença, não podemos desistir nem aceitar tudo em silêncio. É sobre igualdade e respeito.



REFERÊNCIAS
BLYTH, Antonia. "Elizabeth Olsen On Her Avengers: Infinity War Corset, Her Talented Sisters, And Non-Human Dating". Elle, 2018. Disponível em: . Acesso em: 26/01/2022.

FIOROTTO, Beatriz. "Então tá, vamo falar sobre a roupa da Feiticeira Escarlate nos filmes das Marvel". Judão, 2018. Disponível em: . Acesso em: 26/01/2022.

LEGENDS, Gabriel. "ESQUADRÃO SUICIDA - Arlequina Trocando De Roupa". Youtube, 15 de out. de 2016. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=tZ-IaPoD7eM>. Acesso em: 26/01/2022.

ROBINSON, Ashley. "Scarlett Johansson on the Sexualization of Natasha Romanoff and Why It Took 10 Years to Make ‘Black Widow’". Collider, 2021. Disponível em: . Acesso em: 26/01/2022.

ZANETTI, Laysa. "Margot Robbie conta o que achou da roupa de Arlequina em Esquadrão Suicida". AdoroCinema, 2016. Disponível em: <https://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-121099/>. Acesso em 26/01/2022.
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