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24/05/2022 às 18h59min - Atualizada em 24/05/2022 às 18h59min

Cordel em quadrinhos: como os poemas populares viraram HQs

Mariana França - Editado por Fernanda Simplicio
Literatura de cordel também conhecida por folheto, literatura popular em verso, ou simplesmente cordel é um gênero literário que chegou ao Brasil durante o século XVIII, através dos portugueses. Muito popular na região nordeste do nosso país, essa manifestação artística se trata de pequenos livros que contém histórias contadas em formato de poemas e que abordam os mais variados assuntos: festas, política, secas, disputas, brigas, milagres, atos de heroísmo, vida de cangaceiro, morte de personalidades, entre outros (por isso o nome literatura popular pois retrato o cotidiano).
Já as histórias em quadradinhos é uma forma de arte que conjuga texto e imagens com o objetivo de narrar histórias dos mais variados gêneros, geralmente essas publicações podem ser feitas em revistas, livros ou em tiras veiculadas dentro de revistas e jornais. 
Mais qual a relação entre esses dois? 
 
O CORDEL
O cordel surgiu por volta do século XII em Portugal e logo depois começou a se espalhar para outros países como França, Espanha e Itália, com os trovadores narrando histórias como a do Rei Arthur e Robin Hood para a população que, na época, era em grande parte analfabeta. O cordel foi popularizado durante o período da Renascença, já que com os avanços tecnológicos da época foi possível a impressão em papéis, possibilitando a distribuição em massa dos textos. Entretanto, com o passar do tempo e o advento do rádio e da televisão, sua popularidade foi decaindo. 
Ao chegar no Brasil essas impressões dos poemas rimados que eram pendurados em cordas – ou cordéis, como é chamado em Portugal – se tornaram famosos nas regiões de Pernambuco, Ceará, Paraíba, Bahia e Rio Grande do Norte.
 
HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
Enquanto isso, podemos considerar que a primeira história em quadrinhos da modernidade foi criada pelo americano Richard Outcault em 1895, que recebeu o nome de Yellow Kid (Menino Amarelo). Foi com o surgimento desta tirinha nos jornais sensacionalistas de Nova York que conseguimos identificar algumas das características como as que encontramos na atuais HQs, como a adoção de um personagem fixo, ação fragmentada em quadros e balõezinhos de texto. 
A tirinha do Menino Amarelo fez tanto sucesso que os grandes jornais nova-iorquinos brigaram com unhas e dentes para tê-lo em suas páginas.
No entanto, se procurarmos pelas primeiras raízes das histórias em quadrinhos, podemos considerar às pinturas rupestres ou até mesmo os quadros das igrejas medievais que retratavam a via sacra (os últimos momentos da vida de Jesus na Terra) como antepassados das tirinhas. 
A grande diferença é que esses ancestrais das HQs não tinham texto, os enredos eram desenvolvidos apenas com uma sequência de desenhos. 
 
CORDEL EM QUADRINHOS
E acredite ou não, a relação da literatura de cordel com os quadrinhos não é algo recente. 
A primeira tentativa de unir versos de cordel e quadrinhos foi da editora paulista Prelúdio, fundada em 1952 pelos irmãos Arlindo Pinto de Souza e Armando Augusto Lopes, que devido ao falecimento de seu pai, o português José Pinto de Souza, resolveram dar continuidade a seu trabalho em publicar cordéis no Sudeste. As capas dos folhetos eram impressas em policromia um formato maior do que o usado no Nordeste, 13,5 x 18 cm, em vez dos tradicionais 11 x 16 cm, o que se assimilava mais as revistas em quadrinhos e livros de bolso.
Durante os anos 70, o pernambucano Jô Oliveira conseguiu a façanha de publicar histórias em quadrinhos inspirados na literatura de cordel, cangaço e o Nordeste brasileiro, com arte inspirados na técnica da xilogravura. Ele publicou em 1976, um álbum de A Guerra do Reino Divino pela Codecri, editora que publicava O Pasquim, em 2001, o álbum foi republicado pela Hedra.
Em 2003, Klévisson Viana adaptou o cordel "A moça que namorou com o bode" de seu irmão Arievaldo Viana, com arte-final de Marivaldo Lima, o álbum foi publicado pela Tupynanquim, Coqueiro e CLUQ. A trama já havia sido apresentada em quadrinhos em 1988 no fanzine Tramela com o título "O bode atrasado", só depois virou um cordel, Klévisson aproveitou elementos das duas versões.  
Além das obras citadas acima, existem muitos outros como o “Romance do Pavão Misterioso”, com desenhos de Sérgio Lima, “Peleja de Cego Aderaldo com Zé Pretinho”, com desenhos de Nico Rosso, além do “Cancão de Fogo” e da “Chegada de Lampião no inferno”.  
Então, podemos dizer que o cordel, assim como as histórias em quadrinhos, se preocupa em ser compreendido. Sua principal função é transmitir uma mensagem ao contar uma história, por mais simples que esta possa parecer. Eles não estão ligados apenas aos detalhes, traços e cores da arte, mas sim o quão claro ele consegue transmitir uma ideia para o leitor.  
 
IMAGENS

Fonte: Eugenio Colonnese/Editora Luzeiro

 

Fonte: Editora(s) Tupynanquim/Coqueiro/CLUQ

 

Fonte: Editora Luzeiro

 

REFERÊNCIAS: 

REDAÇÃO. Os cordéis e as histórias em quadrinhos. Quadripop. 15 de out. de 2018. Disponível em: <https://quadripop.blogspot.com/2018/10/cordeis-e-quadrinhos.htm> Acesso em: 16 de mai. De 2022 

REDAÇÃO. CORDEL E QUADRINHOS. Acorda cordel. 02 de mai. de 2011. Disponível em: <http://acordacordel.blogspot.com/2011/05/cordel-e-quadrinhos.html> Acesso em: 16 de mai. de 2022 

REDAÇÃO. Só sei que foi assim: quadrinhos, cordel e Suassuna. Quadrinheiros. 29 de jul. de 2014. Disponível em: <https://quadrinheiros.com/2014/07/29/so-sei-que-foi-assim-quadrinhos-cordel-e-suassuna/> Acesso em: 16 de mai. de 2022

CRISTINA DA SILVA, C. Quem inventou as histórias em quadrinhos?. Superinteressante. 18 de abr. de 2011. Disponível em: <https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quem-inventou-as-historias-em-quadrinhos/> Acesso em: 22 de mai. de 2022


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