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08/11/2022 às 22h09min - Atualizada em 08/11/2022 às 21h39min

Crítica | 6ª temporada de Big Mouth

Nova temporada traz assuntos relevantes, mas falta com aprofundamento

Tailane Santos - Editado por Fernanda Simplicio
Arte por Tailane Santos
Classificação indicativa: 16 – Não recomendado para menores de 16 anos.

Mais uma temporada para a conta! A sexta temporada de Big Mouth, animação da Netflix direcionada ao público adulto, foi ao ar na última sexta-feira (28) e trouxe diversos temas polêmicos de forma leve e descontraída, mas que fazem refletir bastante sobre o modo como “enfrentamos” a adolescência e a puberdade.

A série segue a vida de vários adolescentes, dentre eles Nick, Andrew, Jessi, Missy e Jay, que estão entrando na puberdade e precisam aprender a lidar com o próprio corpo e os prazeres que o acompanham, além dos desafios, decepções e traumas presentes.
Acompanhe o trailer da nova temporada:




ATENÇÃO: A partir desse ponto podem conter spoilers

Iniciamos ligando alguns pontos da temporada anterior, como a nova namorada de Andrew, a relação dos pais da Jessi, o namoro de Jay e Matthew, entre outros. Além disso, os episódios fazem diversas referências à Recursos Humanos, um spin-off de Big Mouth, lançado em 18 de março desse ano (2022), no qual conhecemos um pouco mais sobre os monstros hormonais e demais criaturas responsáveis por cada emoção humana.

De cara começamos com uma crítica social, feita de forma extremamente cômica e “escrachada”, sobre a dificuldade que pessoas LGBTQIA+ têm em encontrar um lugar seguro para terem relações sexuais. Apesar de não ser um tema tão discutido pela sociedade, tendo em vista a homofobia e os tabus em relação ao sexo, é uma problemática que afeta grande parte da população, que, muitas vezes, colocam-se em situações insalubres, utilizando de banheiros, carros, construções ou até o “mato” para transarem.

Embora a série não aprofunde a temática, e trate com muita ironia e piadas, o modo como ela deu espaço para a visibilidade da situação e possíveis futuras discussões, é um passo importante.

Para quem se interesse nessa área, a pesquisa do Doutor e Mestre em Antropologia, e atual professor de Telejornalismo do Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Tedson da Silva Souza, intitulada “Fazer banheirão: as dinâmicas das interações homoeróticas nos sanitários públicos da Estação da Lapa e adjacências”, é um bom ponto de partida nos estudos sobre. Nela, Souza analisa e discute relações sexuais entre homens nos sanitários da Estação da Lapa, um terminal urbano em Salvador, Bahia.

Ligado a isso, a animação também retrata sobre a aceitação (ou negação) dos pais na sexualidade dos filhos, onde temos Matthew apresentando seu namorado Jay para seus pais e sua mãe aparece fingindo que essa é uma situação normal para ela, porém está “surtando” por dentro. Assistindo, sentimos o receio do garoto e o medo da rejeição, mas também a determinação e coragem. Acredito que faltou trabalharem mais com isso ao longo da temporada, pois quando mudam para falar da família do Jay, o assunto é a negligência dos pais do garoto e a condição de vida dele.


Fonte: Netflix / Divulgação

Fonte: Netflix / Divulgação

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A família é um objeto muito alfinetado e criticado em toda a temporada. Desde o abandono e desatenção para com os filhos, que é o caso do Jay e da Lola, ou a negação da maternidade ou paternidade (Connie e Maury), até a tentativa de agradar os pais e os casamentos que não dão certo. Também vai discutir como os filhos lidam com a separação dos pais e o medo quando um deles tem uma nova criança.

Um dos meus episódios favoritos é o focado especificamente em “vergonhas” pelas quais as mulheres passam, principalmente no início da puberdade, como pelos em várias partes do corpo, infecções causadas por fungos nas partes íntimas e os tabus relacionados à menstruação. Nesse episódio, entendemos que a amizade, compaixão e empatia, além do amor, são sentimentos que ajudam a resolver vários medos, problemas e vergonhas.

Contudo, a animação conta com alguns pontos negativos e que precisavam de reformulação. A assexualidade, que é quando a pessoa sente pouca ou nenhuma atração sexual por alguém, foi um tema novo inserido, mas tratado de forma rasa e superficial. O machismo também poderia ter tido maior aprofundamento nas situações em que apareceu, e não ser resolvido tão facilmente como foi.

Outra coisa que achei exagerada foi a quantidade de clipes musicais. É uma marca da animação as várias canções sobre o que acontece, porém, nessa temporada, isso foi excessivo, cansando o espectador que deixa de focar no necessário para entender o episódio.


Fonte: Netflix / Reprodução

Fonte: Netflix / Reprodução

Clipe musical de Lola e seus possíveis pais


No geral, foi uma temporada muito boa e cativante. Trouxe assuntos importantes e que deveriam ser tratados com mais normalidade dentre a população. É uma série que vale a pena conferir.

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