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08/02/2020 às 18h49min - Atualizada em 08/02/2020 às 18h49min

Arenogravura: das falésias cearenses para o mundo

Arte com areia colorida gera renda aos cearenses e atrai os olhares de turistas brasileiros e internacionais

Roseane Argolo - Editado por Alinne Morais
Arte em arenogravura - Foto: Jiuliano De Abreu

Desde os primórdios, o homem usufrui da natureza e encontra nela as mais variadas formas de garantir a sua subsistência. Do ar, do mar, das águas, das plantas, do solo. Por falar em solo, é da areia que sai o principal ingrediente para as composições artesanais que são a garantia de renda de muitos cearenses. A ARENOGRAVURA, que já foi conhecida como ciclogravura, arte feita com areia colorida é uma importante fonte de renda do estado. Mas, quem teve esta ideia? Fontes informam que tudo começou por uma senhora em Aracati, cidade do interior do Ceará, em meados de 1940 que, com instrumentos tirados da natureza preenchia os vidros e criava desenhos geométricos simples, com o passar dos anos com o uso de novos instrumentos e técnicas alcançou o nível de aperfeiçoamento atual.

Colocando a ‘mão na areia’

A arte que nasceu no interior do estado, conquistou espaço e é destaque entre tantas artes nordestinas, ganhou novos formatos, antes feitas em garrafinhas de vidro, virou tela, painéis e, como não destacar, encheu as telinhas Tv brasileira de cor e vida pelas mãos habilidosas do artesão e artista Gil de Abreu.  Jiuliano Rodrigues de Abreu é o responsável pela reprodução de 6 painéis para a abertura do remake da novela Gabriela, da Rede Globo de Televisão, onde foram utilizados 160 kg de areia colorida, direto da Praia de Beberibe (CE), dentro dos limites permitido pelo Ibama, sendo um dos trabalhos mais comentados do artista, enaltecendo a nível nacional a grandeza da modalidade artística. “Foi maravilhoso. Ter um contrato com a Globo, por mais curto que seja é extremamente importante para qualquer artista. Na verdade, esta foi a segunda abertura de novela que fizemos. Minha mãe fez Meu Bem Querer. Depois eu fiz Gabriela”, afirma Gil.


Montagem do acervo pessoal - Fotos: Gil de Abreu

Nascido em Fortaleza, interessou-se em aprender, desde os 11 anos de idade a utilizar a areia colorida como uma fonte de aprendizado artesanal. Hoje, aos 43 anos e muita história na área, nos concede entrevista relatando sobre suas experiências com a Arenogravura:  ‘É uma arte passada de pais para filhos. Faz 32 anos que eu trabalho com isso, aprendi com a minha mãe, Maria Genira, que aprendeu com a minha avó e minha tia Gisélia”.  Também esclareceu sobre o atual uso da expressão Arenogravura utilizado para nomear o trabalho dos artesãos: “você deve ter encontrado sendo chamado de ciclogravura, mas este nome está em desuso. Antigamente, quando se inventou este trabalho, era feito só em garrafinhas, como a garrafa é redonda, colocaram o nome de ciclogravura, mas hoje é feito em quadros, caixas, painéis, não é feito só em coisas redondas. O nome hoje correto que se usa é arenogravura, o nome dessa arte”.
 

COMÉRCIO E EMPREGABILIDADE

Gil também nos relata sobre seus resultados e produções no atelier O Arte com areia colorida que se localiza em Fortaleza, no bairro Conjunto Ceará. Ressalta que, juntamente com sua família que, em família já foi vendido mais de um milhão de peças. Houve uma época, em 1 em que seu pai pegou uma encomenda de 120 mil peças para o Japão, e quando se fala neste 1 milhão de peças é uma produção familiar e de pessoas que compõem o atelier ao longo dos 45 anos que trabalham na área. ”

Segundo Erick Vasconcelos, Secretário Executivo Do Turismo de Fortaleza, apesar da arenogravura ser mais forte no Litoral Leste na capital há muitos artesãos na ativa.

“Sempre divulgamos os trabalhos nas feiras nacionais e internacionais, muitas vezes levamos para fazerem in loco o trabalho e distribuímos cerca de 3.000 garrafinhas por feira. Na Secretaria de Cultura existem programas de apoio aos mestres e eles são contemplados. Procuramos no Turismo sempre prestigiar, comprando os produtos e divulgando não só com as garrafinhas de brinde, mas também em todo nosso material promocional. ”, acrescenta.

Visitando os comércios, praias, e ruas das cidades cearenses é comum encontrar embalagens de vidro das mais diversas formas cheias de areias coloridas esbanjando uma arte grandiosa de ser apreciada. É um destaque cultural do Ceará.  No Mercado Central de Fortaleza, dentre os mais variados produtos que somam diretamente na produção de renda e empregabilidade, lá estão as arenogravuras, exibidas nas lojas, cativando os turistas que, em sua maioria não resistem, observam, admiram e fazem questão de comprar para levar para seus amigos e familiares como lembrança de viagem. 


Mercado Central de Fortaleza e suas diversidades artesanais - Foto: Roseane Argolo

“Nunca antes tinha visto pessoalmente a arte nas garrafinhas feitas com areia colorida. Pude acompanhar de perto o processo de produção, na verdade a personalização com nomes da minha família nas garrafas que já estavam prontas. É uma arte incrível, linda, exige atenção, os detalhes exigem criatividade e paciência. Estive em Canoa Quebrada e lá encontrei sendo vendida ao ar livre na praia, é uma fonte de renda para muitos moradores da localidade como foi relatado pelo artesão que tira da arte com a areia colorida o sustento para toda a família, ele, a esposa e seus seis filhos. Garanti o meu, amei mesmo. ”, afirma, Rosineide Santos, turista baiana.


Imagem de arenogravuras cedida por turista baiana comprada em Canoa Quebrada, Ceará - Foto: Rosineide Santos

São desenhos de temas variados, areia que ganha formato de animais, plantas, natureza, escudos, nomes e até rostos, nas mãos de artesãos talentosos que enfeitam as prateleiras dos mercados, as bancadas nas praias, as feiras causando curiosidade aos visitantes, turistas que se encantam com o detalhe dos trabalhos e, em sua maioria levam como lembrança para presentear amigos e parentes. Memórias da terra cearense, terra quente, de mar verde admiravelmente belo, nos privilegiando com sua cor, e também da areia colorida, que ganha “vida” nas mãos de um povo talentoso, trabalhador e criativo.

Boa parte da areia utilizada tem coloração natural, originada nas falésias e exibem uma grande diversidade de cores, lembrando que há um limite de extração do material na natureza, além de boa parte estar localizada em área de preservação ambiental, não podendo ser explorada.

 


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