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24/07/2020 às 19h27min - Atualizada em 24/07/2020 às 19h15min

Resenha: "Boca a boca"

Nova série brasileira da Netflix traz como tema vírus desconhecido que se propaga pelo beijo na boca, afetando jovens de uma cidade de interior

Ana Thereza Amaral - Editado por Letícia Agata
Fonte: Reprodução/Internet

Lançada no dia 17 de julho de 2020, a nova série brasileira produzida pela Netflix, “Boca a Boca”, aborda a chegada de um vírus desconhecido na cidade interiorana fictícia chamada Progresso. O vírus é transmitido pelo beijo e começa a se propagar na trama, após uma festa na qual diversos jovens tiveram contato íntimo, deixando-os em pânico.



Fonte: Internet/Reprodução
 

O enredo da série de Esmir Filho é verossímil ao atual momento de pandemia mundial do coronavírus, mesmo possuindo uma proporção menor de vítimas e se propagando com menor velocidade. Entram em destaque alguns pontos em comum entre a epidemia da ficção e a pandemia que vivenciamos, como por exemplo a chegada de um novo vírus contagioso e desconhecido, a busca da medicina por um tratamento eficiente para a doença, enquanto infectados morrem, medidas de isolamento para reduzir o contágio e a população entrando em pânico. Por isso, o contexto de seu lançamento contribuiu para a popularização da série, principalmente entre jovens, uma vez que é protagonizada por adolescentes e todo o seu visual é pensado para atrair esse público.

 

A doença se manifesta da seguinte maneira: o primeiro sintoma é uma alucinação que remete a algum medo que a pessoa tem. Em seguida, essa pessoa desperta com uma mancha preta na boca, a visão começa a ficar embaçada e os olhos esbranquiçados, e com o tempo, o infectado começa a perder a sensibilidade e os sentidos, até chegar em um estado de total apatia. Os primeiros sintomas podem aparecer imediatamente após o contágio ou depois de alguns dias, porém, após a manifestação de um sintoma, em um curto espaço de tempo os demais vão surgindo, até que a pessoa chegue num estado de “zumbi” com uma listra no pescoço, similar a uma veia, que estranhamente brilha no escuro.


 Fonte: Internet/Reprodução
 

No decorrer da série, os personagens principais, Fran (Iza Moreira), Alex (Caio Horowicz) e Chico (Michel Joelsas), vão em busca de uma explicação e uma solução para a infecção, enquanto enfrentam seus próprios conflitos pessoais e familiares. Desigualdade social, questões de sexualidade, drogas, desentendimentos familiares e luto são as principais temáticas de plano de fundo da série, que fazem parte do cotidiano dos jovens de Progresso.

 

A doença da série, também remete aos anos 1980, quando a AIDS se popularizou. Ambas as doenças são transmitidas pelo contato íntimo, inclusive há um momento na série em que, para evitar o contágio e ainda assim ser possível beijar outras pessoas, os jovens passam a usar uma espécie de máscara de proteção, que é chamada de “camisinha de boca”. Assim como a infecção pelo vírus HIV não tem cura 100% comprovada, a doença de “Boca a boca” também não há uma cura.

Mas a principal semelhança entre essas epidemias é o preconceito: os principais afetados pela AIDS nos anos 80, foram a população LGBTQI+, pessoas em situação de rua e prostitutas(os). Por isso surgiu o estereótipo de que qualquer pessoa pertencente a um desses grupos estaria infectada e passaram a ser discriminadas e rotuladas como aidéticas.

Na ficção, apesar de ocorrer de uma maneira diferente, o preconceito também se faz presente, pois pessoas com histórico de “promiscuidade” eram taxadas como infectadas, mesmo sem comprovação. Inclusive o personagem Chico, por vir de outra cidade, é taxado de disseminador da doença, mesmo não tendo sido infectado; apenas pelo fato de ele ser de fora, representar o novo, o desconhecido, ele sofre tais acusações.



Fonte: Internet/Reprodução
 

Apesar dos temas importantes que são debatidos, o enredo de “Boca a boca” não é o que chama mais a atenção dos espectadores, mas sim o seu visual.  Do mesmo modo que “3%” (outra produção brasileira da Netflix), a série de Esmir Filho foi feita utilizando elementos que extrapolam a cultura brasileira para despertar interesse no exterior. Excesso de luz neon, elementos psicodélicos e raves em meio a um ambiente rural chegam a ser contrastantes, passando uma idéia de produção “enlatada” para ganhar destaque, enquanto o enredo se arrasta para um desenvolvimento.

Mesmo sendo uma série curta, com seis episódios que duram em média 40 minutos cada, a história se torna um tanto entediante por focar em temas desnecessários, enquanto deixa outros em aberto, como por exemplo a questão da “seita” que é mal desenvolvida.

 

Apesar de seus exageros visuais e roteiro mal desenvolvido, a série trata de assuntos importantes, principalmente para a atual situação de crise sanitária. Também conta com um elenco muito bem escolhido, que inclui Denise Fraga e Thomás Aquino (o Pacote, de “Bacurau”). A trilha sonora também não deixa a desejar, pois apesar de conter algumas músicas internacionais, conta com grandes sucessos nacionais da atualidade, como Baco o Exu do Blues e Letrux.

 

Confira o trailer abaixo:

 

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