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15/10/2020 às 17h03min - Atualizada em 15/10/2020 às 16h07min

Escalação de Gal Gadot como Cleópatra reascende debate sobre whitewashing em Hollywood

Notícia trouxe de volta um dos assuntos mais discutidos nos últimos anos na cultura pop

Matheus Machado - Editado por Bárbara Miranda
Fonte: Warner Bros. / Reprodução: Clay Enos / ™ & © DC Comics
No último dia 11 de outubro, o Deadline confirmou que Gal Gadot foi escalada como Cleópatra em novo filme sobre a rainha egípcia. O longa-metragem será dirigido por Patty Jenkins e produzido para a Paramount Pictures.

Atualmente, Gal Gadot e Patty Jenkins formam uma dupla de sucesso. Juntas realizaram Mulher-Maravilha (2017), com Jenkins na direção e Gadot no papel principal, e as funções se repetem em Mulher-Maravilha 1984, que tem estreia prevista para dezembro. A atriz também protagonizará Morte no Nilo, sequência de Assassinato no Expresso do Oriente (2017), filmes baseados na obra de Agatha Christie.

No entanto, a escalação de Gal Gadot como Cleópatra não foi bem recebida nas redes sociais. Depois do anúncio, o whitewashing voltou a ser debatido pelo público. A palavra refere-se ao processo de embranquecimento de personagens não-brancos que acontece em inúmeros filmes hollywoodianos.

Natural de Israel, país envolvido em disputas territoriais, incluindo colonização ilegal de áreas do território Palestino, Gal Gadot foi escalada para interpretar uma personagem egípcia. A questão, porém, torna-se ainda mais delicada porque a origem étnica de Cleópatra é um debate histórico. A rainha é filha de Ptolomeu, general de Alexandre, o Grande na época da ascensão grega. Sua mãe era Cleópatra V Trifena, rainha do Egito e irmã de Cleópatra VII. E por isso, os historiadores ainda falam sobre a sua real origem.

Whitewashing e representatividade

A questão do whitewashing, por sua vez, toca diretamente em outro tema de constante debate na cultura pop: a representatividade. No momento em que uma atriz branca é escalada para um papel não-branco ela não só tira a oportunidade de outra profissional da mesma etnia da personagem poder interpretá-la, como também não dá chance de pessoas se sentirem representadas.

Um exemplo recente de discussão sobre whitewashing é a escalação de Scarlett Johansson como Motoko Kusanagi no filme A Vigilante do Amanhã: Ghost in The Shell (2017). A atriz norte-americana viveu nos cinemas a protagonista do mangá japonês Ghost in the Shell. Na história cyberpunk futurista, Motoko é uma espécie de androide com cérebro humano. No mundo criado por Masamune Shirow a tecnologia evoluiu ao ponto das pessoas se aprimorarem com ela.

Na época, Johansson foi criticada por interpretar uma personagem de origem não-branca, mesmo que na história Motoko seja uma androide. Outro exemplo que pode ser citado para ilustrar a importância da representatividade é o sucesso de Pantera Negra. O filme lançado pela Marvel em 2018 é até hoje uma das maiores bilheterias da história, e traz como foco e rei T’Challa, vivido por Chadwick Boseman – ator que faleceu recentemente por complicações de um câncer.

Em Pantera Negra, o público pôde conhecer Wakanda, um país africano extremamente avançado tecnologicamente. O elenco do filme exalta a importância de representatividade, tendo em sua maioria atores e atrizes afro-descendentes. O cinema, por sua vez, tem um papel importante dentro da cultura, pois ele ajuda a construir um imaginário de retrato social. E com isso, a escalação de papéis importantes vai além de objetivos comerciais.

A escolha de Gal Gadot

Economicamente escolher Gal Gadot para interpretar Cleópatra viabiliza um potencial sucesso de bilheteria para o filme da Paramount Pictures. Nos últimos anos, o estúdio não têm conseguido grandes resultados com seus principais blockbusters. Baywatch: S.O.S Malibu (2017) não obteve grande arrecadação nas bilheterias, faturando apenas US$ 177,8 milhões no mundo todo; A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell, que teve um orçamento de US$110 milhões, conseguiu vender US$169 milhões em ingressos pelo mundo. Números baixos e que geraram prejuízos ao estúdio.

Trazer Gal Gadot para trabalhar novamente com Patty Jenkins é uma estratégia inteligente do estúdio para promover um filme realizado por dois dos principais e mais bem sucedidos nomes da atualidade. Mas dar margem a discussão do whitewashing pode gerar também um boicote do público, algo que aconteceu com a adaptação live action de Ghost in the Shell.

Apesar das polêmicas levantadas pela escalação, a atriz não se manifestou sobre as acusações nas redes sociais. Mas em um tweet ressaltou que o filme trará a “história pela primeira vez através dos olhos das mulheres, tanto atrás quanto na frente das câmeras”. Nas manifestações contrárias a escolha de Gadot para interpretar a personagem, os usuários da plataforma relembraram o serviço obrigatório da protagonista no exército israelense e da guerra declarada por Israel contra o Egito há 50 anos.

A escalação de Gal Gadot como Cleópatra é mais um capítulo da polêmica dos whitewashing, que busca, na verdade, uma representação correta de personagens e ícones históricos no cinema. Há décadas a nomeação de atores e atrizes brancos para papéis não-brancos em filmes hollywoodianos é recorrente e segue sendo impulsionada por inúmeros fatores, sendo o principal deles o econômico.


REFERÊNCIAS 


JR., Mike Flaming. ‘Cleopatra’ Epic To Re-Team ‘Wonder Woman’s Gal Gadot & Patty Jenkins; Paramount Wins Wild Auction. Deadline. 11 de out. 2020. Disponível em:  <https://deadline.com/2020/10/cleopatra-gal-gadot-patty-jenkins-movie-deal-paramount-pictures-wonder-woman-reteam-laeta-kalogridis-writing-1234595246/> .Acesso em: 15 de out. de 2020.

AFP, Redação. Gal Gadot no papel de Cleópatra gera polêmica e provoca debate histórico. Estadão. 15 de out. 2020. Disponível em: <https://cultura.estadao.com.br/noticias/cinema,gal-gadot-no-papel-de-cleopatra-gera-polemica-e-provoca-debate-historico,70003476097> .Acesso em: 15 de out. de 2020.

GHOST UM THE SHELL. Box Office Mojo. Disponível em: <https://www.boxofficemojo.com/title/tt1219827/?ref_=bo_se_r_1> .Acesso em: 15 de out. de 2020.

BAYWATCH: S.O.S. Malibu. Box Office Mojo. Disponível em: <https://www.boxofficemojo.com/release/rl595559937/>. Acesso em: 15 de out. de 2020.

ARTIGOS. Diversidade no cinema: quais os principais desafios a serem enfrentados?. Academia Internacional de Cinema (AIC). 13 de mar. 2020. Disponível em: <https://www.aicinema.com.br/diversidade-no-cinema/> .Acesso em: 14 de out. de 2020.

HYPNESS, Redação. O maior superpoder no cinema é levar a representatividade às telas. Hypness. fev. 2019. Disponível em: <https://www.hypeness.com.br/2019/02/o-maior-superpoder-no-cinema-e-levar-a-representatividade-as-telas/> .Acesso em: 13 de out. de 2020.

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