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27/03/2021 às 18h30min - Atualizada em 27/03/2021 às 18h14min

Artistas circenses fazem malabarismo para driblar a pandemia

Com renda prejudicada, circos de Belo Horizonte buscam alternativas para continuar levando alegria em tempos de luto

Dara Russo - Editado por Maria Paula Ramos
Michel Becheleni

No dia 27 de março é comemorado o Dia do Circo. A data foi escolhida em homenagem ao palhaço, ginasta e equilibrista brasileiro Abelardo Pinto, ou Piolin, que nasceu nesse dia em 1897. Piolin foi reconhecido internacionalmente e recebeu homenagens de artistas como Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Anita Malfati durante a Semana de Arte Moderna de 1922. Agora, em 2021, além de celebrar a atividade circense, a data evidencia as dificuldades enfrentadas pelo setor durante a pandemia em contraste com sua importância em um momento repleto de luto.

    O ator e artista Rafael Mourão, mais conhecido como palhaço Sufoco, atua profissionalmente no circo há 17 anos. “Minha primeira experiência que me fez interessar com o circo foi aos 8 anos, quando ganhei um kit de mágica que apresentava para a família”, relembra. Aos 14 anos conheceu um malabarista e desde então não parou de treinar, de estudar mágica e de se apresentar com o circo. Hoje, ele tem conversado com diversos circenses sobre a situação do setor na pandemia e coleciona diversos relatos.

    Mourão declara que a renda de seu circo, o Circo do Sufoco, vinha de espetáculos, intervenções e oficinas, que ficaram todos impossibilitados de se executar com o isolamento social. “Iria realizar uma estreia no dia 04 de Abril de 2020 de um novo espetáculo “Atemporal” que teve que ser cancelado. Foram 2 anos de pesquisa e investimento para esse dia”, conta. Essa é uma realidade comum a todos os circos de Belo Horizonte, que sem a renda que vinha do setor privado e da contratação de serviços, buscaram apoio de projetos culturais para conseguir pagar as contas básicas.
 

Adaptação ao isolamento
 

    Logo ao início do distanciamento social, Rafael realizou aulas de circo e lives do espetáculo “Sufoco”, adaptando-os para o meio online. “No início foi difícil mas com o treino e muita pesquisa, desenvolvi uma aula que fosse um bom preparo físico de se fazer em casa com sequências de movimentos acrobáticos”, explica. Já nas apresentações, os circenses lidaram com um grande desafio: mesclar o teatro e o circo com o audiovisual. A proposta híbrida então resultou na estreia virtual de um novo espetáculo, “Atemporal”, no formato de live. 

    O Circo do Sufoco também contou com a ajuda de recursos da Lei Federal 14.017/2020, também conhecida como Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, destinada ao setor cultural diante do estado de calamidade pública decretado pela União em função da pandemia da Covid-19. Com esses recursos, foi realizado um vídeo espetáculo com estreia marcada para o mês de abril. Os circos mineiros também foram amparados pela Rede de Apoio ao Circo de Minas Gerais, que ajudou no acesso aos recursos públicos e no pagamento de algumas contas.
 
Adi Ferreira, é dono do Circo Alonico, professor de circo e atua na área circense a aproximadamente 20 anos. Ele conta que o isolamento social “praticamente assassinou a arte circense e nos levou à falência”. Para ele, não existe um único artista ou circo tradicional que conseguiu dar a volta por cima e se reerguer. Sua empresa artística obtinha renda com a realização de oficinas, aulas, shows e espetáculos. Sem poder realizá-los, a alternativa foi buscar outra atividade. “O circo é uma atividade prática de alto desempenho e risco, o acompanhamento deve ser feito presencialmente”, explica.


Circo Itinerante já enfrentava dificuldades
 

    Os circos itinerantes, aqueles que associamos à imagem clássica do circo, com lonas coloridas, já viviam várias dificuldades para se manter antes da pandemia. Conseguir alvarás e locais disponíveis para recebê-los, são os principais obstáculos enfrentados. Além disso, há o preconceito e a falta de entendimento da população sobre sua forma de vida itinerante. Rafael conta que algumas escolas e hospitais, por exemplo, não aceitavam os artistas por não terem comprovante de endereço. Por lei, circenses e povos ciganos que são itinerantes têm direito a educação e saúde. A Portaria n° 940, de 28 de abril de 2011, do Ministério da Saúde, por exemplo, regulamenta o Sistema do Cartão Nacional de Saúde, e afirma a não obrigatoriedade do fornecimento do endereço de domicílio permanente no caso de população cigana ou nômade que queira se cadastrar.

    A pandemia afetou ainda mais esses artistas, pois os circos itinerantes, em sua maioria viviam e pagavam suas contas com seus espetáculos. “Alguns estão tendo que receber ajuda, tiveram suas lonas, tradições e gerações finalizadas e acabando”, relata Rafael. “Outros não tinham para onde ir sem ter como pagar os proprietários de terrenos. Teve circo que foi roubado e perdeu tudo”, completa. Poucos circos têm acesso a leis de incentivo por não terem estrutura de internet, computador, comprovante de endereço e capacitação. Locais como lares de idosos e instituições que eram beneficiadas por alguns circos com alimentos e doações, agora fazem o oposto e ajudam os circenses com sua alimentação e suas contas. 

    Mesmo em meio a dificuldades, os circenses afirmam que em tempos atuais, onde presenciamos o aumento da tristeza, do luto e de doenças psicológicas, o circo se mostra ainda mais importante. Para Adi, o circo está presente no imaginário de todo ser humano e “manter o circo vivo é manter uma peça fundamental do "quebra cabeça" chamado vida”. Rafael ressalta a  função da arte em levar alegria, diversão, reflexão e emoção para as pessoas e afirma: “um ótimo remédio para os tempos atuais, é o sorriso”. Os circos Atiare`s Cirkus, Roxane Circus, Circo Robatiny, Família Gambiarra, Olímpico e Circo Mágico Show também contribuíram nas respostas a partir de entrevistas realizados pelo projeto Arena de Palhaços (Nº:0859/2018) viabilizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte - Fundação Municipal de Cultura e do patrocínio da MGS - Minas Gerais Administração e Serviços.

 

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