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17/05/2021 às 16h35min - Atualizada em 17/05/2021 às 16h12min

O cordel como retrato da cultura regional

Nadiane Santos - revisado por Jonathan Rosa
Xilogravura utilizada na abertura da novela Cordel Encantado . (Foto: Reprodução/Globo)

"Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa.” A frase de Ariano Suassuna resume o objetivo dos cordéis, textos de linguagem simples e com histórias engraçadas que registram o modo de vida das pessoas do Nordeste brasileiro. 
 
Os textos de cordéis surgiram em Portugal no séc. XII. Nessa época, cantigas eram feitas e penduradas em varais. Com a colonização, esses textos chegaram ao Brasil e se popularizaram no Nordeste como forma de registar os costumes regionais. Os textos possuem uma linguagem simples e retratam situações do dia a dia. Por isso, a maioria das cidades nordestinas, costumam ter cordelistas que registram o que acontece no local: festas, feiras ou os grandes acontecimentos do interior. Após isso, os cordéis são transcritos em livrinhos de várias cores e distribuídos para a população.

Assim como no passado, as feiras de cordéis ainda existem. Isso porque, desde a infância, é comum que crianças leiam esses textos nas escolas e aprenda a importância cultural da leitura deles. Já jovens, eles mesmos passam a participar e organizar tais eventos.

O estilo de escrita do cordel, trazer consigo elementos regionais que englobam o modo de falar, roupas, falas, festas e paisagens, sendo por isso comumente usados como inspiração para peças de teatro ou filmes. “O Auto da Compadecida” (2000), dirigido por Guel Arraes, por exemplo, é um clássico de Ariano Suassuna e eterniza a saga de João Grilo e Chicó em busca da salvação. 



Além de nomes conhecidos como Suassuna, há também escritores de cidades pequenas com grandes obras produzidas. O trecho abaixo é do cordel “Primeiro helicóptero em Anagé” escrito por Fozin. Nele o cordelista conta de forma humorada, sobre a chegada do primeiro avião na cidade do interior da Bahia em 1979. O texto traz consigo não só o evento, mas também nomes de pessoas conhecidas da cidade, o que faz que com que ele registre uma memória coletiva do lugar. 
 

O primeiro helicóptero que chegou em Anagé

Eu me lembro muito bem e conto para quem quiser 

Foi o maior Fuzuê capaz de enlouquecer homem, menina e mulher

(...)

Dona Henriqueta rezava e ao mesmo tempo corria de encontro a Dona Hilda que a mesma coisa fazia

Chamando so por Jesus rezou trinta credos e oitenta ave-marias.

 

Outro ponto importante são as ilustrações utilizadas. Conhecidas como xilogravuras, elas representam uma técnica milenar feita com madeira, canivete para desenhar e tinta preta. Tais desenhos são depois passados para folhas de ofício e transformadas em capas e imagens que ilustram e dão vida às histórias.
 
Com citado por Ariano Suassuna no início, arte é missão e festa, e essa é sem dúvida a missão dos cordelistas. Imersos na cultura local eles registram aspectos da cultura, nomes, acontecimentos e transformam também em outras formas de arte como teatro e cinema. O cordel é, portanto, uma arte coletiva que envolve os escritores, desenhistas e toda a população que ouve as histórias e as repassa para as futuras gerações como forma de preservar a memórias e estilo de escrita da região.

 

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