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05/06/2021 às 16h06min - Atualizada em 05/06/2021 às 14h07min

Plataformas de streamings dividem opiniões ao investirem em super-heróis mais humanos

Ivan Fercós - Editado por Ana Terra
Se você viu os lançamentos das plataformas de streaming focadas no público geek, certamente, percebeu como as histórias engessadas dos super-heróis foram inseridas a narrativas do cotidiano, em uma tentativa de gerar empatia e representatividade por parte do público. Parece que os roteiristas e diretores dos grandes estúdios andaram nos últimos anos ocupados com a difícil lição de transformar personagens fictícios em seres reais, sem parecer forçado.

Desde que o mundo é mundo, ouvimos histórias de batalhas guiadas entre o bem e o mal. O que os contos não falavam é como essa briga do estar certo ou errado poderia ser visível, e que a maior das batalhas aconteceria na cabeça de cada um. Nas primeiras histórias de super-heróis nos foi apresentado um ser quase místico, inabalável, dono de habilidades extraordinárias que passava maior parte do seu tempo defendendo a ordem e a justiça. Enquanto conciliava com a farsa de ter uma vida normal repleta de dores e perdas, além de passar um dia exaustivo no trabalho.

Ninguém consegue viver 24h sendo um modelo de boa conduta e caráter. Todos temos falhas, traumas ou alguma história de que não nos orgulhamos muito bem. Nos romances, novelas e contos é fácil tropeçarmos nas linhas e parágrafos que narram seres intocáveis, longe de falhas, e que claramente não existiriam. Qual sujeito não gostaria de ter super poderes? Mas teria um super herói em seu dia a dia conflitos pessoais, desilusões amorosas, brigas familiares e ao menos uma vez na vida se questionado o motivo de sua existência? O porquê de lutar tanto por aquilo que muitos admiram e, no entanto, são poucos os que põe em prática. A sede por justiça vale a pena até que ponto?

Não é de hoje que o gênero drama vem ganhando os enredos das séries de super-heróis. Mas somente após as últimas produções dos canais a cabo e plataformas de streaming, que ficou perceptivo aos menos atentos a tentativa de deixar tais personagens com ares mais sensíveis, mostrando suas fraquezas, medos e ambições.

Umbrella Academy (2019)


Diferente de tantas abordagens envolvendo heróis, a trama de Umbrella Academy da Netflix, mostra a decadência dos seus personagens. Aqui temos heróis sendo tratados como “humanos comuns”, com problemas realmente de uma família, ainda que totalmente disfuncional.

O roteiro neste ponto acerta ao fazer um equilíbrio de momentos de ação, aventura, romance e um pouco de comédia. Praticamente, acompanhamos pessoas normais com super poderes, invés de, super heróis clássicos. Um exemplo de sensibilidade na abordagem de Umbrella, vem na figura da “número 7”, vulgo Vanya, que se apaixona por outra mulher. A delicadeza em naturalizar a relação homoafetiva sem impersexualizar ou marginalizá-la, foi perfeita.


O Legado de Júpiter (2021)

Também produzida pela Netflix, narra os conflitos entre duas gerações em torno do código que os regem, os proibindo de matar e usar os seus super poderes para dominar a humanidade.

Outras subtramas apresentadas são a dos personagens: Brandon e Chloe. Brandon sofre constantes pressões por não se sentir digno do legado do pai. Enquanto Chloe se queija da falta de representação paterna durante sua infância e adolescência, consumindo de forma destrutiva altas quantidades de drogas.

Com 38% de aprovação no Rotten Tomatoes, a série de apenas 8 capítulos é considerada fraca, pois nenhum dos subtemas é abordado profundamente, deixando o sentimento de vácuo a quem assiste. O Resultado foi o cancelamento da produção que se encerra na primeira temporada, deixando grandes questionamentos e dúvidas a todos que a acompanharam. 

The Boy’s (2019)


A produção da Amazon Prime mostra como um grupo de super-heróis podem sucumbir ao luxo, poder e notoriedade. Numa sátira cheia de soberba e humor negro. Talvez tenha bons momentos mais pontuais, mas de fato é um produto medíocre e tão genérico quanto a maioria das produções atuais do gênero.

O acerto da série está em seus exageros firmados desde o primeiro capítulo, como a falta de compromisso com o “politicamente correto”, utilizando-se de extrema violência, sem nenhuma moral ou valores de uma sociedade correta. Além de como desenvolve os seus subtemas os justificando para o enredo maior.

É perceptível como a indústria do entretenimento tem dado destaque para figura do anti-herói. Exatamente por ser um protagonista falho, que perturba com suas fraquezas e imperfeições, um ser realista, que o público pode se identificar com suas contradições, justificando seus deslizes.

Algumas narrativas pecam por falta de maturidade ao levantar pautas mais complexas para determinados públicos, reforçando a violência e perseguição a grupos marginalizados. Há espaço para representatividade, no entanto, não bastam boas cenas de ação regrados a efeitos especiais de última geração, sem haver ao menos a preocupação estratégica sem revisar todas as brechas deixadas em seus roteiros. Pois, para encantar não terá outra oportunidade.

 
REFERÊNCIAS:
FRANÇA, Atila. Atila França Blastingnews - Netflix estreia a série ‘O Legado de Júpiter’. Blastingnews, 2021. Disponível em: <https://br.blastingnews.com/sociedade-opiniao/2021/05/netflix-estreia-a-serie-o-legado-de-jupiter-003319196.html>. Acesso em: 1 de jun de 2021.

OPS, Igor. THE BOYS | Uma sátira louca e divertida do lado podre dos super-heróis! Protocoloxp, 2021. Disponível em: <https://www.protocoloxp.com.br/critica/the-boys-uma-satira-louca-e-divertida-do-lado-podre-dos-super-herois-critica-1a-temporada/>. Acesso em: 1 de jun de 2021.

RANTIN, Cristiano. O Legado De Júpiter: Mark Millar Revela Como Stan Lee Inspirou A História. Legião dos Heróis, 2020. Disponível em: https://www.legiaodosherois.com.br/2021/o-legado-de-jupiter-mark-millar-netflix-entrevista.html>. Acesso em: 1 de jun de 2021.

TECMUNDO. Entenda as diferenças entre herói, anti-herói e vilão nos filmes e séries. Tecmundo, 2020. Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/minha-serie/157906-entenda-as-diferencas-entre-heroi-anti-heroi-e-vilao-nos-filmes-e-series.htm#:~:text=J%C3%A1%20o%20anti%2Dher%C3%B3i%20est%C3%A1,em%20outros%20%C3%A9%20extremamente%20encantador.&text=Ali%C3%A1s%2C%20quando%20o%20anti%2Dher%C3%B3i,profundas%20que%20ele%20pode%20deixar>. Acesso em: 1 de jun de 2021.
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