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11/06/2021 às 00h39min - Atualizada em 11/06/2021 às 00h25min

Peaky Blinders: a verdade por trás da gangue britânica

Diferente da ficção, os membros não eram tão sortudos

Júlia Victória - Editado por Ana Terra

Inglaterra, 1919. O ambiente pós-guerra era pesado e de soldados feridos e marcados pelos conflitos. A cidade de Birmingham sofria com as consequências econômicas, pessoas extremamente pobres e políticos corruptos. A situação era hostil, menos para a família Shelby. Os líderes de uma gangue de apostas ascendiam em meio aos reflexos da Primeira Guerra, sem a interrupção de rivais ou mesmo da polícia.Os Peaky Blinders formavam uma espécie de autoridade local e intimidavam a todos.

 

Essa é a história da série da BBC, disponível na Netflix, criada por Steven Knight e protagonizada por Cillian Murphy. A trama tem um fundo de verdade, já que Birmingham realmente foi habitada por um grupo chamado de Peaky Blinders. Mas além do fato de eles terem existido, o que mais é verídico entre a ficção e a vida real? Segundo Knight, quase nada.

 

Em entrevista à Royal Television Society, o autor da série diz que a ideia de criar esse universo veio da infância do pai, que era sobrinho dos membros de uma gangue que agia na região. Knight conta que, um dia, entregando uma mensagem,seu pai foi ao encontro de oito homens sentados ao redor de uma mesa. Havia uma pilha de dinheiro e todos estavam vestidos de maneira imaculada, usando boina e com armas no bolso.

 

Esses homens eram provavelmente os Peaky Blinders originais. Diferente da série, a ascensão dos gângsteres não se deu depois da Primeira Guerra Mundial e sim no fim do século XIX, por volta de 1890, bem antes da batalha. Segundo o historiador e escritor de “The Real Peaky Blinders”, Carl Chinn, a influência do grupo começou nessa época e caiu em 1910, quatro anos antes dos conflitos. 

 

A outra divergência está relacionada à origem do nome dos integrantes. Ao pé da letra, “peaky” significa afiado e “blinders”, deixar cego. Na trama, os integrantes usavam boinas com navalhas para cortar seus rivais em algum tipo de retaliação ou desentendimento. Mas isso é mais uma lenda. Os membros realmente usavam as boinas, contudo, elas não possuíam nenhum objeto cortante costurado ao tecido. “Peaky”, então, seria apenas pelo formato do acessório que parecia cortante e “blinder”, no inglês britânico, é uma gíria para definir quem anda bem vestido.

Peaky Blinders / Reprodução: Rolling Stone

Peaky Blinders / Reprodução: Rolling Stone

Os Peaky Blinders foram compostos por homens entre 12 e 30 anos, que residiam em bairros violentos de Birmingham. A principal característica presente tanto na ficção quanto na vida real é o corte de cabelo, que era particularmente radical: “curto por toda a cabeça, exceto por uma parte na frente que era mais comprida e penteada na testa", como cita Philip Gooderson, escritor do livro “The Gangs of Birmingham”.

O corte à moda “Peaky Blinders” é um dos grandes desafios dos atores que interpretam os irmãos Shelby. Eles descrevem a transformação como brutal por se tratar de um visual muito diferente do comum.

Sempre bem vestidos, eram facilmente identificados por todos. Não eram muito discretos e passaram a ser conhecidos pelas suas constantes brigas e confusões. Em 1898, o grupo se envolveu em um dos casos relevantes: o assassinato do policial George Snipe.George foi ao encontro dos blinders que haviam bebido e brigado durante toda a tarde. Um dos membros, o jovem gangster William Colerain, ofendeu o policial que, por sua vez,quis prendê-lo por desacato. Os colegas de William não concordaram com a atitude e atacaram George. Em um momento, um tijolo foi arremessado na cabeça do agente, que teve o crânio partido em dois e morreu algumas horas depois do ocorrido. Foi o que contou o historiador Andrew Davies para o podcast da BBC, History Extra.

Diferente da série, os Peaky Blinders não eram extremamente organizados e estruturados. Pelo contrário, eles coordenavam algumas apostas ilegais, realizavam extorsões, grilagem de terras, fraudes, roubos e assaltos. Além de muitos batedores de carteiras e brigas de rua.Mas o que faltava em ordem, era compensado com a violência. Mesmo sem as navalhas, usavam as ponteiras de ferro das botas, cintos com fivelas pesadas, bastões de madeira, barras de ferro e canivetes para ferir seus adversários.

No início do século XX, o bando ainda tinha autoridade soberana na Inglaterra, até que chegou a Primeira Guerra e com ela mais inimigos. Entre eles, a gangue Birmingham Boys, liderada por Billy Kimber. Na série,é retratada de uma maneira consistente e mais próxima da realidade.  No entanto, apesar de Billy Kimber ter existido,ele nunca teve um encontro direto com Thomas Shelby, ao contrário do que é mostrado na produção.

Thomas Shelby / Reprodução: Twitter @Etlândia

Thomas Shelby / Reprodução: Twitter @Etlândia


Os Birmingham Boys tomaram o controle da cidade das mãos dos Peaky Blinders, que acabaram se descentralizando. Nos anos 1930, outro bando , que também é apresentado na série, deu mais um passo para acabar definitivamente com o grupo. A gangue de Sabini dominou a cidade de Birmingham e fez com que os poucos blinders remanescentes se mudassem para áreas rurais da Inglaterra.

Assim a história dos Peaky Blinders perdeu força e se tornou, por alguns anos, motivo de vergonha para as pessoas que chegaram a fazer parte. Graças às memórias afetivas de Steven Knight, o passado dos blinders foi resgatado e pode ser transformado nessa narrativa muito bem sucedida que fez fãs tanto na Europa, quanto em outros países.

REFERÊNCIAS

HALLS, Eleanor; BOSTOCK,Will. The Peaky Blinders are a romanticised myth. BBC, 2016. Disponível em: . Acesso em: 11 jun. 2021.

PALOPOLI, Ygor. Peaky Blinders: Conheça a história real e as principais diferenças da série. Adoro Cinema, 2019. Disponível em: . Acesso em: 08 de junho de 2021.
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