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06/06/2019 às 11h24min - Atualizada em 06/06/2019 às 11h24min

Doramas: Uma cultura diferente a ser assistida

A televisão asiática sempre esteve em evidência na cultura pop por causa dos animes, mas outros tipos de programas estão começando a ter popularidade aqui no Brasil, conheça detalhes cruciais para quem quer começar a ver doramas, as famosas novelas asiáticas.

Ana Paula Figueiró - Editado por Bárbara Miranda
Foto: Divulgação/veiculação - Google Imagens

Programas de televisão sempre atraíram todo tipo de público, sejam homens, mulheres, adolescentes ou crianças, é comum consumir esse tipo de conteúdo midiático. Somos atraídos pela a fantasia da história fictícia, que encanta e até nos leva a uma realidade diferente da nossa. Além dos programas de entretenimento, filmes e animações/desenhos, as séries e novelas sempre estiveram em um lugarzinho especial no gosto popular, seja ela brasileira, americana ou mexicana, todas conseguem alavancar o seu público desejado.

O público brasileiro, principalmente as mulheres, variam muito sobre suas preferências, e uma delas entrou em evidência no ano de 2019 (com uma forcinha da netflix), elas estão consumindo conteúdos um pouquinho diferente do nosso, produtos do mercado televisivo oriental, os dramas ou doramas (como preferir chamar).

 

Para nos contar mais sobre esse mundo, entrevistamos a youtuber e dorameira de carteirinha, Manu Gerino, do canal Coreanismo. Ela mantém um canal sobre a cultura coreana, mas também não deixa de falar sobre a Ásia em geral. Polêmica às vezes, ela mostra sua visão mais adulta e experiente para o seu público, que vai de pré-adolescentes à mulheres maduras.

Manu acompanha doramas há 13 anos, sua paixão começou em 2006 com os dramas japoneses, os primeiros DVDs foram emprestados por uma amiga da faculdade. “Eu sempre gostei de anime e tokusatsu, então foi bem orgânico começar a assistir doramas”, explica. O canal nasceu apenas 10 depois, quando começou a estudar coreano e se interessar pelo Kpop (pop coreano).

Formada em teatro, ela sempre gostou de se comunicar através de histórias, e pelo youtube encontrou um jeito diferente de voltar a ter contato com a carreira que gostaria de ter seguido. O foco inicial do canal era música, mas aos poucos passou a ser doramas e filmes asiáticos.

Dramas ou doramas?

Existem duas denominações para as novelas/séries asiáticas, Drama e Dorama. Para entendermos melhor, Manu nos explica sobre o que seria exatamente cada uma, que segundo ela, são exatamente a mesma coisa, na verdade são até a mesma palavra. Drama é a palavra original, em inglês, que significa "interpretação" e Dorama é a pronúncia de um japonês. Na língua japonesa não existe encontro consonantal, então eles precisam colocar esse "o" entre o "d" e o "r" para pronunciar a palavra.

Algumas pessoas entendem que não se deve chamar as produções coreanas de doramas, o correto seria k-dramas ou dramas coreanos. “Eu particularmente não vejo diferença. Dorama não é uma palavra japonesa, é apenas uma pronúncia japonesa de uma palavra em inglês.” explica a youtuber. Na Coreia, a pronúncia também não é drama, pois também não existe encontro consonantal em coreano, o comum é ouvir deurama. “Se for para seguir uma lógica, o correto então seria chamá-los de deurama. Além disso a pronúncia coreana é muito mais similar a dorama”, completa.

No Brasil, ao falar de um drama é comum especificar qual é o seu país de origem. Manu explica que para as palavras drama ou dorama, deve-se especificar como dorama coreano, chinês, japonês, taiwanês, assim por diante. Se você usa o termo "k-drama", o correto é "c-drama", "j-drama", "tw-drama". A lógica só não se aplica às novelas/séries da Tailândia, pois o país tem uma palavra própria para suas produções, a lakorn.

Altos e baixos das obras asiáticas

Sabemos que toda obra nos dá exemplos e mensagens, que são levadas por toda vida. Manu afirma que “arte é basicamente isso, retratar a sociedade e propor desenvolvimento”. Quando a arte se alinha ao produto, sabemos que alguns são apenas para entreter, mas outros são para agregar. Toda obra contém seus pontos negativos e positivos e com as obras orientais não seria diferente, após anos acompanhando esse mercado, a youtuber comenta sobre alguns:

 

“Uma das coisas mais negativas que já presenciei assistindo doramas é como alguns comportamentos machistas e tóxicos são romantizados. Existe um clichê muito comum do homem rico e poderoso, que "não sabe amar" (ou seja, que é extremamente grosso e muitas vezes violento), e a menina pobre e doce, que vai sofrer no começo, mas depois o amor prevalecerá. Essa relação entre o dinheiro e o amor, além do fato de a mulher ter que sofrer e continuar investindo em um relacionamento tóxico, é muito problemático.”

 

Malu alerta que ainda vivemos em uma época onde o feminicídio é muito alto, onde muitos homens acham normal fazerem agressões psicológicas e físicas contra mulheres. “Ter doramas que romantizam estes abusos e gerem em mulheres a sensação de que esses relacionamentos abusivos são normais me entristece bastante”, desabafa.

 

“As coisas positivas são muitas. Primeiro o fato de que aos poucos estamos vendo esses clichês tóxicos morrendo. As obras coreanas de 2017 pra cá estão falando ativamente de abuso e agressão contra a mulher, relacionamentos abusivos e feminismo. Vemos casais saudáveis sendo formados, como em Mulher Forte, Do Bong Soon, Because This is My First Life, A Poem a Day, Romance is a Bonus Book, etc. Também é positivo o contato que temos com uma cultura diferente da nossa.”

 

A youtube destaca um ponto que não muito comum no ocidente. “Vemos afeto entre homens (amigos, pai e filho, irmãos) de uma forma que não temos nas obras daqui, vemos uma tradição de se respeitar o mais velho e de se cuidar do mais novo, uma sociedade que tem o costume de ver os amigos como parte da família. São valores muito bonitos da cultura deles que podemos tentar trazer para a nossa vida”, Finaliza.

E o preconceito?

As redes sociais nos abriu um leque para conhecermos outras culturas e pessoas de vários países, como também deu voz a alguns preconceituosos e chatos de plantão. A nossa entrevistada sempre teve gostos diferentes e não muito similares aos dos seus amigos e parentes, mas afirma que não sofre tanto preconceito, pois sabe contornar as situações. “Se falo para alguém sobre um dorama e a pessoa acha estranho, pergunto se ela só assiste TV nacional. Normalmente a resposta é não, e assim a pessoa percebe a contradição de me julgar por gostar de algo estrangeiro quando ela também gosta”, explica.

O brasileiro sempre consumiu conteúdo estrangeiro, como filmes em inglês de hollywood e até um pouco em espanhol, por meio das novelas mexicanas, então não iria ser agora, no século XXI, que as línguas orientais, como o japonês, chinês ou coreano, iriam ser um empecilho. “Quando falo de um grupo de kpop e a pessoa me pergunta se sou fluente em coreano, pergunto se ela escuta Justin Bieber e se é ou sempre foi fluente em inglês”, dispara Manu, sempre com uma resposta pronta na ponta da língua.

Coisa de adolescente

Caso digam que Kpop ou dramas é coisa de adolescente já temos uma resposta para refutar essa ideia, a youtuber lembra que Beatles, Kiss e Elvis também eram, Michael Jackson e Justin Timberlake surgiram de boybands. “Não é de todo tipo de preconceito que a gente consegue fugir, mas desse a gente consegue,” brinca.

Ela conta que sempre foi de ir sozinha no cinema ou em shows, desde a adolescência. “Isso fez com que eu nunca desenvolvesse uma necessidade de aprovação dos outros nesse quesito. Acabo não sofrendo preconceito pela forma como me coloco diante da situação”, finaliza.

Muitas pessoas acreditam que as produções asiáticas são consumidas apenas por adolescentes, afirmando que todo o seu público é infantil. “Não é um pensamento sem fundamento, mas é um pensamento ultrapassado. No começo de qualquer onda, quem está lá são os adolescentes”, comenta Manu. Adolescentes não se prendem muito tempo a uma única coisa, a internet está suas mãos e eles não têm medo de experimentar algo novo.

Mesmo o público jovem sendo o primeiro a ter contato com o novo, a internet veio para globalizar as relações e hoje qualquer pessoa, seja criança ou adulto, pode estar acessando e conhecendo conteúdos de outros países. Não existe mais fronteiras para a arte, filmes, séries, músicas ou qualquer outro conteúdo, tudo está ao alcance de todos.

Manu explica: “A Netflix é uma febre, uma empresa de visão mundial. Ela não apenas exibe obras gringas, mas investe e exibe obras do mundo para o mundo. É como se ela tivesse permitido que, de repente, várias culturas se intercambiassem (sic). Graças à Netflix, hoje tenho um público +40 muito maior.”

Indicações

Para aqueles que resolveram dá uma chance, que querem começar agora ou apenas aumentar sua listinha de “dramas a serem assistidos”, a entrevistada deixa sua opinião sobre o melhor e o pior dorama, da sua longa lista de obras assistidas e analisadas por seu olhar crítico (para quem quiser saber, veja os vídeos do canal Coreanismo):

“O melhor dorama que já assisti até hoje foi Because This is My First Life. A história falou muito comigo. Fala de uma jovem que está infeliz no trabalho, que quer recomeçar e apenas viver uma vida tranquila. Ela vê amores arrebatadores como uma ilusão e se sente muito mais atraída pela ideia de ter alguém do seu lado que a mantenha segura, que converse com ela, que faça companhia. Na verdade, o drama fala muito mais do que isso. Fala sobre amor, casamento, trabalho, solidão, violência contra mulher, sobre ter mais de 30 anos e sobre sonhos. É muito lindo.”

“O pior é Playful Kiss. É a história de uma menina que tem baixíssima auto-estima, que de repente começa a gostar do melhor aluno do colégio, que não tem uma única qualidade além de ser o melhor aluno. A história não é contada para percebermos como a relação que se cria é abusiva. A história é contada para acharmos que o relacionamento deles é lindo, que ela é chata e insistente, e ele é frio porque não aprendeu a amar. Não é uma história saudável. Coloca as conquistas acima do caráter; que ‘tudo bem’ a mulher sofrer violência de quem ela ama, que o homem tem o direito de descontar em uma mulher suas frustrações de forma violenta; coloca a vítima do abuso como insistente e o agressor como mocinho. É um dorama que me ofende muito, não recomendo a ninguém.”



Caso queira conhecer mais:
Instagram: Manu Gerino - Doramas, cinema! (@coreanismo)
Twitter: Manu (마누) Coreanismo (@coreanismo)
Facebook: Coreanismo (@coreanismo)
Youtube: Canal Coreanismo
Blog: Manu Gerino


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