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29/06/2021 às 21h29min - Atualizada em 30/06/2021 às 10h00min

Podcast | "Cunversa pra boi dormir" discute a cultura amazônica

Focado em histórias locais, episódios abordam temas sérios de forma descontraída para todo o Brasil.

Thayene Freitas - Revisado por Mário Cypriano
Logo do podcast - Imagem: Reprodução / Instagram

Garantia de boas histórias é ouvir os “causos” da região onde nascemos. Sempre tem alguém com um bom papo para contar, pois, se tem uma coisa que o povo gosta é de “cunversar” sobre os mais variados assuntos, tudo junto e misturado. E de onde será que vem tanta história? Antes, era tudo no boca a boca, ao redor da fogueira. Depois, boa parte delas vinha do rádio. O que se ouvia no aparelho era assunto entre as pessoas.

Inspirados nesses costumes, um grupo de quatro amigos se uniu para fazer um podcast e contar os causos de Manaus e região de uma forma leve, descontraída e regada de boas risadas. Assim nasceu o ‘Cunversa Pra Boi Dormir’.
 

Mas, afinal, que raios é o podcast que se ouve falar tanto hoje em dia? 


O podcast é um arquivo de áudio em um formato mais livre. Uma espécie de programa de rádio sob demanda, que nasceu das premissas do aparelho e não era muito utilizado como meio jornalístico. Talvez não fosse (ainda) pensado como tal, tendo em vista que o jornalismo ainda estava muito enraizado nos meios de comunicação tradicionais: impresso, rádio e TV. Mas, percebendo a mudança do público na forma de consumo das mídias, os produtores de conteúdo mergulharam nos podcasts, criando materiais diferenciados, colocando temas atuais em debate, uma extensão de alguma matéria que saiu na televisão ou os mais diversos assuntos como autoajuda, humor, programas educacionais e muitos outros.

Na sociedade, na política, no esporte, e no cotidiano. Em todo lugar, há sempre uma boa (ás vezes nem tanto) 'cunversa pra boi dormir' que merece ser discutida. Assim dizem os amigos Danilo Egle, pesquisador, Dante Graça e Mário Adolfo Filho, jornalistas, e o administrador Maurício Teixeira, criadores do podcast ‘Cunversa pra Boi Dormir’.
 

 

E assim começou a "cunversa"


Para escrever sobre o ‘Cunversa’, bati um papo com os Jornalistas Dante Graça e Mário Adolfo Filho, além de alguns ouvintes do podcast. Também escutei o programa, que me trouxe boas risadas e lembranças das histórias contadas pelos amigos.

Mário Adolfo conta que a ideia surgiu em uma conversa entre ele e o administrador Maurício, amigo de muito tempo. Músico, Maurício tinha alguns equipamentos de áudio, incluindo uma mesa de som, microfones, cabos e outros acessórios. Logo, os amigos resolveram dar um novo destino aos aparelhos. 


Muitos podcasts nascem com pouca estrutura. Alguns, até pelo celular (meu produto de TCC foi um deles). No caso dos amigos, além da vantagem de um bom equipamento, viram a oportunidade para criar um podcast, aproveitando a visibilidade que Mário, Dante e Danilo alcançaram nas redes sociais durante a pandemia do Covid-19.

Mas será que Manaus teria público para o programa? Esse foi um dos questionamentos antes da criação. Mário e cia analisaram outros podcasts da região, o que ajudou na hora de criar um formato que não tornasse o produto chato, que não contribuísse em nada.
 

‘’Nosso objetivo é provocar a reflexão sobre os temas, passar informações relevantes e fazer as pessoas rirem e se divertirem pelo menos por aquele momento. A referência é o Nerdcast, um podcast da primeira década dos anos 2000 e que faz muito sucesso até hoje. Chegamos ao formato de bate-papo, como se estivéssemos em uma roda de conversa mesmo. Se fizermos as pessoas rirem, prendemos a atenção delas. Se for um papo chato e torto, o público não volta mais’’.

Mário ainda comenta que conversam diariamente sobre possíveis temas por meio de um grupo no Whatsapp. Dante completa afirmando que a escolha do tema é tranquila e que na gravação de um episódio já decidem a temática do próximo.

O episódio piloto do "Cunversa pra boi dormir" fala da cloroquina, um remédio sem comprovação científica contra a covid-19. Um assunto um tanto polêmico, mas tratado de forma leve. Para os amigos, existe a preocupação de levar temas sérios de maneira descontraída, sem ofender as pessoas. 
Dante diz que falar de assuntos polêmicos de forma leve é um grande desafio, mas a intimidade e a amizade entre a equipe permite que isso aconteça. “É uma linha tênue, mas acho que temos bagagem suficiente para saber discernir as situações. As redes sociais nos dão este termômetro no dia a dia, sobre até onde ir e onde não pisar”, conta Mário.
 

Os bois de Parintins


Ouvir o programa nos deixa com uma saudade da cidade de Parintins…ou melhor, do Festival Folclórico, da disputa dos bumbás Caprichoso (o touro negro) e Garantido (para mim, boi contrário ou encarnado)...é aquilo: ‘’só quem sabe, viveu”. Estar na Ilha Tupinambarana (Ilha da Magia) e sentir toda a energia em torno do festival é bom demais. 

Com a pandemia, em 2021 chegamos ao segundo ano sem o festival. Para quem ama, vive, trabalha, faz a cobertura do evento e vai sempre a Parintins, a saudade é maceta (gigante). Fazer um episódio sobre o tema foi a forma de matarem a saudade. Segundo os integrantes do Cunversa, as pessoas precisam ir ao menos uma vez na vida ao festival e sentir a emoção na pele. Mário expressa que é sempre um prazer falar de Parintins, e quando os amigos se unem para isso, torna-se ainda melhor. Também fala que esse é o episódio mais engraçado da primeira temporada. Concordo, pois dei muitas risadas ouvindo essas boas 'cunversas'. Saudades Parintins.

Além de Parintins, a cloroquina, as festas clandestinas e Amazonas versus Pará são outros temas discutidos pelos quatro amigos.
 

 

A "cunversa" dos ouvintes


Quem ouve o podcast lembra de histórias próprias, enquanto se diverte e dá boas risadas. Além disso, também tem muito o que conversar, como notei ao entrevistar três ouvintes: Jerry Dias, Remys Silva e Luciana Ramos.

O grupo conheceu o programa
 através das redes sociais dos criadores do programa, onde ainda fazem a divulgação. Nenhum deles tinha o hábito de ouvir podcast. Inclusive, Jerry afirma que consome apenas uns 8 episódios variados por ano, pois não costuma se prender no formato. Até gosta, mas sente que os assuntos são muito distantes da sua realidade. Não é o caso do "Cunversa", que é local e se assemelha a um bate-papo que teria com os amigos.

Remys já ouve um pouco mais, pois é assídua do "Não inviabilize", que conta histórias de pessoas reais. Anteriormente, já havia escutado também o "Item 19 - O podcast das Galeras", sobre os bois de Parintins, lançado por Dante Graça. Sobre o "Cunversa", menciona as boas lembranças que teve ao ouvir o episódio que cita a Fucapi (instituição de ensino), pois é ex-aluna da escola. A nostalgia de Remys também atinge Luciana, que lembra dos principais acontecimentos em Manaus enquanto escuta o programa. 
 

 


A origem do nome


Mário conta que a escolha rendeu uma boa noite de conversa. Primeiro, pensaram em algo que remetesse a Manaus, mas esbarraram no termo "Baré" (muito manjado, batido). Foi quando Danilo sugeriu "Conversa pra boi Dormir", e foi unânime. Mais tarde, optaram por colocar a letra U na 'cunversa', pois, é a forma como o “caboco” fala.

O nome também dá título a um livro de crônicas sobre o Festival Folclórico de Parintins, de autoria de Mário Adolfo, referência e inspiração na vida do filho que leva o seu nome e se tornou jornalista por sua influência. Juntos, estão atualizando o livro, escrevendo novas crônicas e pretendem lançar em um ou dois anos.
 

O que seria uma "cunversa pra boi dormir"? 


Segundo os ouvintes, trata-se de uma história verídica, que às vezes acontece mesmo, mas quando é contada não parece real. Uma conversa boa de ouvir, mas difícil de acreditar. Pode também ser traduzida como papo furado, estória de pescador ou conversa fiada. É aquela conversa, geralmente divertida, que escutamos, mas não sabemos se é verdade ou não.

O jornalista Mário Adolfo Filho faz o convite para que todos ouçam e conheçam podcast:
 

"Pessoal, se vocês quiserem rir, ter informação e conhecer um pouco sobre os bastidores do mundo jornalístico, indico o podcast Cunversa pra Boi Dormir. Lá, contamos nossas experiências pessoais e, via de regra, sempre falamos sobre o mundo da comunicação. Ouçam, critiquem e divirtam-se”.

Como é bom ouvir uma boa conversa não é? E quando ela te faz lembrar histórias, lugares e sentimentos é ‘’chibata no balde” (muito bom). Manauara ou não, a risada e a satisfação é certa.

O podcast está disponível nas plataformas de streaming e as temporadas terão 10 episódios. Após finalizarem a primeira temporada, os amigos pretendem gravar a próxima no segundo semestre.

Te convido a escutar o programa e, quando essa tempestade da covid passar, também tente visitar Manaus, cidade do sorriso e do calor. Garanto que terão muitas "cunversas" para contar pelo Brasil afora.


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