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06/10/2021 às 23h24min - Atualizada em 06/10/2021 às 12h13min

Artigo de Opinião: o racismo na teledramaturgia brasileira

David Cardoso - Revisado por Márcia Nascimento
Ruth de Souza e Zezé Motta em 'Corpo a Corpo', de 1984. (Foto: Divulgação/Acervo Rede Globo).

televisão é um meio de comunicação antigo que já recebeu inúmeras atualizações tecnológicas. Na televisão brasileira os produtos de entretenimento como novelas, séries, minisséries são exportados para todo o mundo e algumas obras quebram barreiras e são capazes de parar uma guerra como foi o caso de Escrava Isaura (TV GLOBO), que parou a Guerra da Croácia em seu capítulo final. 
 

Em 1969 quebrando todos os estereótipos a atriz, Ruth de Souza, foi convidada por Daniel Filho para ser a primeira protagonista negra em uma novela, porém, ela não esperava que esse convite se tornaria uma grande confusão. A trama era inspirada no romance Uncle Tom’s Cabin, de Harriet Beecher Stowe, que abordava a luta travada entre escravos e latifundiários do sul dos Estados Unidos na época da Guerra de Secessão. Pai Tomás (Sérgio Cardoso) e sua esposa Cloé (Ruth de Souza), dois escravos, se uniam a amigos nas mesmas condições para enfrentar os fazendeiros e lutar pela liberdade.

 

Ruth aceitou a proposta e deu um show de interpretação, mas o problema iniciou com o fato que Ruth de Souza era negra e nem os telespectadores, nem os colegas de trabalho da atriz se agradavam com isso, tanto que o elenco pediu a retirada do nome dela da abertura e isso foi acatado, eles se recusavam a terem o nome creditado após o dela. Mesmo diante da situação e ficando esquecida da trama por alguns capítulos, a sua personagem voltou e passou a ser diariamente aclamada pelos críticos de TV da época. 
 

Em 1984 na novela Corpo a Corpo, Zezé Motta e Marcos Paulo viviam o casal Sônia e Cláudio, só que nem todos se agradavam com o fato da novela das oito ter um romance inter-racial, foi quando um jornal impresso da época fez uma enquete que dizia: “Será que o Marcos Paulo está precisando de tanto dinheiro para passar por essa humilhação?”. 

O autor Gilberto Braga não se abateu diante das reclamações do público e acabou dando mais destaque a personagem de Zezé Motta e acrescentando mais cenas para outra atriz negra na história, Ruth de Souza. 
 

Somente em 1996 o Brasil teve outra protagonista negra em Xica Da Silva, mas como a história era de uma escrava, ainda não se tinha os atores negros no patamar que realmente era necessário. A história foi protagonizada por Taís Araújo e foi eleita a 6° melhor telenovela brasileira pelo jornal espanhol 20 minutos. 
 

Em 2004 o Brasil teve de fato uma protagonista negra, e foi em Da cor do pecado, uma novela de João Emanuel Carneiro que contava a história de uma mulher forte, que nunca se deixou abater diante das adversidades e conseguiu trilhar o seu próprio caminho. A narrativa foi tão ousada em quebrar os estereótipos implantados pela sociedade que se tornou uma das novelas mais exportadas da TV Globo. 
 

No ano de 2006, Lázaro Ramos foi escalado para interpretar Foguinho na trama Cobras e Lagartos, o personagem cresceu bastante na história assim se tornando o mais lembrado e querido de todo o enredo. 

Em 2009 foi lançada Viver a Vida, mais uma história estrelada por Taís Araújo, escrita por Manoel Carlos. Após dois meses como protagonista principal de Viver a Vida, depois de uma pesquisa, a globo percebeu que o público estava rejeitando a personagem de Taís e todo o núcleo familiar formado por ela, foi então que diferente de Gilberto Braga, o autor da história em questão diminuiu o espaço da atriz na trama e ela acabou se tornando a co-protagonista, perdendo o posto para Alinne Moraes. 
 

Em Viver a Vida foi ao ar uma das cenas mais absurdas da televisão brasileira, onde a personagem de Taís Araújo implora perdão de joelhos a Tereza, personagem de Lília Cabral, e ela esbofeteia o rosto de Helena, o que basicamente que para muitos na época foi considerado como “merecido” tendo em vista que o público estava rejeitando as atitudes da personagem, mas que na verdade só demonstrava o racismo existente na trama. 
 

Rede Bandeirantes nas poucas tramas que já produziu até então não apresentou um/a protagonista negro/a, assim como o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). A Record só quebraria esse paradigma em 2016 com a produção de Escrava Mãe, que foi protagonizada pela atriz Gabriela Moreyra, que atuou brilhantemente com a personagem Juliana e em 2019 com a novela Jezabel, que contou com Lidi Lisboa interpretando a personagem título. 

Ademais, esses atores em algumas situações interpretam pequenos papéis, mas isso é algo que precisa ser mudado, atores negros são antes de qualquer coisa PESSOAS, e independente de cor da pele, o talento ele precisa ser reconhecido e o racismo ser quebrado. O Brasil é um palco para inúmeros talentos e esses talentos negros precisam ser cultivados e apreciados. 
 

As produções precisam de personagens negros como advogados, médicos, empresários, ricos, como pessoas felizes e não menosprezadas pelo racismo imposto, sem estereótipos implantados por uma sociedade obsoleta.
 


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