“Marighella” atingiu o recorde nacional de público em uma estreia desde o início do período de pandemia causado pelo novo coronavírus. A produção que narra a história do guerrilheiro esquerdista que lutou contra a Ditadura Militar de 1964, interpretado por Seu Jorge, dividiu opiniões nas redes sociais. A história narrada aguçou a factual cisão político-ideológica existente no país hodiernamente e e, ao passo que foi alvo de estratégias de boicote por meio de grupos saudosistas ao período de governância militarista, foi também expressão aclamada pela massa crítica ao sistema instaurado em 1964.
Ontem assisti ao filme Marighella. Que soco no estômago, os absurdos que faziam contra a humanidade dos revolucionários, e mesmo assim, a vontade de lutar pela democracia.
— Gi Mueckenberger (@GiMueckenberger) November 21, 2021
Terminei de assistir ao filme em lágrimas, uma mistura de raiva, tristeza mas também de admiração.
Twitter de Gi Mueckenberger. (Reprodução: @GiMueckenberger – Twitter)
Pior é que no filme Marighella é meio que isso aí mesmo: um democrata improvisando a luta armada contra a ditadura.
— Guilherme da Hora (@guilhermehora65) December 4, 2021
É legal como filme. Até emocionante. Mas apaga a figura do quadro comunista revolucionário.
Twitter de Guilherme da Hora. (Reprodução: @guilhermehora65 – Twitter)
Carlos Marighella, figura política homenageada no longa, organizava ativamente confrontos violentos em combate ao regime militar vigente no Brasil na época e, inclusive, foi cofundados da Ação Libertadora Nacional, uma organização de luta armada contra a ditadura. As ações de Marighella nesse sentido foram motivos para o seu assassinato, praticado por agentes da maior organização governamental repressiva, o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), em 4 de novembro de 1969. Nesse sentido, a memória de luta e de ideologias circundantes ao guerrilheiro é polarizadora de opiniões até hoje, fato proporcionador de tamanho alcance do filme e das reações a ele manifestadas nas redes sociais.
Para Wagner Moura, Carlos Marighella representava revolucionários e teóricos que são referências históricas na luta contra esse tipo de regime e, por isso também, é catalizador dessas discussões acaloradas. "Ele era envolto nesse contexto internacional da revolução. É um contexto diferente em que a vontade de combater o autoritarismo, o racismo e a violência, era uma pulsão de vida. A pulsão desse governo e da extrema-direita é de morte", afirmou em coletiva de imprensa de lançamento do longa.
Bruno Gagliasso, na trama, representa o delegado Sérgio Fleury, um dos responsáveis pelo DOPS e por torturas no período, ou seja, interpreta o "vilão" de Marighella. "Eu me inspirei em todos os ídolos do nosso presidente da República: Brilhante Ustra, Fleury, todos esses que a gente abomina me inspiraram para criá-lo", relata o ator ao descrever o processo de incorporação ao personagem e, nesse sentido, criticar a figura central do governo brasileiro. Segundo Bruno, foi necessário o afastamento com o seu núcleo familiar para que conseguisse desenvolver o papel, já que o delegado interpretado possui postura cruel e racista. As gravações do longa afastaram o ator de casa por três meses.
O filme já está disponível na plataforma GloboPlay.