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12/01/2022 às 13h57min - Atualizada em 12/01/2022 às 12h46min

Resenha | Vidas Entregues

O curta-metragem debate a precarização das condições de trabalho e a ausência de direitos trabalhistas e sociais dos entregadores de aplicativos de comida.

Karol Costa - Revisado por Isabelle Marinho
Produzido em 2019, o documentário Vidas Entregues é de autoria de Renato Prata Biar. (Foto/Reprodução: Renato Prata Biar/Youtube)

Atualmente, com a crise no país e com o desemprego aumentando cada vez mais, muitas pessoas “optaram” pelo trabalho informal. Porém, optar não é a palavra certa, visto que grande parte da população que está no trabalho informal, necessita dele para sobreviver. 

O documentário "Vidas Entregues" mostra ao espectador a visão do personagem e faz com que ele se sinta no lugar do entregador. Quando os três personagens principais aparecem (que não são apenas personagens, mas também pessoas da vida real, contando as suas histórias reais) logo pode-se notar que todos os três são negros, dando ainda mais ênfase no que todo o filme quer nos contar.

De acordo com uma pesquisa feita pelo IBGE em 2019, o número de entregadores e motoristas de aplicativo no Brasil é de 13,7 milhões de pessoas. Muitos desses chegam a passar 12 horas ou até mais trabalhando, sem descanso, comendo o que der pela rua. “O segmento de delivery tem sido um dos destaques em geração de ocupação temporária para muitos trabalhadores que entraram para a informalidade durante a crise”, relata o especialista de planejamento urbano da FGV, Walter Capelli.

Esses dados mostram claramente o retrato do Brasil atual: o desemprego e a necessidade das pessoas em não morrerem de fome estão fazendo com que muitos trabalhem até o extremo, não tendo garantia alguma, seja de retorno ou respaldo caso um acidente aconteça, para tentar manter o mínimo de dignidade e suprir as necessidades mais básicas de uma família.

Um dos pontos mais marcantes do documentário é o fato de usarem uma linguagem simples, não só oral como também visual, para contar a história. Entrevistar essas pessoas e deixa elas usarem as suas linguagens coloquiais do dia a dia trouxe proximidade ao espectador.

Outro ponto importante relatado é como as pessoas, além de todo o esforço físico que já fazem tendo que pedalar vários quilômetros por dia para fazer as entregas, ainda têm que “pagar” para trabalhar. A entrevistada Bianca Sousa dos Santos falou sobre o valor do aluguel das bicicletas, que é de R$20 por mês, sem contar as multas que eles acabam tomando, seja por ficar sem usar a bicicleta, seja por devolvê-la fora do horário. Isso faz surgir a pergunta: por que entregadores de aplicativo são muitas vezes chamados de empreendedores?

O Movimento Brasil Livre (MBL), um movimento de extrema-direita, comentou em uma rede social, no começo de 2019, que entregadores de aplicativos eram, na verdade, empreendedores. Esse pensamento, entretanto, é recorrente dentro e fora do sistema de entregadores.

Uma parte da mídia, empresários e outras pessoas que compactuam com esse pensamento, disseminam a ideia de que quem entrega por aplicativo está fazendo seu próprio negócio. Mas o fato de não terem um vínculo empregatício com a empresa que prestam serviço não significa que sejam empreendedores, apenas os deixam sem direitos.

Perguntados se eles se viam como empreendedores, todos os entrevistados disseram que não. Bianca respondeu que se via como uma pessoa desesperada por estar nesse trabalho. Os três personagens preferem, e alguns até são cobrados pelos parceiros, para terem um emprego formal, já que o emprego de carteira assinada oferece tudo o que eles, como autônomos, não têm: um salário certo no final do mês, vales refeição/alimentação, assistência médica/odontológica e INSS.

Fica a pergunta: e o futuro? O futuro é incerto, todos querem estabilidade e um emprego formal, mas nas condições que o país se encontra, não há como saber quando isso acontecerá. Enquanto isso, eles correm atrás do que conseguem para ter uma vida digna e tentar mudar essa situação.

Confira o documentário completo na íntegra:


Documentário oficial Vidas Entregues. (Reprodução: Renato Prata Biar/Youtube)


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