A alguns meses, na telinha da Globo estreou a nova novela das seis, Mar do Sertão, e com ela reacendeu uma nova discussão, a representação da cultura nordestina na mídia. Esse é um debate que a muito tempo vem transitando no ambiente das novelas, desde “Segundo Sol” que para boa parte da população baiana foi um fiasco, afinal a falta de atores naturais do estado e a pouca representação negra foram aspectos imperdoáveis.
Teledramaturgia e Pontos desfavoráveis à questão cultural
Mar do Sertão por mais que tenha dois protagonistas nascidos na região nordeste, Renato Góes e Isadora Cruz, o elenco é majoritariamente composto por artistas da região sudeste, e o sotaque que eles tentam imitar fica um tanto caricato. Além da questão cultural existe outro fator, a pouca representatividade racial, mais de 35 milhões de pessoas pretas residem no nordeste e tal dado não é nem de longe representado na produção.
Vídeo de divulgação da novela 'Mar do Sertão'. (Reprodução: Tvglobo/ Youtube)
Outro trabalho de bastante sucesso é a que finalizou recentemente, Pantanal. A novela teve muita visibilidade, e seus personagens causaram a admiração do público, porém, outro aspecto deixou a desejar, a falta de atores e atrizes matogrossenses. A trama se passa no estado do Mato Grosso, de onde surge o nome da novela 'Pantanal', mas em seu elenco apenas Almir Sater (Eugênio) é natural da localidade.
Em Travessia, nova adição da Globo a programação, em substituição à citada anteriormente, mais uma vez a emissora tem dificuldades de entender e apresentar uma realidade cultural fidedigna a mostrada no cotidiano maranhense. Mesmo trazendo como protagonistas Lucy Alves e Rômulo Estrela, naturais da região nordeste, a produção perde um pouco com a baixa adesão de artistas do maranhenses.
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Outro ponto perceptível nas produções do “plim plim”, é a tendência em retratar a cultura apenas nos cenários e elementos visuais. Existe um excelente trabalho, e não podemos negar, em relação a esses aspectos, os elementos gráficos e a exploração de partes do Brasil. Por exemplo, Pantanal foi trabalhada em cima do famoso pantanal matogrossense, já Mar do Sertão, é marcada pelas belezas de Pernambuco e Alagoas e Segundo Sol conta a apaixonante Bahia. Na mais nova queridinha Travessia, tem exuberantes paisagens do Maranhão.
Tal tendência leva ao questionamento: Porquê os personagens também não podem representar a realidade cultural das diversas e ricas regiões brasileiras?
Reafirmação de preconceitos e estereótipos
O que para maioria é apenas uma falha técnica, para outros é um tema bastante polêmico. Com a falta de identidade cultural gera outros efeitos para a sociedade, como a legitimação de certos preconceitos. Ao limitar certos grupos a determinadas ações e falas em uma novela ou outra produção artística, isso gera uma maior fundamentação para estigmas prejudiciais e cruéis.
A emissora Globo prende a atenção de milhares telespectadores, e “involuntariamente” influencia tanto o comportamento quanto a mentalidade da população. A xenofobia é uma prática muito recorrente nas regiões sul e sudeste, de onde vem a maioria dos personagens das telinhas. Então, apenas o uso de artistas dessas regiões já demonstra a falta de espaços para atores e atrizes de outros estados.
Recentemente, algo surpreendente aconteceu na novela Travessia, uma prática que era voltada para o povo nordestino, de maneira inesperada foi dirigida a parte sudeste. Em uma das cenas da produção, Chiara, personagem de Jade Picon, demonstra ser do Rio de Janeiro por meio de um sotaque perceptiveçmente forçado, a protagonista foi fortemente criticada. O que para eles traria mais autenticidade ao personagem, em contrapartida para alguns telespectadores foi motivo de revolta e indiganção. Irônico não?